Qual é o país que queremos? Embora não seja um ponto de chegada “estático”, já que as sociedades seguem se transformando ao longo do tempo, essa pergunta (que para mim deveria nortear todas as escolhas de políticas públicas e econômicas) tem como objetivo não apenas fornecer uma direção, mas também proporcionar a síntese de respostas diferentes oferecidas por cada um de nós.
Tirando as (espero que poucas) exceções provenientes daqueles que têm o seu estilo de vida calcado no sofrimento alheio, imagino que todas as respostas seriam um formato particular da interpretação do que chamamos de “país desenvolvido”. Poderíamos elaborar neste espaço o que é que gostaríamos de desenvolver para que essa alcunha tenha respaldo, mas prefiro dedicar as linhas da coluna desta semana à um dos principais alicerces dessa jornada: a educação. Seja lá qual for a sua definição de desenvolvimento, e em que pese as esferas não (necessariamente) materiais que ela tenha que satisfazer, dadas as complexas características da sociedade, não consigo vislumbrar caminhos bem pavimentados que escapem por proporcionar uma sólida educação (básica e universitária) com alta qualidade. É preciso educar para desenvolver.
Do ponto de vista econômico, por exemplo, ainda que o progresso tecnológico proporcione oportunidades para aumento da produtividade, ela não irá se materializar sem que os trabalhadores consigam se apropriar das novas técnicas e usar os recursos de maneira mais eficiente. Não basta ter muita gente, é preciso que as pessoas sejam qualificadas. Obviamente, existem considerações do ponto de vista social que já tornariam a educação ferramenta fundamental para que as pessoas pudessem ter uma vida melhor, tanto do ponto de vista individual, quanto coletivo.
Que temos ido muito mal nos resultados gerais da educação no Brasil não me parece ser nenhuma novidade. Os últimos resultados do Pisa são apenas uma expressão dos péssimos resultados que colhemos após décadas de descaso na área. Ainda que professoras/es e profissionais da área tenham feito esforços hercúleos para conseguir proporcionar, em condições tão adversas, o que foi possível aos alunos, não dá mais para contar apenas com o sacrifício dessas pessoas. Precisamos integrar a discussão sobre a educação nas outras esferas dos desenhos de política econômica e pública. Precisamos desenhar oportunidades para que a educação (e as oportunidades que ela abre) sejam acessíveis, de qualidade e integradas com os desafios na nossa sociedade.
Se esquecermos que a educação é fundamental para qualquer passo “para frente” que queiramos dar, seguiremos repetindo os erros do passado: voos de galinha que na verdade são apenas meros “saltos”, porque estamos “pulando” as difíceis tarefas do presente para tentarmos auferir ganhos sem esforço, máxima cuja inexistência deveria ser óbvia. Não existe avanço sem melhorarmos a educação ou o que nos resta é apenas acumularmos tombos ou, na melhor das hipóteses, pousos após curtos períodos. Não é à toa que economistas cunharam a expressão “capital humano”. Assim como o capital físico, os ganhos se materializam ao longo dos anos (mas demoram certo tempo para estarem disponíveis para a produção de bens e serviços) e o seu acúmulo é crucial para podermos oferecer produtos que sejam cada vez mais adequados às sofisticadas demandas da população. Entretanto, assim como o capital físico, é algo que vai se depreciando ao longo do tempo, por isso precisa ser renovado, “reposto”.
Sem compreendermos que qualquer identificação de oportunidade só pode ser acessada com melhora da educação, não adiante muito a vontade e o desenho de políticas públicas e econômicas que objetivem o crescimento sustentado da economia. Ele simplesmente não virá sem as bases corretas.
O Brasil precisa urgentemente melhorar a forma, o volume e a qualidade do capital humano que acumula. Educados, sonharemos. E ao sonharmos, as mais belas oportunidades podem ser identificadas e perseguidas. Sem melhoras na educação, no entanto, estaremos presos nesse eterno pesadelo de baixo crescimento econômico, um pacto de mediocridade que só pode favorecer à um punhado em detrimento da qualidade de vida de toda uma enorme população.