O que a primeira semana do ano nos diz sobre a bolsa em 2024?
Fabrizio Gueratto
O que a primeira semana do ano nos diz sobre a bolsa em 2024?


Em janeiro do ano passado, deparei-me com um texto do Jim O’Neill intitulado " A Better Year for Stock Markets?" ("Um ano melhor para os mercados de ações?", em tradução livre) publicado no dia do meu aniversário. Como é frequente, nas primeiras semanas do ano ocorrem muitas publicações sobre o que esperar para o ano corrente. Isso é verdade na economia, nas finanças, nas relações internacionais, enfim, em diversas esferas. O texto chamou a minha atenção não pela expectativa em si em relação ao desempenho da bolsa dos EUA em 2022, mas pela motivação. O autor afirmou que, via de regra, quando a bolsa sobre na primeira semana do ano, ela acaba tendo variação positiva no ano. Foi aí que eu fiquei super intrigado (a ponto de levar esse exemplo para as disciplinas de econometria que eu ministro). Será que isso é verdade? Resolvi investigar.


Para não ficar apenas em um mercado, considerei três índices, com dados anuais de 1994 a 2022 obtidos no Yahoo Finance: o Ibovespa (Brasil), o Dow Jones (EUA) e o Merval (Argentina). Na primeira semana de 2024, ao considerarmos a variação dos valores de fechamento de 5 de janeiro frente aos de 28 de dezembro, observamos uma quedado Ibovespa de 1,6%, uma queda do Dow Jones de 0,6% e uma alta do Merval de 16,7%. Assim, fica a dúvida: qual é a probabilidade de os índices terminarem com uma variação positiva em 2024 dado o que aconteceu na primeira semana?

Comecemos com o Dow Jones, cujo histórico motivou a heurística proposta por O’Neill. Estimei um modelo de probabilidade apenas com essas duas variáveis (subir ou não no ano explicada por subir ou não na primeira semana). Obviamente, o modelo é simples e incorre nos usuais vieses de variáveis omitidas que aqueles que estudam métodos quantitativos aplicados à economia e finanças tanto conhecem. De qualquer forma, o exercício é ilustrativo. Como a bolsa não subiu na primeira semana, o modelo aponta para uma probabilidade de 69% da bolsa subir este ano nos EUA (inferior aos 79% de probabilidade se o desempenho tivesse sido positivo na primeira semana). Dado que a bolsa subiu em 74% dos anos da amostra, podemos observar que a contribuição para a probabilidade de alta no ano é negativa.

E para a Argentina? Nesse caso, o modelo aponta 87% de probabilidade de alta neste ano (a bolsa subiu em 79% dos anos da amostra) e tem uma capacidade de explicar dos movimentos de alta do Merval consideravelmente maior que nos outros dois casos.

Já para a bolsa brasileira, o modelo não parece ser de grande valia. A probabilidade implícita no modelo, dada queda na primeira semana do ano, é de 58%, sendo que a bolsa brasileira subiu em exatamente 60% dos anos na amostra.

Além das probabilidades, podemos avaliar a capacidade de explicar as altas em cada um dos modelos. Para não entediar o(a) leitor(a) com muitas estatísticas, vou apenas apresentar os resultados qualitativamente: para os EUA, a primeira semana tem uma contribuição bem modesta para explicar as altas do Dow Jones; para o Brasil, essa contribuição é, fundamentalmente, nula. Já para a Argentina, o padrão descrito por O’Neil parece ser algo que valha a pena ser investigado mais profundamente. De qualquer forma, mesmo com todas as dificuldades que o vizinho da América do Sul tem pela frente , parece que a primeira semana trouxe boas notícias aos nossos hermanos.

Importante apenas ressaltar que o exercício (i) foi feito com variáveis nominais, então não considerei se os aumentos foram acima da inflação (nem os custos associados às aplicações em cada uma das bolsas) e (ii) foram feitos como um simples exercício acadêmico, não configurando, em hipótese alguma, uma recomendação de investimento.

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