Ultraprocessados: o doce veneno da modernidade
Reprodução/Pixabay
Ultraprocessados: o doce veneno da modernidade


Eu já comi, você já comeu, todos já comemos. Não sabemos exatamente o que comemos, revelando nossa discreta, bem disfarçada e patética ignorância - muito dela fruto das escolas onde estudamos, que nos ensinam tantas coisas importantes e inúteis, como a dedução da fórmula do movimento retilíneo uniformemente variado. Mas nem tentaram nos ensinar a ler uma embalagem de comida. É mais difícil que aprender japonês Braile.

Hoje é domingo, muita gente não cozinha. E, na hora do jogo, vamos de pipoca de micro-ondas. Que delícia, sabor marcante e untuoso. Fruto de um coquetel de Sódio, Açúcar e Gordura, (SAG), que altera a estrutura dos alimentos.

Para nos ajudar, a Anvisa determinou um padrão de rotulagem, que tenta tornar acessível a todos os “malefícios” desses não-alimentos, que está abaixo:

Padrão de rotulagem internacional:

Nova rotulagem de alimentos
Idec/Divulgação
Nova rotulagem de alimentos


O nome foi dado pelo cientista brasileiro Carlos Monteiro e pelos pesquisadores do Nupens - o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde - USP. Era 2010, quando ele e a equipe criaram o conceito de alimento “ultraprocessado”, que designa toda aquela comida pronta, fabricada com aditivos industriais e que em nada se assemelha a comida de verdade.

Em resumo, os pesquisadores observaram uma queda no consumo de SAG pelas famílias, mas um explosivo aumento da obesidade infantil. Observando os produtos consumidos pelas famílias, perceberam um expressivo aumento de comida pronta ou semi-pronta. E esta comida tem quantidades pantagruélicas de SAG.


Aqui estão os sorvetes, os nuggets, os hamburguers semi-prontos, as bolachas recheadas, os refrigerantes, os yogurts saborizados, as sopas rápidas, os cereais de caixinha, o miojo, o gin e o rum, entre os mais consumidos. Esses alimentos são tão alterados nos processos industriais que perdem qualquer identidade que pudessem ter com produtos encontrados na natureza.

Essas “bombas alimentares” deveriam ter regras de comercialização rígidas, impedindo que se confundam, nas prateleiras dos mercados, com produtos sem ou com BAIXO processamento. Deveríamos restringir a exposição desses produtos a salas reservadas a não-alimentos.

Como não-alimento? Meus nuggets são comidas!

Tem certeza? Carnes de frango de qualquer retalho, especialmente as costas, flocada (aspirada mecanicamente), submetida a alvejante para ficar branca, misturada a farinhas quimicamente preparadas para dar estrutura aerada ao produto e um revestimento que lembra um empanado, mas não é, nunca se queima na fritura.

É extremamente louvável que a Anvisa esteja protegendo os cidadãos e estes também atuem politicamente para se defender das grandes multinacionais e alimentos, exigindo sempre o direito de ser informado sobre o que põe na boca.

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