Olá, gravateiros e gravateiras. Depois da euforia dos 100 mil pontos na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), os investidores tiraram um pouco o pé do acelerador e passaram a acompanhar mais atentamente a difícil batalha política em torno da aprovação da Reforma da Previdência Social. Se o Congresso Nacional aprovar uma boa reforma, as ações têm tudo para subir. Caso contrário, cairão. Porém, o ponto central do meu artigo é outro e independe das mudanças nas regras das aposentadorias. Trata-se do Risco Bolsonaro.
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O presidente da República, Jair Bolsonaro, foi eleito com a promessa de implementar uma agenda liberal na economia. Na minha avaliação, a agenda do ministro Paulo Guedes é muito boa. Se colocada em prática, poderá alçar o País a outro patamar de desenvolvimento econômico. Não há espaço, nesse contexto, para um intervencionismo estatal, que pode ser traduzido por Risco Bolsonaro .
Ao longo de 28 anos de mandato na Câmara dos Deputados, Bolsonaro sempre votou contra medidas econômicas liberais. Na campanha, no entanto, mudou de ideia e começou um “namoro”, segundo suas próprias palavras, com o economista Guedes.
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Como dificilmente alguém muda radicalmente de opinião da noite para o dia, o presidente Bolsonaro tem desferido algumas “caneladas” (expressão dele) na agenda liberal. Tal postura causa calafrios nos investidores e derruba as ações de companhias como Petrobras, Banco do Brasil (BB) e Eletrobras, que têm o governo como acionista majoritário.
O primeiro episódio foi a recente intervenção de Bolsonaro na Petrobras. Sem avisar o ministro Guedes, o presidente da República ligou para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, para reclamar do anúncio do reajuste no preço do diesel de 5,7%. As ações da Petrobras, é claro, despencaram. Dias depois, o governo recuou e autorizou uma alta no combustível de 4,84%, mas o estrago já estava feito.
Nesta segunda-feira (29), mais uma canelada. A vítima da vez foi o Banco do Brasil. Em evento do agronegócio, Bolsonaro pediu ao presidente do BB, Rubem Novaes, que reduzisse os juros para financiar o setor. Apesar da declaração ter sido em tom de brincadeira, as ações caíram naquele momento e depois se recuperaram no mesmo pregão.
Alguém pode salientar que, nos dois episódios, o mal-estar foi totalmente esclarecido. É verdade, mas muitos investidores perderam dinheiro ao vender seus papeis com medo de um intervencionismo econômico. O fato de as ações terem subido posteriormente não significa que os mesmos investidores recuperaram seus prejuízos. Outros podem ter ganhado muito dinheiro com as declarações desastradas.
O presidente Bolsonaro precisa entender que suas palavras têm importância. O cargo de presidente da República exige uma cautela redobrada. Toda vez que a agenda liberal do ministro Guedes for atropelada por declarações intervencionistas de Bolsonaro, a imagem do Brasil será arranhada. E isso não é um mero detalhe num contexto em que o País precisa atrair investimentos estrangeiros.
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O fato de o presidente reconhecer o erro e voltar atrás, deixando claro que a orientação do governo é liberal, ameniza os danos. Mas nem sempre será possível apagar 100% os arranhões. E para os pequenos investidores que colocam seu dinheiro em Bolsa de Valores, vale um alerta básico. As ações de empresas como Petrobras, BB e Eletrobras estão naturalmente mais suscetíveis ao Risco Bolsonaro . Assista a seguir um vídeo sobre a importância da Reforma da Previdência na Bolsa de Valores.