Um tema mencionado com frequência neste espaço merece ser discutido com um pouco mais de profundidade, nem que seja apenas para falar das amarras que mantêm o Brasil imobilizado pela crise
mais profunda de sua história.
Trata-se da dificuldade que muita gente tem para entender que não adianta ficar esperneando nem exigindo que o governo
gaste o dinheiro do povo com a mesma generosidade de antes. Como no poema de Carlos Drummond de Andrade, “a festa acabou, a luz apagou”. E o dinheiro, sumiu.
O orçamento para este ano, que foi elaborado ainda na gestão de Michel Temer, previa um total de R$ 129 bilhões
para as chamadas “despesas não discricionárias”, ou seja, aquelas que não têm caráter obrigatório.
Um total de R$ 32 bilhões (ou quase um quarto do total previsto) não foi nem será gasto não porque o governo é malvado e não quer soltar dinheiro para programas sociais
. A verdade é o dinheiro que não existe. Acabou. Desapareceu. Evaporou e ponto final.
Essa é a mais pura verdade: quase todos os recursos que entram no caixa do Tesouro Nacional vão para o pagamento dos salários dos funcionários públicos. De acordo com o ministro da Economia, Paulo Guedes, a folha de pagamentos
e as despesas com previdência abocanham cerca de 90% de todo o dinheiro disponível.
De acordo com as regras generosas que a lei criou para eles, os salários dos servidores têm aumentos reais
frequentes sem que ninguém possa fazer nada para evitar. Esse é o problema principal. Todo o resto, queiram ou não queiram os defensores dos privilégios do funcionalismo, é secundário.
Pode até existir, mas é difícil encontrar no mundo outro grupo de pessoas que suba na vida não pelo mérito, mas apenas por força da lei que lhe assegura aumentos automáticos
. E que alcance o ponto mais alto da carreira num intervalo tão curto.
A verdade, porém, é que posta ao lado da farra que acontece nos estados, nos municípios e nos outros poderes da República, a administração federal
sediada em Brasília, por mais generosa que seja (e é), tem a austeridade de um convento beneditino comparado a ambiente, digamos assim, mais permissivos e alegres.