Curitiba, até pouco tempo atrás, era considerada uma cidade modelo para testar o lançamento de produtos, pois revelaria com precisão o comportamento da classe média nacional em termos de consumo. Recentemente, no entanto, a capital paranaense tem se notabilizado por outra característica – o comportamento conservador de seus eleitores. A última pesquisa eleitoral, com olhos no pleito de 2026 para governador, mostra que o estado do Paraná – e sua principal cidade em particular – está totalmente sintonizado com a direita.
Liderando as intenções de voto está o senador Sergio Moro, com 41,3%, o que quase lhe garantiria uma vitória no primeiro turno. O único nome da esquerda que surge na pesquisa aparece em um modesto quinto lugar: o pré-candidato do PT, ex-deputado Enio Verri, com 5,2%.
A popularidade de Moro nos revela dois aspectos da sociedade paranaense. A primeira seria o bairrismo, uma vez que a Operação Lava-Jato, encabeçada pelo ex-juiz, foi fruto de uma empreitada sediada em Curitiba. Com popularidade baixa no restante do país, a força-tarefa continua cultuada no estado governado por Ratinho Jr. e turbina os índices do senador Moro.
Ao mesmo tempo, a Lava-Jato também foi abraçada pelo povo paranaense porque fustigava o PT e, em particular, seu líder maior, Luiz Inácio Lula da Silva. O tradicionalismo político que aflorou na população local teve um match perfeito com a investigação chefiada pelo ex-procurador Deltan Dallagnol, principalmente por conta da divulgação da corrupção reinante na Petrobras durante os governos petistas.
Além disso, o Paraná é um dos poucos estados a contar com um grande veículo de imprensa claramente conservador e defensor de conceitos alinhados à direita, a Gazeta do Povo. O jornal, que deixou de circular diariamente em papel no ano de 2017, tem grande audiência e se define da seguinte forma: “Nossa visão é conservadora, defendemos a família, a vida e o empreendedorismo”.
A proliferação de um pensamento mais alinhado ao capitalismo parece ser algo irrefreável no Paraná. Será que esse comportamento revelaria uma tendência nacional no futuro? Dificilmente. O poder das forças de esquerda ainda é muito grande, especialmente na cidade de São Paulo e nos estados nordestinos.
Mas nem o Paraná foi dominado pelos conservadores. O ex-governador Roberto Requião, por exemplo, ocupou o Palácio Iguaçu em três ocasiões. Tive a oportunidade de almoçar com Requião quando ele era governador. Tenso e agressivo, tivemos uma discussão nada amigável sobre a presença de empresas estatais na economia brasileira. Um defensor do estatismo, o ex-governador em 2022 se filiou ao PT, de onde saiu em março deste ano em direção ao Mobiliza. Mas, segundo a página do partido na Wikipedia , a sigla seria de “centro-direita”.
Será que até Requião dobrou-se ao conservadorismo paranaense?