Guilherme Boulos, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, e Ricardo Nunes, atual prefeito da capital paulista
Montagem iG / Imagens: Marcello Casal jr/Agência Brasil e Rovena Rosa/Agência Brasil
Guilherme Boulos, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, e Ricardo Nunes, atual prefeito da capital paulista


A última pesquisa Datafolha, divulgada ontem, mostra um avanço inequívoco das candidaturas de Centro e de Direita. O prefeito Ricardo Nunes marcou 29% de intenções de votos, empatando tecnicamente com o deputado federal Guilherme Boulos, que chegou a 30%. A grande surpresa foi o índice obtido pela candidata do Partido Novo, Marina Helena, com 7%, também empatada com a deputada Tabata Amaral, que registrou 8%.

Como estamos em um ambiente político polarizado, um dado importante para analisar as chances dos candidatos é a taxa de rejeição, especialmente em um segundo turno. Neste caso, o cenário parece melhor para o prefeito Nunes. Boulos ganha por uma boa margem neste quesito, marcando 34% contra 26% do alcaide.


A rejeição de Marina Helena também é uma surpresa, já que ela disputa sua primeira eleição como cabeça de chapa: 18%. Profissionais do Datafolha arriscam uma explicação para os resultados atingidos pela representante do Partido Novo. Eles acreditam que uma parte do eleitorado pode ter confundido a economista com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Isso explicaria a diferença entre suas intenções de voto e as de Vinicius Poit, do mesmo partido (2%), conforme simulação do instituto. “Pode ter havido uma confusão”, disse Luciana Chong, diretora do Datafolha. “Quando as pessoas de fato conhecerem mais os candidatos, isso vai ser resolvido”.

A enquete testou ainda dois cenários alternativos. Nessas duas opções, o empate técnico entre os líderes permanece. A diferença é que Nunes lidera por um ponto percentual quando Kim Kataguiri é removido da disputa, enquanto na outra opção (sem Kim e Tabata) os candidatos de maior destaque empatam com 33%.

Um dado no meio desse estudo faz levantar as sobrancelhas dos analistas: Em agosto do ano passado, cerca de 5% dos eleitores diziam estar sem interesse em acompanhar o pleito para a prefeitura de São Paulo. Passados sete meses, com as candidaturas ganhando as ruas paulistanas, era de se esperar que o interesse pela campanha aumentasse. No entanto, ocorreu o contrário. Hoje, são 24% os eleitores que afirmam não ter interesse pelas eleições municipais na capital paulista.

Esse comportamento é típico de quem não se vê representado pelos candidatos existentes. Evidentemente, esse fenômeno parece ser uma frustração passageira e o índice de desinteresse deve diminuir ao longo dos próximos meses.

O Datafolha não divulgou simulações de segundo turno, mas a julgar pelos resultados de outras enquetes, Ricardo Nunes deve estar na frente por uma vantagem pequena. Essa é a grande diferença entre as eleições para prefeito e para governador em São Paulo. São cerca de 9 milhões de eleitores na capital, com uma boa concentração de petistas e apoiadores de outros partidos de esquerda. Isso torna a eleição bem mais disputada do que o pleito estadual, que conta com cerca de 33 milhões de sufragistas.

Na prática, há 24 milhões de votos em jogo no interior do estado, contra 9 milhões da capital. Com essa distribuição, há mais eleitores moderados e conservadores vindos de fora da capital, que impedem a Esquerda de colocar um inquilino no Palácio dos Bandeirantes.

Mesmo assim, desde que o segundo turno foi instituído no Brasil, a esquerda só levou a prefeitura de São Paulo quando concorreu com candidatos de perfil mais moderado, como Marta Suplicy e Fernando Haddad. Guilherme Boulos está longe desse perfil, embora tente de todas as formas mostrar que não é o mesmo dos tempos em que liderava o MTST, um movimento que promove invasões de propriedade privada.

Mais uma vez, quem vai decidir o resultado municipal é o eleitor de Centro. E, por enquanto, essa parcela do eleitorado parece estar mais propensa a apoiar Ricardo Nunes. Tudo ainda vai depender da campanha propriamente dita, mas o avanço do prefeito nos últimos dias mostra que Boulos terá grande dificuldade para vencer a eleição, especialmente porque seu principal cabo eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também vem perdendo popularidade.

Boulos parece estar padecendo do mesmo mal que Lula: falar de improviso, sem pensar duas vezes antes de dar uma declaração pública. No dia internacional da mulher, por exemplo, ele disse que, caso eleito, iria montar um secretariado com 50% de mulheres. Mas, a formação de seu gabinete, hoje, sugere o contrário. Segundo a página do deputado no site da Câmara Federal (de acordo com dados de 11 de março), ele tem quinze secretários parlamentares — nove homens e seis mulheres.

Assim, fica a pergunta: por que esperar o resultado das eleições para promover a igualdade de gênero?

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