A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
Antonio Cruz/Agência Brasil, Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto


A proposta de ampliar a autonomia do Banco Central, defendida por seu presidente, Roberto Campos Neto, provocou uma reação de praxe: novamente, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, veio a público para espinafrar o comandante do BC. Sem querer discutir a fundo o Projeto de Emenda à Constituição que tramita no Congresso, ela escreveu nas redes sociais que Campos quer “submeter o Brasil a uma ditadura monetária”.

Gleisi foi em frente e atacou: “Os juros exorbitantes do BC derrubaram os investimentos e estagnaram o crescimento no segundo semestre. É uma política monetária que segue ameaçando o país, mas a gente não vê uma linha de crítica na mídia sobre isso”.


Por trás desse blábláblá está o fogo amigo que a presidente do PT dispara de tempos em tempos contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele defende o controle das contas públicas e uma aterrissagem controlada das taxas de juros, pois ainda teme um repique inflacionário – em uma posição de alinhamento completo com o chefe do Banco Central, cujo mandato vai até dezembro deste ano.

Mas vamos nos debruçar sobre os comentários da presidente do PT e ver se eles fazem sentido. O primeiro deles é o de que Campos Neto deseja (vamos repetir) “submeter o Brasil a uma ditadura monetária”. Ora, o BC já possui autonomia e tem o poder de estabelecer a taxa básica dos juros. Se o Comitê de Política Monetária definir um patamar, o mercado seguirá sua determinação. O método seguido pelo Copom, adotado há décadas, não produz uma proposta a ser debatida pela sociedade e sim a decisão de um grupo de técnicos, que avalia centenas de dados antes de proferir um veredito. Portanto, a escolha da taxa de juros é uma deliberação que não permite contestações. Se isso é uma ditadura, estamos vivendo sob esse jugo há muito tempo – e a proposta de ampliação da autonomia do BC pouco interfere neste cenário.

A presidente do PT também argumenta que a política monetária estagnou a economia na segunda metade do ano e inibiu investimentos.

Em primeiro lugar, tivemos no segundo semestre um movimento claro de redução dos juros. De janeiro a julho, a taxa Selic foi de 13,65% . Em dezembro, os juros básicos tinham caído a 11,75% . Portanto, Gleisi está reclamando do ritmo de queda. Ocorre que a inflação na área de serviços e de comércio continua sofrendo solavanco, de acordo com os dados analisados pelo Copom. Além disso, o dinheiro, hoje, é globalizado. Se as taxas brasileiras caírem de supetão, uma parte expressiva do capital investido no Brasil sairá do país e pressionará o dólar. Se a moeda americana subir, a inflação também poderá aumentar. Portanto, a cautela do Banco Central é justificada.

Temos ainda uma questão macroeconômica importante, que Gleisi parece desconhecer (ou ignorar propositadamente): o crescimento do ano passado foi quase que totalmente galgado no desempenho do agronegócio, que se expandiu muito no primeiro semestre, quando se concentram as colheitas de soja e milho. Entre julho e dezembro, sem uma grande produção (por uma questão sazonal), o setor agrícola arrefeceu sua expansão, o que acabou segurando o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto.

Por fim, a diminuição de investimentos na economia brasileira não tem somente a ver com juros altos. A política de arrecadação a qualquer custo do governo, associada a uma política econômica que não privilegia as práticas pró-mercado, é o maior fator de queda nos investimentos produtivos.

Diante disso, existe apenas uma conclusão. Para Gleisi, Campos é o culpado de plantão – e tudo o que ele disser ou fizer será usado contra ele. Resta saber o que irá acontecer a partir de janeiro de 2025, quando o presidente do Banco Central for alguém indicado pelo governo. O fogo amigo vai continuar dentro do PT?

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