Jair Bolsonaro (PL) acena para apoiadores em ato na Avenida Paulista
Reprodução/Silas Malafaia - 25.02.2024
Jair Bolsonaro (PL) acena para apoiadores em ato na Avenida Paulista


No último domingo, a avenida Paulista estava lotada . A Polícia Militar estimou a multidão em 600 mil pessoas (mais 150 mil nas adjacências), enquanto um grupo de técnicos da Universidade de São Paulo, usando drones e inteligência artificial, cravou a marca de 185 mil manifestantes . No fundo, porém, a contagem não importa. Quem viu as fotografias aéreas pôde constatar que a Paulista ficou inegavelmente cheia de gente.

Isso se traduz em apoio incondicional a Jair Bolsonaro? Não necessariamente. Muita gente esteve por lá mais para protestar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que para apoiar seu antecessor – uma insatisfação turbinada pelas declarações desastrosas de Lula sobre o conflito envolvendo Israel e Hamas .

Mesmo assim, o objetivo final de Bolsonaro foi atingido: ele queria demonstrar força política para pressionar o Supremo Tribunal Federal (em especial, o ministro Alexandre de Moraes) a pegar leve com ele na investigação sobre a eventual tentativa de golpe de Estado.


No discurso do ex-presidente, os argumentos contra as evidências foram um tanto frágeis. “O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil”, disse ele. “Agora, o golpe é porque tem uma minuta de decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha a paciência”.

Ao dizer isso, Bolsonaro praticamente admitiu que a tal minuta chegou a ser discutida dentro do governo. E sua promulgação seria o mesmo que um juiz de futebol marcar uma falta contra o ataque de um time e dizer que o motivo foi “perigo de gol”. De fato, o decreto de estado de Defesa está previsto na Carta. Mas não havia nenhuma razão que justificasse tal ato – a não ser a intenção do grupo que cercava Bolsonaro de mantê-lo no poder.

O palanque da Paulista revelou também que a Direita precisa melhorar seus discursos. Tivemos um religioso (Silas Malafaia) falando de política e uma aspirante a política (Michelle Bolsonaro) pregando religião.

Além de maior consistência, a Direita precisa de novas lideranças, já que a sua maior estrela está inelegível até 2030. O governador Tarcísio de Freitas, que pode ser o grande nome do eleitorado conservador daqui para frente, fez o caminho oposto ao de Malafaia: usou ponderação em sua fala, na qual reafirmou a sua lealdade a Bolsonaro. Foi aplaudidíssimo.

Os acontecimentos da semana passada podem ter sido um ponto de virada para a Direita, até então apática com as evidências divulgadas nas investigações da Polícia Federal sobre uma possível tentativa de ruptura da democracia.

Na semana passada, durante a gravação de MONEY REPORT TV, que vai ao ar na quinta-feira, o publicitário Nizan Guanaes disse que os liberais “parecem a Leroy Merlin, pois só falam em reforma”. De fato, liberais e partidários da Direita em geral reafirmam que é preciso segurar os gastos e fazer sacrifícios. Será que esse tipo de discurso cola para a maioria dos eleitores?

Talvez não. Por isso, é chegada a hora de a Direita repensar como deve abordar simpatizantes e indecisos. O capitalismo tem uma série de características positivas que podem ser discutidas pelos políticos – que vão muito além da defesa de um superávit fiscal por parte do governo. A narrativa direitista precisa ser reinventada. Caso contrário, o PT vai nadar de braçada em 2024, nos pleitos municipais, e em 2026, quando haverá novas eleições presidenciais.

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