
A taxa básica de juros da economia deve ser elevada mais uma vez nesta quarta-feira (7) pelo Copom(Comitê de Política Monetária) do Banco Central, segundo a maioria das projeções do mercado financeiro.
A expectativa é de aumento de 0,5 ponto percentual, o que levará a Selic para 14,75% ao ano. O principal efeito prático da decisão é o encarecimento do crédito para consumidores e empresas.
Com a Selic mais alta, financiamentos imobiliários, de veículos e empréstimos pessoais passam a ter custos maiores. A elevação da taxa básica pressiona o custo de captação dos bancos, que repassam os aumentos às linhas de crédito.
"Com a Selic nesse patamar, os financiamentos e empréstimos ficam significativamente mais caros", disse Leonardo Ramos, economista do Portal iG.
"Isso restringe o acesso ao crédito, reduz o consumo e afeta diretamente as famílias que dependem de linhas pós-fixadas ou que já estão endividadas”, acrescentou.
A Selic influencia diretamente contratos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), como empréstimos consignados com taxa variável e linhas de crédito com correção mensal.
O aumento da taxa básica tem efeito imediato nas parcelas desses financiamentos. No caso de empréstimos de longo prazo, o impacto se dá na fase de contratação, tornando o crédito menos acessível para famílias de renda média e baixa.
Queda na oferta de crédito

A elevação também reduz a oferta de crédito. Com juros mais altos, instituições financeiras aumentam a seletividade e o rigor na análise de risco, o que dificulta a aprovação de novos financiamentos.
Segundo dados do Banco Central, a taxa média de inadimplência no crédito livre estava em 3,2% em março de 2024, com tendência de alta caso o cenário de juros elevados se mantenha.
Os impactos também atingem o crédito rotativo, especialmente o cartão de crédito. Embora as taxas cobradas nessa modalidade não estejam diretamente atreladas à Selic, elas seguem elevadas, superando 300% ao ano.
Para Leonardo Ramos, “mesmo que a Selic pare de subir, o crédito rotativo deve continuar com taxas elevadas por conta do alto risco e da margem de lucro dos bancos”.
A decisão do Copom também influencia o comportamento das famílias. O custo mais alto do crédito leva ao adiamento de compras financiadas, reduz a intenção de consumo e contribui para a desaceleração de setores como varejo e serviços.
“Os juros altos desestimulam novas contratações de crédito”, afirmou Ramos. “O efeito é sentido tanto no bolso quanto no comportamento.”
Cenário de cautela
O comunicado oficial do Copom, que será divulgado após a reunião, não deve indicar com clareza os próximos passos da política monetária. A inflação projetada acima da meta e a situação fiscal incerta mantêm o cenário de cautela.
Analistas não descartam a possibilidade de este ser o último aumento do ciclo, mas as próximas decisões dependerão da trajetória da inflação, da atividade econômica e do comportamento do câmbio.
Caso a taxa Selic permaneça em patamar elevado por mais tempo, o endividamento das famílias pode crescer. O aumento dos encargos sobre dívidas pós-fixadas reduz a capacidade de pagamento e amplia o risco de inadimplência.
Segundo o Banco Central, o estoque de crédito às famílias superou R$ 3,9 trilhões em março, dos quais cerca de 42% têm taxas de juros variáveis.
O programa Desenrola Brasil, que renegociou dívidas entre 2023 e 2024, teve impacto temporário. Com a inflação acumulada em 12 meses em 4,9% e tendência de alta, os bancos mantêm cautela.
Projeções indicam que a política monetária poderá começar a mudar apenas no segundo semestre de 2025, caso os índices de inflação e os riscos fiscais recuem.
O Copom divulgará sua decisão oficial após as 18h.