Em sua ata divulgada nesta terça-feira (17) após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central (BC) fez uma série de alertas sobre o cenário econômico brasileiro, destacando que o recente pacote fiscal do governo federal agravou o panorama inflacionário do país . A instituição indicou que, diante deste quadro, será necessário adotar medidas mais severas para combater a inflação, i ncluindo o aumento da taxa de juros.
O BC apontou que as últimas leituras do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostraram uma pressão inflacionária maior, e destacou os riscos de uma moeda depreciada, o que pode prejudicar ainda mais a economia. Além disso, o Banco Central enfatizou a importância de uma desaceleração na atividade econômica e nas políticas fiscais para garantir um ambiente mais estável.
"Com relação à política econômica de forma mais geral, o Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. Em particular, desacelerações são parte essencial do processo de suavização e reequilíbrio da economia. O debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas", disse na ata.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a ata do Copom reforça a postura preocupada do Banco Central com as expectativas de inflação em alta e a resiliência da atividade econômica, que já se reflete nos dados de inflação, especialmente no setor de serviços. Há também uma forte preocupação com a deterioração recente das expectativas fiscais e com o câmbio, temas que ganharam destaque em comparação com atas anteriores.
"Caso o cenário se confirme, o Banco Central deixa aberta a possibilidade de elevar a taxa de juros em um ponto percentual nas duas próximas reuniões, o que permite ao mercado interpretar que o ajuste pode ser ainda mais intenso, se necessário", disse.
"Sobre o patamar final da Selic, anteriormente estimado em torno de 14,25%, a ata deixa claro que a autoridade monetária está disposta a ir além para conter a inflação. Na RB, avaliamos que é cada vez mais provável que a taxa se aproxime de 15%, com uma chance crescente de ultrapassar esse nível, diante do comportamento recente dos preços dos ativos brasileiros", completou.
No encontro da semana passada, o Copom decidiu acelerar a elevação dos juros, com um aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic, que passou de 11,25% para 12,25% ao ano, em comparação com o aumento de 0,50 ponto registrado em novembro. Além disso, o BC sinalizou mais dois aumentos de 1 ponto percentual para os encontros de janeiro e março, elevando a taxa Selic para 14,25% até o final do primeiro trimestre de 2025, o que representaria o maior nível desde a crise que resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A ata deixou claro que a decisão foi tomada por unanimidade entre os membros do Copom, mesmo em meio à incerteza sobre a próxima composição do Banco Central, que contará com a maioria dos indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mudança na liderança do BC, sob o comando de Gabriel Galípolo, gerou especulações sobre o compromisso com as medidas adotadas.
"O Comitê então decidiu, unanimemente, pela elevação de 1,00 ponto percentual na taxa Selic e pela comunicação de que, em se confirmando o cenário esperado, antevê ajuste de mesma magnitude nas próximas duas reuniões."
A decisão também foi motivada pela necessidade de reagir à deterioração do cenário inflacionário no curto e médio prazo e de garantir a convergência da inflação para as metas estabelecidas. O BC enfatizou que, após a materialização de vários riscos econômicos, a ação mais agressiva foi considerada essencial.
A alta do dólar também foi um fator importante na decisão. Mesmo após o aumento dos juros, o preço da moeda americana continuou sua trajetória de alta, renovando seu recorde de fechamento, superando R$ 6,09. Isso ocorreu, mesmo com intervenções sucessivas do BC no mercado cambial, refletindo a complexidade da situação econômica e a pressão sobre as autoridades monetárias.