Dólar
Unsplash/Alexander Grey
Dólar

O dólar bateu o valor recorde em real nesta quinta-feira (29) : R$ 6. A mudança chocante veio após Fernando Haddad, ministro da Fazenda , anunciar o pacote de corte de gastos do governo como forma de manter arcabouço fiscal.

Às 13h20, a moeda bateu R$ 6,002, desacelerando na sequência. Às 16h09, a alta era de 1,17%, com o dólar cotado a R$ 5,983.

Existem alguns motivos para o dólar aumentar. O primeiro deles: é natural haver oscilações quando há mudanças econômicas no governo, e mais ainda quando elas são grandes como a anunciada ontem.

Além disso, a decisão sobre mudar as regras do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) — Haddad diminuiu contribuição isenta para rendas até R$ 5 mil — causou comoção entre economistas e especialistas.

“Em vez de tentar implementar a isenção do Imposto de Renda agora, o governo poderia ter focado apenas no ajuste das contas públicas, deixando as questões tributárias para uma fase posterior. Essa abordagem errada gera um grande nervosismo no mercado, disse Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

Dólar para fora

Ao cortar a tributação de rendas mais baixas, o governo fica com um buraco na contribuição anterior. Então, fica a questão de como suprir. A escolha foi taxar rendas acima dos R$ 50 mil mensais, o que também causou um impacto significativo no valor do dólar .

“A proposta de taxação sobre os super-ricos estressa muito a questão do dólar e provoca uma fuga de capital expressiva, uma vez que muitos investidores com alta renda preferem transferir seus recursos para países que não possuem esse tipo de tributação, como os Estados Unidos e países da Europa. Essa saída de capital contribui para a valorização do dólar,” explicou Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus.

Já Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, vê nisso um cenário tanto global quanto local; por aqui, o problema seria falta de clareza e incertezas sobre o pacote, o que geraria um pé atrás de investidores até se entender melhor as novas regras. Mas há mais de fora:

“Fatores como a volatilidade global, mudanças nos juros dos EUA e preocupações com o crescimento econômico mundial alimentam a busca por ativos mais seguros, como o dólar, enfraquecendo moedas de mercados emergentes, incluindo o real. Essa valorização do dólar impacta diretamente a economia brasileira, pressionando a inflação,” explicou.

Mas Monteiro não vê o futuro decidido, pois isso tem também a ver com a falta de clareza do pacote: "O mercado agora aguarda definições mais concretas na política fiscal e nos desdobramentos do cenário externo para avaliar o comportamento da moeda nos próximos meses".

Erro de cálculo?

Muitos especialistas concordam que a decisão de isenção para salários menores foi um erro. “A medida, estimada em R$ 50 bilhões anuais, supera os cortes de gastos previstos, gerando dúvidas sobre o real compromisso do governo com o equilíbrio orçamentário. O mercado esperava medidas de austeridade para reforçar o arcabouço fiscal, mas o aumento das despesas contraria essa expectativa, pressionando juros futuros e ampliando o risco fiscal. Sem sinais claros de compensação, a volatilidade cambial deve persistir, afastando investidores, afetando custos e a confiança na economia brasileira,” acredita Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.

“Sem medidas claras que reforcem o compromisso com o equilíbrio fiscal e que gerem confiança, a tendência é que o mercado continue a precificar um cenário de risco elevado, o que torna ainda mais desafiadora a recuperação econômica das empresas no país”, completou João Kepler, CEO da Equity Fund Group.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!