A consultoria Janus Hendersen divulgou o levantamento anual das empresas que mais pagam dividendos. Em 2022, a Petrobras estava em segundo lugar entre as maiores pagadoras. Entretanto, a estatal não apareceu na lista das 20 empresas que mais remuneraram o acionista em 2023.
A mudança de políticas de dividendos da estatal, que reduziu de 60% para 45% a parcela do fluxo de caixa livre que seria destinado aos acionistas, acabou provocando a saída da empresa da lista. Além disso, no primeiro trimestre de 2023, a Petrobras acabou tendo uma queda nos lucros.
O Brasil acabou não performando bem no levantamento após os cortes nos dividendos da Petrobras e da Vale. O país teve uma queda de dois quintos no valor distribuído, apesar do bom desempenho dos bancos.
Em um panorama mundial, o valor global distribuído cresceu 5%, somando cerca de R$ 8 trilhões.
A Janus Hendersen informou que a Petrobras cortou em US$ 10 bilhões o volume distribuído em 2023 em comparação ao ano anterior. Em 2022, ela ficou abaixo apenas da mineradora anglo-australiana BHP.
A política atual de dividendos da estatal foi aprovada em junho de 2023. O balanço do segundo trimestre já mostrava uma redução de R$ 5 bilhões no valor pago, em comparação com o modelo anterior.
Outro ponto ressaltado foi a queda nas commodities após cerca de um ano de preços recordes. Isso acabou despencando os resultados de outras empresas grandes, como a BHP, por exemplo, que caiu para a sexta posição.
Entre as maiores pagadoras em 2023, cinco são produtoras de commodities. Segundo o levantamento, a queda da Petrobras acabou afetando o desempenho total dos países emergentes. "Apesar do crescimento impressionante entre muitos dos bancos, os dividendos dos mercados emergentes permaneceram estáveis numa base subjacente, graças aos cortes acentuados no Brasil e ao crescimento fraco na China", diz a pesquisa.
O levantamento aponta que 86% das empresas aumentaram os dividendos ou os mantiveram estáveis em 2023. Mas, com os grandes cortes na Petrobras e outras quatro empresas internacionais (BHP, Rio Tinto, Intel e AT&T), as taxas de crescimento global caíram dois pontos percentuais.
Objetivo
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), diz desde a campanha eleitoral que a Petrobras deve reduzir as distribuições de dividendos, liberando mais recursos para investimentos. A ideia de Lula vai na contramão do que era defendido pelo antigo gestor Jair Bolsonaro (PL).
Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Petrobras possui retornos elevados. Em 2023, distribuiu 79% de seu lucro líquido. O valor é menor que os 90% da Exxon e dos 80% da Saudi Aramco, mas bem acima de Chevron (53%), Total (33%) e BP (30%).
A queda no valor de mercado da empresa aponta que o mercado espera intensificação dos cortes, ainda mais após o conselho de administração da estatal aprovar a retenção dos dividendos extraordinários sobre o lucro de 2023.
A direção pretendia transferir ao acionista, metade do lucro excedente de R$ 43 bilhões no ano. Entretanto, o entendimento dos ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil acabou prevalecendo para haver o poupamento de recursos para investimentos.
Segundo a proposta, é desconsiderado que a reserva de lucros da estatal não pode ser usada para tais fins, demandado uma alteração na Lei das Sociedades Abertas, o que rege as atuações de empresas com ações na bolsa de valores.
Na lei, fica definido a destinação específica para reservas de capital, local que será destinado parte dos lucros da empresa. Com isso, há a absorção de prejuízos, recompra de ações, incorporação ao capital social ou pagamento de dividendos futuros.
O secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, Pietro Mendes, foi quem entregou a proposta de retenção. Ela foi vista com surpresa pelos integrantes do conselho ligados aos acionistas minoritários, que questionam a falta de detalhes.
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