O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai anunciar nesta quarta-feira (22) a definição da nova taxa básica de juros, a Selic. Em meio a pressão de integrantes do governo por redução no índice, a Selic deve ser mantida em 13,75%, segundo projeção de economistas.
A Selic está no maior patamar desde novembro de 2016, com isso, o custo do crédito encarece, dificultando investimentos no país. Se confirmada, essa será a quinta manutenção da taxa Selic nesse nível. A decisão será anunciada por volta das 18h30.
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A reunião do Copom ocorre em meio a incertezas no cenário bancário global, com a quebra do SVB (Silicon Valley Bank), e quase falência do Credit Suisse.
O especialista Bruno Monsanto, assessor de investimentos e sócio da RJ+ Investimentos, acredita que o Copom deve optar pela manutenção da Selic a 13,75% a.a. nesta próxima reunião.
Segundo ele, existe espaço para redução da Selic, mas, para isso, seria necessário que o Ministério da Fazenda apresentasse o novo arcabouço fiscal demonstrando responsabilidade com o crescimento sustentável. Ele acrescenta ainda que o Copom está de olho no exterior.
“Há temores sobre uma crise financeira global, que começou com a quebra do Sillicon Valley Bank, depois o Signature - dois bancos americanos - e, na Europa, com a fragilidade precoupante do Credit Suisse na Europa, que culminou com a compra do tradicional banco suiço pelo UBS. Ainda não sabemos o tamanho do problema e o potencial de contágio. Enquanto o BCE manteve na semana passada o aumento da taxa de juros em 0,5%, conforme expectativas, nos EUA, o mercado já aposta em uma redução do aumento que será anunciado pelo FED na Super Quarta. O consenso antes era de 0,5%, e passou a ser de 0,25%”, diz.
“O Fed até poderia considerar a manutenção nesta quarta, mas o mercado poderia entender essa mudança muito brusca de rota, como um sinal de que a crise é iminente e muito severa, o que poderia desencadear pânico no mercado e piorar o quadro. Neste contexto, podemos ver alguma descompressão no dólar, o que é uma variável importante para termos menos pressão inflacionária no Brasil, pavimentando o terreno para o BC iniciar cortes na Selic nas próximas reuniões", completa
Associação Brasileira de Bancos também projeta a manutenção da taxa Selic em 13,75% a.a.
“Acreditamos que a Selic deva ser mantida, ainda que tenha ocorrido alguns eventos no sistema bancário internacional que trazem riscos consideráveis à estabilidade financeira e ao cenário econômico”, aponta Everton Gonçalves, Superintendente da Assessoria Econômica da ABBC.
Segundo o especialista, no que tange aos fatores de risco, as pressões inflacionárias globais reduziram-se ligeiramente, houve relativa redução da incerteza sobre a evolução da consolidação fiscal do país e os preços das commodities internacionais em moeda local apresentaram queda adicional.
“Sem alterações significativas no balanço de riscos que tivessem um efeito líquido que justificasse uma alteração nas diretrizes da política monetária e um processo de desinflação bem gradual, as expectativas para 2024 mantiveram-se praticamente estáveis”, analisa.
A grande mudança no cenário refere-se aos receios da formação de uma crise financeira que aumentou o grau de imprevisibilidade para a tomada de decisão dos agentes econômicos. “Embora esse quadro possa levar a uma desinflação mais rápida e uma queda mais intensa na atividade econômica internacional, uma valorização do dólar no mercado internacional terá impacto na taxa de câmbio das moedas de países emergentes”, conclui Everton.
Pressão do governo
Nesta terça-feira (21), tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cobraram redução na taxa Selic.
"O Brasil está em uma situação favorável em relação aos seus vizinhos e ao resto do mundo. Nós não temos problemas geopolíticos, como a Ásia e a Europa, nossa inflação está mais controlada que nos resto do mundo. Nossa taxa de juros está exageradamente elevada, o que significa espaço para cortes, num momento em que a economia brasileira pode e deve decolar", disse Haddad em seminário do BNDES.
Já Lula foi mais enfático, dizendo que seguirá “batendo” no BC para que haja redução nos juros reais.
“É irresponsabilidade do Banco Central manter a taxa de juros a 13,75%”, afirmou o presidente em entrevista ao site Brasil 247. “Eu vou continuar batendo, vou continuar tentando brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros para que a economia possa voltar a ter investimento”, completou.
O presidente classificou a taxa de juros estar a 13,75% como "absurdo". "Num momento em que a gente tem o juro mais alto do mundo, num momento em que não existe uma crise de demanda, não existe excesso de demanda", afirmou.