Apesar da deflação geral, produtos de higiene e limpeza sobem quase três vezes mais que o acumulado geral no ano
Anna Shvets/Pexels
Apesar da deflação geral, produtos de higiene e limpeza sobem quase três vezes mais que o acumulado geral no ano

Em meio aos grupos que continuam subindo de preço, apesar da  deflação geral de 0,73% medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do IBGE, não são apenas os alimentos que persistem pesando no orçamento das famílias. Outros duas categorias de produtos essenciais também acumulam altas relevantes: o de itens de higiene pessoal e o de produtos de limpeza.

Dados do IPCA-15 de agosto, que mediu a inflação entre os dias 15 de julho e 15 de agosto, mostram que, no acumulado do ano, o salto no preço dos produtos de limpeza foi o quase o triplo do índice geral: de janeiro a agosto, a variação acumulada de todos os itens pesquisados foi de 5,02%, enquanto o aumento dos produtos de limpeza foi de 13,05%.

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No período, o item que mais subiu foi o sabão em pó, com alta acumulada de 17,66%. Em seguida aparecem o amaciante e alvejante, que subiram 12,90%.

No índice de agosto, o aumento desses itens foi de 1,62%. O detergente ficou 1,78% mais caro, enquanto o sabão em pó subiu 1,98%. Já os amaciantes e alvejantes aumentaram 2,02 e limpadores multiuso dispararam 2,24%.

A Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (Abipla), que representa o setor, atribui a alta de preços aos custos com o transporte, por conta do diesel, e da energia elétrica, principal insumo na fabricação, por exemplo, do cloro. Além disso, a importação de matérias-primas também pesa, principalmente em produtos como os amaciantes e sabões em pó.

"Tivemos uma produção muito satisfatória em 2020 e 2021, mas sem repor a inflação. Esse ano, não tinha mais jeito, a gente tinha que repor", afirma Paulo Engler, diretor executivo da Abipla.

Segundo ele, reagentes importados usados na limpeza da linha de produção e na testagem dos produtos também ficaram mais caros, além das embalagens, como o papelão, usado para acondicionar o sabão em pó e encaixotar os produtos no transporte:

"Imaginamos que tudo isso já passou. Temos visto a redução da energia e também do diesel, então estamos otimistas com o semestre e uma estabilização dos preços. Não enxergamos outras reposição até o fim do ano."

Diarista há dois anos, Tiago Haka, de 35 anos, conta que os clientes têm reclamado do preço de alguns produtos, e procurado alternativas:

"Alguns pedem orientações e estão trocando alguns produtos que são líquidos por pastosos, por exemplo, e até por produtos de marcas inferiores mas que estão mais em conta. Se antes compravam um detergente de ponta, agora estão comprando um de segunda ou terceira linha. Outros, em vez de usar amaciante, estão colocando vinagre de álcool e um pouco de desinfetante com cheiro nas roupas", conta.

Sabonete dispara

Itens de higiene pessoal também ficaram mais caros. No mês, o aumento foi de 1,03%. Produtos para pele subiram 2,9%, enquanto o preço dos sabonetes aumentaram 2,5%.

Já entre janeiro a agosto, a alta acumulada no grupo foi de 11,85%. O principal vilão foram os sabonetes, que subiram 20,95%, enquanto produtos para pele ficaram 18,48% mais caros, e os perfumes, 15%.

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o economista Matheus Peçanha explica que os principais fatores que explicam a alta desses produtos está fora do país, na dependência de matérias-primas e em conflitos como a guerra na Ucrânia e as tensões entre China e Taiwan.

"Esses produtos são de uma cadeia longa de produção, e dependem de insumos de alto valor agregado e do câmbio internacional, por conta da importação de matéria-prima. Tudo isso impacta no preço ao consumidor", analisa: "Nossa inflação de custos já está no radar há dois anos e não tem dado trégua. Mesmo com o índice geral em queda, só três grupos caíram. Numa conjuntura dessas, quanto mais dependente você for de cadeias globais, mais você está sujeito a essa inflação de custos, que impacta todos os segmentos da cadeia."

Assim como a Abipla, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfurmaria e Cosméticos (Abihpec) também atribui os aumentos no setor aos insumos mais caros, principalmente os importados e aqueles que passaram por momentos de escassez, como o sebo animal, usado na produção de alguns sabonetes, por exemplo.

"Em 2021, não havia espaço para repassar preço pois o consumidor seguia com sua despesa mensal crescente e comprometida. A atual situação (2022) é diferente, há um certo “respiro da renda” com a deflação em alguns itens", afirmou a entidade, em nota.


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