Recenseadores aprovados no concurso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para trabalhar no Censo deste ano relatam estar com pagamento em atraso e ameaçam paralisar a pesquisa, prevista para começar oficialmente em 25 dias. Segundo o instituto, os problemas "são de ordem operacional", e não de fluxo de caixa.
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A segunda paralisação está marcada para esta sexta-feira (26), em Salvador (BA) e foi convocada pela União dos Recenseadores do Brasil. A primeira ocorreu já no dia 21 de agosto, também na Bahia.
A possibilidade de greve geral vem sendo orquestrada por meio de redes sociais. Em carta , o grupo diz que os atrasos são frequentes.
"Diversos recenseadores têm nos relatado que não receberam a ajuda de custo relacionado ao treinamento, tão pouco a ajuda de custo relacionada ao deslocamento para executar o recenseamento. Essa falta de regularidade nos pagamentos está comprometendo a execução do serviço, onde uma grande parcela da categoria necessita deslocar-se através do transporte coletivo, local e ou regional", afirma o documento.
Além disso, a categoria solicita a concessão de um valor de ajuda de custo que seja superior ao transporte coletivo
"Exercemos atividade penosa, estamos expostos na rua onde muitas vezes temos a necessidade de comprar uma água ou fazer um lanche para postergarmos o trabalho de coleta."
O estudante de nutrição, Islan Herculano, diz que se inscreveu para poder custear despesas da faculdade e ajudar a mãe que fez cirurgia, mas o atraso nos pagamentos tornou o trabalha um "pesadelo".
"Durante o treinamento que durou uma semana sofri assédio moral por alguns ACS (Agente Censitário Supervisor) e CCS (Coordenador Censitário de Subárea), e na contratação também. Vale destacar que a ajuda de custo prometida só saiu bem após o início do trabalho em campo. Além disso, houve promessa de um valor que seria liberado para locomoção, mas até então não recebi. Já estou no terceiro setor trabalhando angustiado sem nenhuma perspectiva de remuneração", relata.
Segundo ele, o pagamento por produção não está sendo cumprido.
"Já estou no terceiro setor e não recebi sequer o primeiro setor. Infelizmente esse atraso têm me prejudicado muito. Minha parte, que é fazer a coleta das informações, está feita. Só falta o IBGE fazer a dele que é realizar meu pagamento dos setores concluídos", exige.
Em nota, o IBGE "pede desculpas" pelo atraso e promete tentar reduzir os prazos. Veja:
O Censo acontece a cada dez anos, mas o de 2020 teve de ser adiado por conta da pandemia de covid-19. Em 2021, sofreu novo adiamento, por corte orçamentário, mais de 90% da verba prevista foi cortada na tramitação do Orçamento no Congresso.
Após ser obrigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o governo federal liberou R$ 2,3 bilhões para a realização da pesquisa, valor 26% menor que os R$ 3,1 bilhões inicialmente previstos.
A seleção aberta em 2021 previa 183.021 de recenseador, com salário que pode chegar a R$ 4 mil, a depender do número de casas visitadas.
De acordo com o IBGE, mais de 160 mil recenseadores já foram contratados e outros 10 mil estão em treinamento.
As atividades iniciaram a pouco mais de 20 dias e 6.550 recenseadores já deixaram de trabalhar. Nesta quinta (25), o IBGE abriu um novo edital para recontratação destes funcionários e afirmou que as rescisões estão dentro do esperado.