A partir desta sexta-feira (5), o preço médio de diesel vendido pela Petrobras será reduzido em R$ 0,20 por litro, de R$ 5,61 para R$ 5,41, queda de 3,56%. É a primeira redução do diesel desde que Caio Paes de Andrade assumiu o comando da empresa.
Ex-secretário do Ministério da Economia de Paulo Guedes, Andrade é mais alinhado ao Palácio do Planalto que seus antecessores — três presidentes da Petrobras caíram sob Bolsonaro por conta dos preços dos combustíveis.
O Palácio do Planalto e integrantes do governo Jair Bolsonaro, especialmente a Casa Civil, vinham pressionando a Petrobras para mexer no preço do diesel , segundo fontes do Executivo, após duas reduções no da gasolina.
Com desconto no diesel, é mais forte a influência da desoneração dos combustíveis na redução da inflação, que prejudica a popularidade do presidente na busca pela reeleição.
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Nas últimas semanas, a cotação do petróleo no mercado internacional vem recuando. Em meio ao temor de recessão nos EUA e desaceleração da economia global, o preço do barril do tipo Brent acumula queda de 21% em dois meses. Ontem, encerrou a US$ 94,12.
Segundo a Petrobras, a mudança acompanha a evolução dos preços de referência, ou seja, as cotações internacionais, que se estabilizaram em um "patamar inferior". Para integrantes do governo, o anúncio deve consolidar um clima mais favorável na economia para Bolsonaro, que busca a reeleição. A ofensiva contra o preço dos combustíveis passou ainda pelo ICMS, que é um imposto estadual.
Em sua live semanal ontem, Bolsonaro disse esperar novas reduções . Nos bastidores, o governo criticava a Petrobras por não reduzir os preços, mesmo com a queda do petróleo. Auxiliares de Bolsonaro afirmavam que a estatal estava segurando o preço do diesel para "fazer caixa".
Pressão de caminhoneiros
Nas últimas semanas, lideranças de caminhoneiros próximos ao Planalto vinham insistindo na redução do diesel, mesmo após a categoria ter sido beneficiada com um vale mensal de R$ 1 mil até dezembro, dentro da PEC Eleitoral.
A redução do diesel gerou reações diversas na alta administração da companhia. Uma parte considerou a queda correta e técnica por conta do preço do petróleo, mas outro grupo afirma que o recuo não obedeceu os parâmetros de volatilidade e da política de preços.
Uma das fontes classificou a decisão de "interferência política". Na semana passada, durante a divulgação do balanço, o diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Cláudio Mastella, disse que a companhia ainda via o cenário do fornecimento de diesel com "cautela".
Sergio Araujo, presidente da Abicom, associação que reúne os importadores, considerou a redução correta. Para ele, apesar da volatilidade, o risco de uma recessão global vem reduzindo os preços do petróleo e de derivados mundo afora. A Abicom calcula que o diesel estava 10% mais caro aqui do que no mercado internacional.
Sachsida: ponta do iceberg
O ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, comemorou a decisão da Petrobras nas redes sociais. "Redução no preço do Diesel!!!!! Passo a passo e com a graça de Deus os resultados vão aparecendo! Brasil porto seguro do investimento", escreveu nas redes sociais.
Em um evento do setor financeiro em São Paulo, o ministro havia dito que a queda nos preços dos combustíveis era "a ponta de um iceberg" dos efeitos positivos da redução de impostos.
"Estamos vendo a ponta de um iceberg, que é a redução de preço (dos combustíveis). Mas haverá outros efeitos com a melhor alocação dos recursos na economia. Com menos imposto, temos mais produtividade, mais emprego, seja na padaria, no salão de beleza, nas grandes empresas, que vão gastar menos com energia", disse Sachsida.
Petróleo recua a patamares pré-guerra
A perspectiva de desaceleração nas principais economias globais está levando os preços do petróleo de volta ao patamar observado no início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro.
O barril do tipo Brent, referência internacional, encerrou aquinta-feira em queda de 2,75%, a US$ 94,12. Já o WTI recuou 2,34%, a US$ 88,54 o barril.
Desde o pico no ano, registrado no dia 8 de março, o Brent já recuou 26,45%, e o WTI, 28,42%. Naquele dia, no intraday, o Brent encostou em US$ 140, e o WTI chegou a ser negociado a US$ 130. As cotações estão próximas do observado pouco antes da guerra, em torno de US$ 95, no caso do Brent, e de US$ 90, no do WTI. Só nos últimos dois meses, as cotações de Brent e WTI acumulam queda de 21% e 25%, respectivamente.
Dados do governo americano divulgados esta semana mostram que, este verão (no Hemisfério Norte), as pessoas estão dirigindo menos do que no mesmo período de 2020.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) concordou, na quarta-feira (3), em aumentar sua produção em 100 mil barris diários em setembro, ao mesmo tempo em que alertou que a capacidade ociosa de seus membros está "severamente limitada".
O aumento anunciado pela Opep e seus aliados é extremamente modesto, apesar de o presidente americano, Joe Biden, ter pedido um incremento da produção para controlar os preços, durante sua visita à Arábia Saudita no mês passado.
*Com Bloomberg e outras agências internacionais