Inflação alta, queda na renda e juros altos atingem em cheio varejistas na Bolsa
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Inflação alta, queda na renda e juros altos atingem em cheio varejistas na Bolsa

O aumento da inflação e a queda na renda do brasileiro acertaram em cheio as varejistas na Bolsa. Empresas que atraíram a atenção do investidor na pandemia com o salto nas vendas por e-commerce agora patinam ou veem suas ações em queda livre. 

Em 18 meses, os papéis do Magalu acumulam queda de 87,91% . As ações da Via, dona de Ponto e Casas Bahia, recuaram 82% no mesmo período, e as da Americanas, 80,23%.

O baque é maior para as empresas com mais clientes nas classes C e D, de orçamento restrito e menos folga para compras em um cenário de inflação de dois dígitos. O aumento do custo do crédito também afeta mais essa parcela dos consumidores.

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Desde o ano passado, a taxa básica de juros (Selic) passou de 2% para os atuais 13,25% ao ano — e, segundo analistas ainda não atingiu seu pico.

O aumento dos juros também eleva as despesas das empresas, o que torna a conta ainda mais difícil de fechar. Somente no ano passado, os papéis do Magazine Luiza recuaram 71%. Este ano, até a quarta-feira, a queda era de 54,3%. 

Isso fez com que a presidente do conselho da varejista, Luiza Trajano, deixasse a lista de bilionários da Forbes. Na segunda-feira, a empresa enviou um vídeo com Luiza a um grupo de clientes com propaganda do carnê: “Lembra aquele carnezinho gostoso? Em prestações que você pode pagar, e a gente ainda vai dar um descontinho nos juros.”

Sob o ângulo das receitas, o Magalu obteve R$ 8,762 bilhões no primeiro trimestre deste ano, contra R$ 8,252 bilhões no mesmo período de 2021 — um crescimento de apenas 6%, abaixo da inflação.

A Via Varejo também acumula fortes perdas. Em 2021, as ações caíram 67,5%. Este ano a queda chega a 47,6%. Já as receitas encolheram 2% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2021, enquanto o lucro líquido desabou 90%. 

A ampliação dos benefícios sociais neste semestre, graças à PEC Eleitoral, deve dar mais liquidez à economia, avaliam analistas, ajudando as varejistas no curto prazo. O aumento dos preços devido à inflação, no entanto, faz com que o consumidor passe a comprar menos.

"A receita pode crescer porque o preço dos produtos subiu também, mas essas empresas estão vendendo menos em quantidade. Então, não compensa a inflação", explica o professor da FGV William Eid 

Expectativa de melhoria

Mas para Eduardo Yamashita, diretor de Operações da Gouvêa Ecosystem, consultoria especializada em consumo e varejo, a tendência é que as companhias mais afetadas encontrem um cenário mais favorável daqui para frente, com a desaceleração da inflação e o fim do ciclo de altas da Selic, ainda que a taxa permaneça elevada:

"Vamos ter arrefecimento da inflação e, por consequência, aumento da massa salarial, mas ainda teremos a alavanca do custo do dinheiro em patamar alto. Hoje, estamos no pior dos dois mundos, com as duas alavancas jogando para trás. Mas esperamos melhoria a partir do ano que vem."

Ele avalia que as vendas dos itens de necessidade básica continuarão crescendo na média ou abaixo dela, enquanto outros segmentos em que compras foram adiadas devem crescer acima da média, graças à demanda reprimida. 

O estrategista em renda variável da Senso Corretora, João Augusto Frota, lembra que, com a maior concorrência internacional no e-commerce, de Amazon, Alibaba, Shein e Shopee, no ano passado algumas empresas brasileiras aceitaram reduzir a margem de lucro. Mas agora, com a alta dos custos, a palavra de ordem é repassar aos preços tudo o que for possível.

"Vimos um impacto muito forte em despesas para essas empresas, porque elas trabalhavam alavancadas financeiramente". diz Frota. "O mercado já sabe que a inflação vai arrochar ainda mais o consumidor em 2023, além de pressionar as despesas. O efeito vai ser no consumo."

Mas ele vê um cenário melhor para as varejistas este ano:

"Os benefícios que serão dados pelo governo se encerram em dezembro. Mas, como a Bolsa reage muito ao hoje, o cenário para as ações deve ser melhor no terceiro e no quarto trimestres."

Marcelo Ornelas, gestor de renda variável da Kínitro Capital, opina que não há mercado para tantos players e alguns ficarão pelo caminho:

"Essas empresas vivem uma competição assimétrica, em que as margens de lucro desabam. O último aumento de capital do Mercado Livre foi do tamanho da Via inteira."

Fernando Siqueira, head de Research da Guide, afirma que as chamadas empresas de crescimento, que buscam crédito no mercado para se expandir, têm um valor muito alto para o investidor, que só as apoia de olho no ganho futuro. O problema é quando essas expectativas não se concretizam.

"Na média, as empresas do Ibovespa valem 12 vezes o lucro que elas geram. No caso das empresas de crescimento, essa proporção é de 20 a 30 vezes. O Magazine Luiza chegou a cem vezes seu lucro, porque se considerou que iria crescer muito. Esse nível não é sustentável", diz Siqueira. "Empresas cíclicas estão sofrendo aqui e lá fora porque a economia desacelerou."

O grupo Americanas é um exemplo. Embora tenha elevado sua receita líquida em 28,4%, frente a uma alta de 17% das despesas, as ações caíram 58,2% em 2021 e recuam 44,2% este ano.

"Era uma empresa muito cara, negociada de 50 a 100 vezes o lucro, e que não estava crescendo tanto para justificar isso", afirma Siqueira.

Setor de moda sofre menos

Para as varejistas de moda, o horizonte é um pouco melhor. Se na fase mais restritiva da pandemia elas amargaram o pouco interesse de consumidores que não saíam de casa, agora as pessoas precisam de roupa para trabalhar e para os filhos, que cresceram.

Ornelas, da Kínitro, ressalta que varejistas que focaram em classes mais altas não foram tão afetadas. Os papéis da Arezzo, por exemplo, acumularam ganho de 13,9% em 2021 e avançam 4% este ano.

Já a Renner, depois de uma queda de 37,4% no ano passado, deu a volta por cima ao apostar em coleções premium. Desde janeiro, suas ações acumulam alta de 10%.

A Riachuelo, por sua vez, teve desvalorização de 31% em 2021 e de 16,7% este ano.

A C&A, voltada para a classe média, amargou queda de 52,3% no ano passado e, desde janeiro, de 56,2%. A fim de alavancar as vendas, a rede decidiu focar em novidades constantes, com coleções-cápsula a cada 15 dias, de estoques reduzidos e sustentáveis.

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