Estudantes de todo o país começaram, neste ano de 2022, a trilhar um caminho um pouco diferente em suas escolas, com a implementação do chamado “novo Ensino Médio”. A reformulação no sistema de ensino-aprendizagem para essa faixa trouxe uma série de inovações e avanços, mas também suscita questões sobre sua plena aplicabilidade. Enquanto o novo Ensino Médio abre portas e oferece novas possibilidades ao aluno, também corre o risco de aprofundar desigualdades, caso não seja gerido de maneira adequada.
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O novo Ensino Médio deixa para trás a grade curricular rígida e homogênea para todos os alunos e adota os itinerários formativos, que são “caminhos” pelos quais cada aluno pode optar por seguir dependendo de que área tenha mais afinidade, já pensando no seu futuro profissional. Os itinerários abrangerão as áreas de linguagens, ciências da natureza, ciências humanas e sociais e matemática. Apenas Português e Matemática continuam obrigatórias em todos os anos; as demais serão adequadas ao percurso escolhido pelo estudante, que também pode optar pelo ensino técnico.
Sob essa ótica, o novo Ensino Médio se apresenta bastante promissor, posto que resolve um problema da educação tradicional: tratar todos os estudantes de forma homogênea, deixando de lado suas preferências e aspirações. O adolescente, agora, ganha maior protagonismo sobre sua formação acadêmica e pode começar a se preparar melhor para um eventual curso superior que venha a escolher. É importante, no entanto, que sejam ofertadas ao aluno disciplinas que sirvam, de fato, para a vida, como educação financeira e, principalmente empreendedorismo. Este último serve não apenas para aprender a abrir uma empresa, mas como reunir um conjunto de habilidades e competências que fazem toda diferença na formação pessoal e profissional.
Por outro lado, um ponto contestável da proposta do novo Ensino Médio é justamente a oferta dos itinerários formativos. Cada escola ou rede de ensino poderá ofertar diversos itinerários, de acordo com sua capacidade. Aí surge um problema: a diferença de estrutura entre unidades. É de se imaginar, por exemplo, o descompasso entre o que uma escola particular da capital pode oferecer e o que uma pública do interior consegue alcançar. Desta forma, corre-se o risco de criar uma lacuna ainda maior entre realidades, com algumas trazendo ainda mais estrutura para os alunos, enquanto outras permanecem estagnadas. Os reflexos desse abismo social podem se tornar ainda maiores. Para que isso seja atenuado, é preciso ainda mais esforços e investimentos maciços na qualidade da educação pública, para que tenha as condições de oferecer o ensino que todos os alunos merecem.
O novo Ensino Médio é uma realidade e já começa a mudar a vida de adolescentes por todo o país. Daqui em diante, é certo que inconsistências e dificuldades vão surgir, e elas devem ser sanadas com probidade e responsabilidade pelas autoridades competentes. No fim, estamos falando do futuro de nossos jovens, o que é, por conseguinte, o destino do Brasil.