O euro encostou na paridade com o dólar nesta terça-feira (12),
o que não ocorria há quase 20 anos.
A moeda única europeia atingiu a cotação de US$ 1,00005 em relação ao dólar, o menor valor desde dezembro de 2002, para depois se recuperar e atingir os US$ 1,0050.
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A queda nesta terça-feira foi intensificada após a divulgação de indicadores que mostram que a confiança dos investidores alemães recuou ao pior patamar desde o início da pandemia, devido à crise energética no país e o temor de uma alta maior nas taxas de juros pelo Banco Central Europeu (BCE).
Segundo o instituto de pesquisa econômica ZEW, o índice de expectativas econômicas da Alemanha caiu para -53,8 pontos em julho, contra -28 em junho. Mas este foi só o gatilho para a queda mais acentuada do euro nesta terça-feira.
O dólar vem se valorizando frente a divisas do mundo inteiro nas últimas semanas diante da expectativa cada vez maior de que os EUA e outras economias avançadas entrem em recessão.
Mas, agora que encostou na paridade com o dólar, até quanto pode cair o euro? E o que isso significa na prática? Entenda, abaixo, o que está acontencendo com as principais moedas globais.
Por que o euro caiu tanto em tão pouco tempo?
O dólar já vinha em processo de valorização ante o euro e outras divisas fortes há algumas semanas. O índice DXY, que mede o comportamento do dólar contra uma cesta de moedas fortes, atingiu o patamar mais elevado em duas décadas na semana passada e opera, hoje, acima dos 108 pontos.
A divisa europeia vem sendo pressionada pelo início de aperto monetário por parte do Federal Reserve, o banco central americano, que promoveu três elevações consecutivas em suas taxas básicas de juros só em 2022 para conter a inflação elevada.
Enquanto isso, o BCE, que tradicionalmente possui uma postura mais cautelosa, ainda resiste a uma elevação mais firme dos juros. A expectativa é que o BCE promova um aumento na reunião que ocorre neste mês, ainda que de apenas 0,25 ponto percentual.
O que a guerra na Ucrânia tem a ver com isso?
A invasão da Ucrânia pela Rússia e as sanções ocidentais que se seguiram à guerra pioraram as expectativas de crescimento da zona do euro. Os países europeus, sobretudo a Alemanha, dependem da importação de gás russo.
O custo da energia no bloco aumentou muito, pressionando a já alta inflação na região. Além disso, gargalos de logística dificultam a importação de peças e componentes para a indústria local.
Em fevereiro, mês da invasão, o euro operava na casa dos US$ 1,15.
Uma recessão afetaria ainda mais o euro?
O dólar tende a se favorecer em cenários de maior aversão ao risco, como o atual. A possibilidade de desaceleração da economia global, com chances de uma recessão nos EUA e em alguns países europeus, tende a levar os investidores a aportar seus recursos em ativos mais seguros, caso da moeda americana.
"Se de fato acontecer o cenário de recessão, ocorre uma fuga de capital para um ambiente mais seguro. Essa tendência de aumento de juros tornando a renda fixa americana mais atrativa tira fluxo de capital de países estrangeiros", disse o especialista em renda variável da Valor Investimentos, Charo Alves.
Nos últimos dias, a desvalorização do euro ante o dólar foi intensificada pelas preocupações com uma crise energética na Europa, devido à manutenção do gasoduto Nord Stream 1 por onde passa o gás russo. A possiblidade de atraso no processo, como forma de retaliação por parte da Rússia, alimenta os temores de recessão no continente.
Isso significa que a Europa está mais barata?
O euro caiu, mas a inflação na zona do euro tem subido com força. Ou seja, na prática, os preços internos não caíram tanto assim, já que a desvalorização cambial foi repassada para o custo de vida. Em junho, a inflação na zona do euro bateu recorde, chegando a 8,6% em 12 meses.
E, mais do que o atual momento, a desvalorização recente do euro reflete perspectivas negativas para o crescimento da economia europeia.
Na avaliação do especialista da Valor Investimentos, Charo Alves, a possibilidade de uma crise energética agravaria ainda mais a inflação na zona do euro, além de prejudicar o crescimento de forma mais intensa.
"Há a percepção de que a Europa possa sentir mais uma crise do que o próprio Estados Unidos", disse.
O euro vai cair ainda mais?
Segundo analistas que acompanham o cenário de câmbio, a tendência é que o dólar continue a se fortalecer ante a seus pares diante do cenário econômico mais adverso.
Na avaliação deles, mesmo que o BCE adote uma postura mais rígida, ela não seria suficiente para fazer frente ao aperto monetário que já foi iniciado pelo Fed.
"O Fed é mais hawk (favorável à retirada de estímulos) do que qualquer postura que o BCE consiga ter", avalia o gestor de juros e moedas da RPS Capital, Joaquim Sampaio.
Para analistas do Goldman Sachs, a desvalorização do euro pode estimular uma resposta mais dura por parte do BCE no mercado de câmbio.
"Em nossas métricas, o par EUR/USD pode cair mais 5% se as expectativas de crescimento europeu mudarem para nosso cenário de ‘grave desvantagem' de uma interrupção completa dos fluxos de gás russos e as paralisações de produção associadas", destacaram os analistas Michael Cahill e Isabella Rosenberg, em relatório.
Na avaliação deles, o BCE "poderia, em última análise, responder com uma ação política mais forte para se proteger contra uma depreciação mais significativa do euro".
Vale a pena comprar euro agora?
Para o diretor da FB Capital, Fernando Bergallo, aqueles que têm reais disponíveis e estão interessados em comprar euro podem esperar mais um pouco, pois há expectativa de uma desvalorização maior da moeda europeia.
Já para quem possui dólares e tem o intuito de fazer uma reserva de euros para gastos no futuro, o momento pode ser uma oportunidade.
"Não existe uma conversão direta do euro para o real. Para fazer essa operação usando real, eu não acho um bom momento, porque a paridade está 1 para 1, só que o dólar em relação ao real está muito alto. Quando o dólar se desvalorizar um pouco ante o real, o euro vai cair junto. Então, o euro pode cair mais ante o real assim que o dólar ceder um pouco", disse.