Com expectativa de queda nos preços de diesel e gasolina, bancos reduzem projeções de inflação de 2022
Felipe Moreno
Com expectativa de queda nos preços de diesel e gasolina, bancos reduzem projeções de inflação de 2022

O esforço do governo para aprovar mudanças nos tributos a fim de atenuar as altas nos  preços dos combustíveis deve proporcionar algum alívio na inflação deste ano, embora com algum efeito rebote no ano que vem. Esta é a avaliação que vem sendo feita por analistas econômicos, que já revisam para baixo as projeções de inflação deste ano para algo em torno de 7,5% - ante estimativas ao redor de 9%. Para 2023, os números subiram e agora ficam entre 5% e 5,5%.

O Credit Suisse foi uma das primeiras instituições financeiras a anunciar revisão nas projeções. No início deste mês, o banco suíço alterou a expectativa de IPCA de 9,8% para 7,6% em 2022. O corte na projeção foi motivado pelo conjunto de propostas apresentado pelo governo na primeira semana de junho para reduzir os impostos federais e estaduais sobre eletricidade, combustível, telecomunicações e transporte urbano.

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"Para o próximo ano, esperamos que a reversão dos cortes de impostos federais sobre os preços da gasolina aumente a inflação. Assim, aumentamos nossa inflação do IPCA de 5,1% para 5,3% em 2023, muito superior ao centro da meta de inflação de 3,25% e da meta limite superior de 4,75% em 2023., informou o banco. 

Boa parte dos analistas começou a refazer as contas após ser divulgado o resultado do IPCA-15 de junho e de ser sancionada a lei que estabelece teto para alíquota do ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. Também exerce influência sobre o cálculo do IPCA a desoneração do PIS/Cofins de gasolina e etanol, válida até 31 de dezembro.

Conforme mostrou Álvaro Gribel na coluna da Míriam Leitão, o Itaú reduziu de 8,7% para 7,5% a projeção de inflação deste ano por conta da queda no ICMS dos combustíveis, e manteve o número de 5,6% para 2023.

Em relatório, a XP revisou a projeção de inflação para 2022 de 9,2% para 7% em função das novas regras para a cobrança do ICMS e da desoneração dos tributos federais sobre gasolina e etanol. O anúncio veio na segunda-feira (27), após a divulgação do IPCA-15 na sexta anterior.

Tatiana Nogueira, economista da XP, explicou em nota que considera que haverá impactos sobre o IPCA da alteração alíquota do ICMS para energia elétrica e telecomunicações a partir do dia 1º de julho, enquanto para os combustíveis o impacto foi postergado para o dia 15, devido às incertezas e risco de judicialização.

"Para 2023, parte das medidas de desoneração perderá validade e o efeito inflacionário já será visto em janeiro do próximo ano, parcialmente compensado pela menor inércia inflacionária. Além disso, atualizamos as projeções do modelo com expectativas para o próximo ano e uma taxa de câmbio média este ano mais elevadas. O efeito líquido para a nossa projeção de 2023 corresponde a 50 pontos-base, levando ao aumento de 4,5% para 5% [do IPCA em 2023]", explicou Tatiana. 

O Modalmais também revisou as projeções para a inflação após a divulgação do IPCA-15, na última sexta-feira (24). Felipe Sichel, economista-chefe do banco digital, disse que as medidas tributárias aprovadas devem trazer recuos no indicador, principalmente nos preços administrados, que deverão mostrar efeito rebote no ano que vem. A projeção para o IPCA passou de 8,8% para 7,5% em 2022, enquanto a de 2023 foi de 5% para 5,5%.

O banco Original também revisou as suas estimativas. A expectativa de um IPCA de 9,2% em 2022 passou para 8%, capturando o efeito de 1,2 ponto proveniente do teto do ICMS.

"Entretanto, vale mencionar que a medida também traz um “efeito rebote” sobre 2023, o qual estimamos ser de 0,5 p.p. Sendo assim, nossa inflação sairia de 5%, já acima da banda superior das metas de inflação, para 5,5%", afirma Marco Caruso, economista-chefe do banco Original.

Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, afirma que o banco está revisando as projeções para a inflação de 2022 e 2023, mas destaca que as medidas aprovadas como a desoneração PIS/Cofins e o teto do ICMS têm efeito baixista para a inflação deste ano. Ela cita ainda o retorno de impostos para os consumidores de energia elétrica, que pode ter influência sobre o indicador.

"Considerando um repasse completo para o consumidor ainda em 2022, o efeito poderia ser de quase 3 pontos", calcula.

Incertezas pairam sobre projeções de 2023

Marcio Milan, economista e analista da Tendências, também afirma que a consultoria está no processo de revisão das estimativas. Ele prevê, contudo, que a projeção para o IPCA de 2022 caia de 8,5% para algo em torno de 7,6%, com perspectiva de deflação em julho e número próximo à estabilidade em agosto. As incertezas, porém, rondam a projeção de inflação para 2023.

"Esse é o grande problema de uma medida como essa. Fica a dúvida se a medida vai valer só até 2022 ou se esse incentivo político vai ser preponderante nesse sentido. Trabalhando com o cenário de a medida encerrar esse ano, a inflação que tínhamos projetada de 4,5% para o ano que vem vai para a casa dos 5%."

Na contramão do mercado, a CM Capital não vislumbra o mesmo ritmo de desaceleração da inflação. Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, explica que, embora a lei que limita a cobrança do ICMS possua efeito deflacionário sobre o indicador, pesam outros fatores cujos efeitos são inflacionários.

Carla lembra que, após a aprovação do PLP 18, houve reajuste das tarifas de energia elétrica em São Paulo, Rio Grande do Sul, Curitiba e Minas Gerais, cidades de peso no IPCA e cujos aumentos devem trazer reflexos sobre o indicador já no mês de julho. Além disso, pressionam os reajustes das bandeiras tarifárias pela Aneel, com a previsão da corretora de bandeira amarela no final deste ano. Esses movimentos, segundo Carla, reduzem à metade a contribuição deflacionária esperada para a energia elétrica.

"Com a aprovação do PLP, vemos mais movimentos inflacionários do que deflacionários. O projeto prevê reajuste de 50% no valor do Auxílio Brasil, além do reajuste no valor do auxílio-gás e a inclusão de quase 3 milhões de pessoas na base do Auxílio Brasil, o que gera mais pressão sobre os itens mais básicos de consumo."

Ela continua:

"Em última instância, estamos jogando dinheiro dentro de uma economia que no curto prazo tem sua oferta rígida. Por isso temos expectativas de que uma revisão altista no IPCA na casa de 50 pontos percentuais em 2022. Antes da aprovação da PEC, tínhamos expectativa de 8,5%, depois passou para 9%. E ainda colocaria viés de alta", completa Carla, que prevê IPCA de 4,5% em 2023, mas cita incertezas no cenário.

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