Preços de produtos juninos aumentam mais do que o dobro da inflação acumulada em 12 meses
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Preços de produtos juninos aumentam mais do que o dobro da inflação acumulada em 12 meses

Após dois anos de espera, em meio a confraternizações tímidas por conta da pandemia, o retorno do tão esperado São João — que é uma das celebrações mais populares do país — ainda será de restrições, mas, dessa vez, por conta dos preços. Os pratos típicos das festas juninas subiram mais do que a média da inflação deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Com o orçamento cada vez mais apertado, os ingredientes para fazer as bebidas e os quitutes típicos da época aumentaram 13,12% nos últimos 12 meses encerrados em maio, enquanto a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Getulio Vargas (FGV), ficou em 12.27% no mesmo período.

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Se antes era possível comprar um saco de milho por R$ 35, agora, é preciso preparar o bolso para um gasto de quase R$ 70. Um levantamento feito pelo economista da FGV Matheus Peçanha a pedido do EXTRA (veja abaixo) aponta os alimentos que devem pesar mais no orçamento familiar e quais serão mais substituídos nesta época do ano, como milho e amendoim, além dos produtos de hortifruti.

Para o especialista, o cenário econômico ainda é de incertezas, já que, segundo ele, saímos de uma restrição sanitária para entrarmos numa orçamentária.

"O Brasil tem vivido choques climáticos sucessivos praticamente desde 2020. Nesse último choque, chuvas torrenciais nos meses de verão impactaram quase todas as culturas de hortifrutis. Por isso, vimos uma escalada de preços absurda nos últimos quatro ou cinco meses de itens tão básicos como o tomate e a cenoura, que foram os protagonistas desse período, mas também de itens importantes dessa lista como a batata, a couve e a maçã", aponta o economista da FGV/IBRE.

Tradições mantidas

Fernando Torres, de 39 anos, é comerciante há 20. Dono do bar Os Imortais, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, o empresário carioca — que sabe tudo sobre as festas de São João — não via a hora de voltar às celebrações juninas para vender o carro-chefe da casa: o tradicional "kit junino”, que leva salsichão, caldo verde, batida de paçoca (feita com cachaça e leite condensado), milho cozido, pipoca, espetinho de carne de sol e churros com doce de leite. No ano passado, cada um custava R$ 80 (porção para duas pessoas).

Comprando diretamente com os fornecedores, Fernando gastou cerca de R$ 2.500 de material, fechando o período junino, em 2021, com 386 kits vendidos por delivery.

Agora, já diante na expectativa de alta dos preços, o comerciante optou por buscar os ingredientes na Ceasa, em Irajá, na Zona Norte, estimando um gasto de quase R$ 4 mil. A projeção de retorno com as vendas varia entre 15% e 20% do investimento, com a comercialização de cerca de 750 kits. Para isso, o preço foi reajustado. Agora, cada um custa R$ 95. Foi o jeito encontrado por Fernando para pular a fogueira da inflação.

"Tivemos uma mudança na entrega dos cereais e das frutas aqui no restaurante. Eu comprava com o fornecedor e, desde a semana passada, tive que mudar comprando diretamente na Ceasa. Eu comprei um carro de segunda mão, ano 1997, barato, para conseguir transportar os alimentos sem precisar pagar frete. No ano passado, eu vendi tudo por delivery, já que a gente não poderia se aglomerar."

Neste ano, porém, ele espera conseguir vender kits para entrega, assim como receber clientes no próprio restaurante.

"Realmente estou na expectativa de fazer algo mais comemorativo e bacana, mas sei que tenho que segurar um pouco a onda nos gastos, porque os preços estão muito altos. Repassar o preço final para o cliente é sempre preocupante. A gente pode acertar, mas também corre o risco de que eles virem as costas", afirmou o comerciante, que já começou os preparativos para as festas juninas, reorganizando o estoque e recebendo encomendas.

Para Matheus Peçanha, os comerciantes são os primeiros a "raspar o tacho" do orçamento. No cenário atual, não há muitas saídas para os brasileiros que tentam lucrar com a data sazonal.

Razões da alta

Na contramão do que esperavam os comerciantes, o levantamento do pesquisador Matheus Peçanha trouxe resultados desanimadores. Considerando 27 itens alimentícios da cesta do Índice de Preços ao Consumidor (IPC/FGV), pelo menos 12 itens subiram acima da inflação:

  • milho de pipoca (20,95%)
  • leite longa vida (18,03%)
  • farinha de trigo (16,78%)
  • aipim/mandioca (16,03%)
  • fubá de milho (15,63%)
  • ovos (15,1%)
  • batata-doce (13,83%)
  • milho em conserva (12,08%)
  • queijo minas (11,23%)
  • leite condensado (10,67%)
  • linguiça (10,1%)

Apenas dois produtos dentre os 27 itens registraram recuo nos preços no período pesquisado:

  • leite de coco (-2,36%)
  • arroz (-8,98%)

Para terminar de entornar o caldo, a batata-inglesa e a couve subiram 71,35% e 29,34%, respectivamente, nos últimos 12 meses, enquanto o açúcar refinado, a maçã e o açúcar cristal subiram 42,02%, 28,68% e 26,8%) respectivamente.

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