Empresários e associações brasileiras enviaram nesta segunda-feira (9) uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pedindo apoio a iniciativas contra o desmatamento.
O texto é assinado por 23 companhias e organizações, representando mais de 300 entidades, muitas ligadas ao agronegócio, e solicita ajuda para a aprovação de um fundo de US$ 9 bilhões para conservação de florestas tropicais, o Amazon21 Act.
O projeto será debatido amanhã na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. A carta também foi enviada à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e ao autor da Amazon21 Act, Steny Hoyer, que é líder da maioria na Casa. Na prática, o Amazon21 Act propõe um pagamento por serviços ambientais.
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O projeto de lei foi apresentado ao Congresso um dia depois de Biden discursar, em novembro, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, e afirmar que o Legislativo destinaria US$ 9 bilhões para financiar a preservação de florestas.
Líderes de mais de cem países se comprometeram no encontro a deter e reverter o desmatamento e degradação de terras até 2030.
O Amazon21 Act permitirá que o Departamento de Estado, ao qual os recursos estarão subordinados, firme acordos bilaterais de longo prazo com países em desenvolvimento para estancar desmatamento de florestas e reduzir emissões de gases de efeito estufa.
A proposta prevê que os recursos só serão liberados se o país garantir o respeito às regras de governança e à lei. O país também precisa garantir transparência do uso dos recursos recebidos, garantir a verificação dos resultados, divulgar detalhes de emissões evitadas com os projetos financiados, e assegurar que comunidades indígenas e mulheres participem do processo.
Na carta enviada ontem, companhias e entidades pedem que o acesso a financiamento seja prioritário aos povos da floresta, que contribuem para sua conservação e “têm seu modo de vida diretamente afetado pela escalada do desmatamento”.
Entre os signatários está a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, entidade integrada por organizações da sociedade civil, organizações e multinacionais do agronegócio e empresas do sistema financeiro.
Entre elas estão a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), ADM do Brasil, Cargill, Amaggi, JBS, BRF, Marfrig, Nestlé, Danone, Suzano e Yara Brasil.
Apoio de representantes de indígenas
Para Rodrigo Castro, diretor da Fundação Solidaridad, que integra o grupo estratégico da Coalizão Brasil, a ideia da carta, unindo empresas, representantes do agronegócio, com respaldo de associações que representam indígenas e extrativistas, foi mostrar que há interesse dos povos do Sul nos recursos.
Além de pedir que sejam criados mecanismos para dar acesso ao fundo, com transparência.
"Estamos em um momento em que os recursos estão em jogo, com a guerra na Ucrânia. É uma questão geopolítica que se contrapõe a uma questão de segurança internacional. Um movimento organizado pedindo prioridade na aprovação desses recursos mostra que há urgência, não só pelo crescimento do desmatamento, mas pela velocidade com que ele acontece", diz Castro.
Em abril, a Amazônia teve mais de mil metros quadrados de floresta sob alerta de desmatamento. É o pior número para o mês desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciou o levantamento, em 2016. No ano passado, o Brasil respondeu por 40% da perda de floresta tropical no mundo.
A carta ressalta a urgência de ações firmes para proteger as florestas, considerando o risco de que a Amazônia entre em colapso devido ao desmatamento. E alertam que mais de 75% da floresta amazônica perderam a resiliência desde o início do século XXI, segundo estudo publicado pela revista “Nature Climate Change”.
Os signatários pedem que o fundo tenha regra clara, governança ampla e participação da sociedade civil. E propõem que os recursos sejam destinados com base em resultados, especialmente “na manutenção da floresta em pé”.
Na pauta dos investidores
Rocha afirma que a adesão de companhias importantes à carta mostra que elas estão comprometidas em eliminar o desmatamento de sua cadeia produtiva. Para ele, essa ação concreta é fundamental para que essa tendência ganhe robustez. Ele lembra que hoje o risco climático está na pauta de fundos de investimento e financiadores que emprestam recursos às companhias:
" Empresas mais comprometidas tendem a ter mais dividendos. Por isso, as empresas querem se posicionar e investir em sustentabilidade para mitigar o risco climático."
Para Marcelo Battisti, consultor independente em ESG (sigla em inglês para ambiente, social e governança), quando se trata de preservação ambiental há também interesses operacionais em jogo:
"Se a empresa tem um selo verde, consegue entrar em mercados premium, mais ricos, nobres e conscientes", afirma, lembrando que, no caso contrário, os produtos das empresas cuja cadeia é tocada pelo desmatamento podem esbarrar em barreiras para entrada em diversos mercados.
Antes da COP26, um grupo de 107 empresas e dez entidades setoriais já havia enviado documento ao governo brasileiro pedindo que o país retomasse o protagonismo em defesa da agenda verde global e defendesse metas ambiciosas para a transição a uma economia de baixo carbono.
Em nota, o Ministério da Economia disse que apoia ações para monetização de ativos ambientais, como meio de preservação ambiental e geração de renda a proprietários rurais. E cita a Cédula de Produto Rural (CPR) Verde, lançada ano passado.