A elevação da Selic para 12,75%, maior patamar em mais de cinco anos, reforça a tendência de valorização das aplicações em renda fixa. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (4) aumentar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual.
As opções na hora de investir são variadas, vão do Tesouro Selic aos fundos multimercados. A escolha de onde alocar seu dinheiro deve ser feita com base no seu perfil de risco e prazo para resgatar os recursos.
Segundo analistas consultados pelo GLOBO, os títulos de renda fixa pós-fixados, que acompanham as taxas de juros, são boas opções, especialmente para aqueles que aceitam correr menos riscos.
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Para os mais arrojados, os prefixados e os indexados à inflação servem com bons instrumentos para alocar seus recursos.
Quando se olha para os fundos de renda fixa DI, a estimativa é que a maior parte deles tenha rendimento superior ao da poupança, mesmo com taxas de administração acima dos 2,5%. E os analistas lembram que é possível manter apostas na Bolsa.
Onde investir?
O estrategista de Investimentos do Santander, Arley Junior, destaca que os investimentos em renda fixa pós-fixados, que acompanham a taxa de juros, como o Tesouro Selic, tendem a se beneficiar do ponto de vista da rentabilidade.
Esses ativos acompanham o movimento da Selic.
"Estes são produtos bastante procurados pelos investidores, porque permitem resgates de forma rápida e têm rentabilidade diária. Ainda na renda fixa, destacamos os títulos de crédito privado, que costumam pagar taxas ainda mais interessantes e podem ser pós fixados, prefixados ou atrelados à inflação."
O especialista ainda observa oportunidades na classe dos multimercados. Esses fundos permitem que o gestor aplique em diferentes classes de ativos, como renda fixa e variável.
"As grandes vantagens da classe são a velocidade e a flexibilidade com que o gestor desse tipo de investimento pode atuar, conseguindo proporcionar rentabilidade aos investidores mesmo em cenários adversos e não previstos anteriormente."
A chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, também ressalta que o Tesouro Selic e os fundos DI são boas opções para aqueles que querem fazer uma reserva de emergência.
Já para quem pensa em investimentos de médio prazo, os títulos atrelados à inflação, que pagam a inflação do período mais uma taxa de juros, como o Tesouro IPCA +, podem ser uma opção.
"O investidor tem que ficar atento que diferente dos títulos pós-fixados, eles já têm um valor pré-determinado. Conforme acontece movimentos de mercado, se o, mercado achar que a taxa Selic vai continuar subindo, o preço desse título vai cair e se a pessoa quiser vender antes do vencimento, ela pode perder dinheiro."
A atenção com os prazos também é importante quando se opta pelos prefixados, que pagam taxas de juros combinadas no momento da aplicação.
Isso porque, o investidor pode ficar preso a uma taxa menor enquanto a Selic continua a subir.
"O prazo é importante, para não engessar a liquidez. Para quem aceita correr mais risco, o prefixado é uma opção. Se pensarmos que a inflação está muito próxima do pico e que já avistamos um ponto de reversão, com os prés o investidor trava juros nominais altos", ressalta a estrategista- chefe da Órama Investimentos Sandra Blanco
CRIs e CRAs
Para quem quiser correr mais riscos, também há outras opções dentro da renda fixa. Entre elas, destacam-se os fundos de inflação, que compram títulos públicos atrelados ao IPCA, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e as debêntures incentivadas.
Vale lembrar que os CRIs e CRAs são isentos de imposto de renda.
A dica nesses casos é prestar atenção na qualidade e histórico do emissor dos papéis.
Títulos de crédito privado
É possível também conseguir retornos maiores do que os dos títulos públicos investindo em papéis emitidos por bancos de menor porte, os certificados de depósitos bancários (CDBs).
Eles são mais arriscados, pois existe o risco do banco enfrentar problemas financeiros. Nesse caso, vale destacar que esses investimentos são cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma espécie de seguro até o valor de R$ 250 mil por CPF, o dinheiro fica protegido mesmo em caso de calote.
Poupança x Renda fixa
Com a elevação da Selic para 12,75%, os fundos de renda fixa DI cotinuam a se destacar ante a caderneta de poupança. Segundo estimativas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as aplicações nesses fundos, em alguns casos, chegam a ter desempenho melhor que a poupança até com taxa de 3% ao ano.
Vale lembrar que desde dezembro foi alterado o cálculo do rendimento da poupança. No atual cenário, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a TR. Em 12 meses com a taxa nesse patamar, o rendimento gira em torno de 6,17% ao ano mais a TR.
Para Rachel, da Rico, a poupança segue não sendo uma opção interessante, principalmente, na comparação com o Tesouro Selic.
"A poupança segue perdendo para a inflação, mas mesmo que a inflação venha a cair, e temos a projeção de um processo deflacionário no próximo ano, ela segue perdendo do Tesouro Selic."
E a Bolsa?
E vale sempre a lembrança. O fato dos juros estarem subindo não significa que a renda variável deva ser abandonada.
Na Bolsa, há opções de empresas consolidadas e com forte histórico de resultados que estão com valor de mercado abaixo do de pares globais. Para quem quer fugir da volatilidade, mas continuar na Bolsa, os tradicionais setores defensivos como o elétrico e o de papel e celulose também oferecem boas oportunidades.
Em um cenário de aumento das taxas de juros, a tendência é que os investidores desfaçam parte de suas posições em Bolsa, como vem acontecendo desde o segundo semestre do ano passado.
O Ibovespa, principal índice da B3, até começou o ano com desempenho superior ao de pares internacionais, mas já está perto de zerar seus ganhos.
Segundo os analistas, não é necessário fugir da renda variável. Para quem aceita correr mais riscos, há empresas com bom desempenho e que estão precificadas abaixo dos seus fundamentos devido à deterioração do cenário macroeconômico.
"De maneira geral, se comparado com outros emergentes, ainda há ativos brasileiros baratos. E quando olhamos a história micro e as projeções, ainda vemos bastante espaço para ganhos na Bolsa", disse Rachel.
Entre as medidas usadas para medir se o ativo está ou não com um bom preço estão os múltiplos que relacionam o preço das ações com indicadores contábeis. Um exemplo são as relações entre o valor de mercado mais a dívida líquida da empresa com a geração potencial de caixa.
"Após as quedas recentes, o nível de preços das ações parece atrativo para quem tem perfil de risco e médio e longo prazo para alocação, e também levando em conta que o atual ciclo de aumento da Selic parece estar próximo do fim", destaca o estrategista do Santander.