Após vice do Flamengo, Landim abre mão de cargo na Petrobras e explica motivos em carta
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Após vice do Flamengo, Landim abre mão de cargo na Petrobras e explica motivos em carta

Procurado, o Ministério de Minas e Energia informou já ter começado a busca por outro nome no lugar de Rodolfo Landim, que desistiu da presidência do Conselho de Administração da Petrobras. A decisão de Landim foi publicada de madrugada no site do Flamengo, que ele comanda.

“Estamos avaliando, com a responsabilidade que a situação requer, um outro nome para à Presidência do Conselho”, afirmou a pasta em nota.

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Será possível apresentar outro nome até o próprio dia da assembleia. A avaliação do Comitê de Pessoas seria, então, feita depois da votação. Caso os nomes sejam aprovados, no entanto, eles só tomarão posse depois de todas as questões de conformidade terem sido aprovadas.

Os acionistas da Petrobras vão se reunir de forma virtual no próximo dia 13, em Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária. Os encontros da estatal são virtuais desde o início da pandemia.

Serão votados os novos nomes para o Conselho de Administração e fiscal da Petrobras. A lista apresentada pelo governo federal no último dia 28, além de apontar Landim para a presidência do Conselho, trazia Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), como conselheiro e presidente da estatal.

Ligação com empresário

O motivo por trás da decisão de Landim é o mesmo que poderia levar à desistência de Adriano Pires, indicado para presidir a empresa: os conflitos de interesse provocados pela ligação de décadas com o empresário Carlos Suarez, sócio de oito distribuidoras de gás no Brasil. 

Landim chegou a ser inclusive investigado pelo Ministério Público Federal brasileiro em razão de repasses de recursos a contas de Suarez na Suíça, descobertos na época da Operação Lava-Jato.

Em sua nota, Landim disse que vai concentrar todo o seu “tempo e dedicação para o ainda maior fortalecimento do nosso Flamengo”. Ele afirmou ter “preocupação em não conseguir, dada a dedicação que as duas instituições demandariam nesse momento, exercer ambas as funções (...) à altura que a Petrobras e o Flamengo merecem.” 

Fontes contam ainda que o nome de Landim recebeu parecer contrário e com ressalvas entre os integrantes do chamado Comitê de Pessoas da Petrobras, um órgão de compliance. Outra fonte destacou que a demora em sair o relatório sobre Landim “pode sinalizar que ele teria um veto insuperável” na Assembleia Geral Ordinária, no próximo dia 13.

Conflitos de interesse no setor de gás

Já Pires, que nos últimos dias tem sido pressionado a revelar os clientes para os quais presta serviço em sua consultoria, trabalha não apenas para a associação do setor, a Abegás, mas também para os negócios de Suarez e para a Compass, distribuidora do empresário Rubens Ometto.

Embora Pires argumente não dar declarações à imprensa por estar em período de silêncio, é de conhecimento público para quem ele trabalhou nos últimos anos.

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Como cliente, Suarez tem uma série de interesses na Petrobras. O mais imediato tem a ver com a negociação de um acordo bilionário entre a distribuidora no Amazonas da qual ele é sócio, a Cigás, e a petroleira. Os setores jurídicos das duas companhias há meses negociam um acordo para encerrar todos os litígios. 

Embora não haja estimativa formal dos valores envolvidos, fontes familiarizadas com as questões em discussão estimam que não ficarão abaixo de R$ 1 bilhão, podendo chegar a R$ 8 bilhões.

Após a indicação de Pires, acionistas minoritários da Petrobras passaram a se articular para indicar mais conselheiros. Além disso, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) entrou na sexta-feira com uma representação propondo que Pires não assumisse o comando da companhia antes de uma investigação sobre eventuais conflitos de interesse.

Com a pressão se intensificando, Landim e Pires certamente consideram que têm mais a perder do que a ganhar insistindo em ocupar seus postos na Petrobras.

Perguntado sobre a possibilidade de haver problemas na confirmação de Pires, o Ministério de Minas e Energia informou que trabalha para aprovar o nome dele até o dia 13.

“Adriano Pires, desde a semana passada, está cumprindo os trâmites legais e administrativos exigidos para a proposição do nome dele à Assembleia Geral Ordinária no dia 13 de abril. Temos que aguardar todas essas análises e, se tiver algum óbice, se pode ser superado”, afirmou a pasta.

Patrocínios em xeque

Landim foi um dos principais fiadores do nome de Pires para a presidência da Petrobras. Embora o novo indicado para comandar a estatal tenha trânsito com muitos políticos, inclusive do Centrão, não contava com a proximidade que Landim tem com Jair Bolsonaro.  

Landim ainda é alvo de um processo do Ministério Público Federal por crime de gestão fraudulenta, que teria causado prejuízo de R$ 100 milhões aos fundos de pensão de funcionários da Petrobras (Petros), do Banco do Brasil (Previ) e da Caixa (Funcef).

Outra fonte ligada à estatal disse que teria sido sugerido ao atual presidente do Flamengo, cujo mandato vai até 2024, deixar o comando do clube. Essa fonte alegou que poderia haver casos de conflitos de interesse com o Flamengo sendo patrocinado pela própria estatal ou alguma empresa concorrente.

Em carta divulgada no site da pasta, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, desejou sucesso a Landim. “Esperamos continuar contando com a sua colaboração nos temas de energia, dentro das suas possibilidades.”

Procurados pelo GLOBO, Suarez e Ometto não responderam até o fechamento desta edição.

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