As plataformas de transporte de passageiros e entregas estão avaliando compensações ao reajuste dos combustíveis para os motoristas de transporte de passageiros e motofretistas. A Uber anunciou que haverá um reajuste temporário de 6,5% nos preços a ser aplicado nas viagens a partir da próxima semana. Segundo a empresa, o objetivo é ajudar os motoristas a lidar com o pico de alta em seus custos operacionais.
Já a 99 anunciou que vai reajustar em 5% por quilômetro rodado no ganho do motorista. Segundo a plataforma, o acréscimo será implementado já nos próximos dias, nas 1.600 cidades onde a empresa opera. A plataforma disse ainda está testando um "subsídio" para acompanhar as flutuações dos combustíveis, tanto para cima quanto para baixo. Após os testes, o novo recurso seria implementado, mas ainda sem data.
O iFood informou que "está acompanhando o cenário". Segundo a empresa, a plataforma "segue dialogando com os entregadores como parte do processo de escuta que já resultou em medidas para a categoria na questão de ganhos, bem-estar e transparência". O iFood, no entanto, não anunciou reajuste em suas tarifas.
Os motoristas de aplicativos e entregadores dizem que a situação tornou-se insustentável após a nova escalada de preços dos combustíveis . Eles agora calculam o impacto do aumento na atividade profissional. Para muitos, a disparada dos preços — que no caso da gasolina foi de 18,8% — poderá inviabilizar a continuidade do trabalho.
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O motorista de aplicativo de transporte Emerson Costa, de 45 anos, disse que não está mais conseguindo manter o financiamento do veículo. Mesmo ampliando o tempo em que permanece rodando, ele calcula que está ganhando 30% a menos por mês. Segundo Emerson, muitos motoristas têm cancelado e selecionado as viagens, especialmente as mais longas, porque o trajeto e o tempo não compensam o que vão ganhar.
"Eu saio às 4h da manhã e fico até às 20h. Tudo subiu de preço, além da gasolina, a manutenção, as peças. Só de GNV, eu gasto agora mensalmente R$ 2.200 por mês. Estou devendo o carro que consegui com muito custo, mas não estou conseguindo custear o financiamento do veículo. Agora, para rodar, o motorista tem que selecionar as viagens que serão mais vantajosas para reduzir o prejuízo. Por isso, está crescendo o cancelamento de corridas", explica.
Segundo dados mais recentes do IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses para os combustíveis no Brasil é de cerca de 44%. O economista André Braz, do Ibre-FGV, avalia que o impacto ainda pode se aprofundar com um possível aumento nos preços também do GNV, combustível bastante usado por motoristas de aplicativos do Rio de Janeiro.
"O impacto depende da posição geográfica do profissional. Em alguns estados, o etanol pode compensar, o que não é o caso do Rio de Janeiro. No Rio, o GNV é o mais demandado mas sofre influência da variação do preço do petróleo, e esperamos que haja também reflexos e os motoristas vão ser afetados", prevê Braz.
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O motorista Marcelo Amorim, de 45 anos, vende água, perfumes e cosméticos para complementar a renda cada vez mais comprometida. Para ele, um dos principais problemas é que as empresas não acompanharam o aumento dos combustíveis que está sendo absorvido integralmente pelos motoristas.
"Ficou praticamente inviável. As empresas não vão dar aumento para compensar o combustível. Será preciso trabalhar mais ainda para suprir essa necessidade de reduzir os prejuízos com os combustíveis. E realmente tem que selecionar mais as corridas. Nas corridas longas será preciso fazer a matemática da volta para saber se realmente compensa", afirma Marcelo.
O taxista Robson Martins percebeu que a a gasolina aumentou nesta sexta-feira (11) R$0,10 em alguns postos, em outros aumentou de R$0,15 a R$0,20.
"Meu carro não é a gás, mas até mesmo o gás está caro. O preço pesa um pouquinho no final do dia. A conta fica pesada. Estou trabalhando mais para conseguir bater a meta diária por causa do aumento no combustível. Eu trabalho de oito a nove horas por dia, mas com esse aumento vou ter que trabalhar dez horas. Estou indo menos no mercado. Reduzindo um pouquinho as saídas, o lazer, para pagar as contas. Primeiro, a gente paga as contas", relata Martins.
Do lado dos passageiros, a advogada Bárbara Vasconcelos diz que por enquanto não houve repasse, mas que está esperando por um aumento próximo. E que por enquanto está compensando mais usar aplicativos do que o carro particular.
"Em algumas situações eu prefiro ir com o carro, especialmente porque os estacionamentos, alguns, reduziram o valor da cobrança. Além disso, tem o tempo de espera por um carro", avalia ela.
Além dos motoristas autônomos que fazem o transporte de passageiros, os motofretistas e os trabalhadores que utilizam motocicletas para fazer entregas e encomendas no Rio também têm sofrido com o avanço do preço da gasolina. No caso deles, a conversão para o GNV não é possível, e eles precisam arcar com o aumento de custos.
Motofretista há 20 anos, Edgar Francisco da Silva, presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR), revela que quem trabalha com entregas não está mais conseguindo absorver os aumentos. Segundo ele, o impacto varia de 30% a 45% sobre o faturamento dos trabalhadores, dependendo do que a pessoa entrega, se é e-commerce, delivery, administrativo e compra de mercado.
"Se a pessoa roda mais, será mais prejudicado. A gente não aguenta mais absorver os custos. Antes (há um ano), o motofretista gastava R$ 484 por mês. Agora, gasta no mínimo R$ 834 por mês", calcula Edgar.