As vendas do comércio varejista avançaram 0,8% em janeiro deste ano, na comparação com dezembro de 2021, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) divulgados nesta quinta-feira (10).
O número veio acima do esperado pelo mercado. Economistas ouvidos pela Reuters projetavam alta de 0,3% no mês.
O resultado, embora no campo positivo, evidencia a trajetória incerta pela qual passa a atividade. O setor ainda não recuperou as perdas da pandemia e encontra-se 0,8% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.
No primeiro semestre de 2021, o comércio registrou crescimento de 6,7%, mas teve uma sequência de quedas no segundo semestre, quando encerrou com recuo de 3%, informou o IBGE. O setor variou -1,9% em dezembro.
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Já a indústria recuou 2,4% em janeiro, segundo a instituição. Na semana que vem, o IBGE divulga o desempenho do setor de serviços.
O IBGE também revisou nesta quinta-feira os dados da série da Pesquisa Mensal do Comércio. A queda em dezembro foi mais intensa do que se estimava: passou de -0,1 para -1,9%. O recuo foi puxado pelo segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que retraiu 9,9% em dezembro, ante estimativa de queda de 5,7%.
Segundo o instituto, a pandemia provocou volatilidade nas estatísticas, sobretudo porque houve uma desorganização nas cadeias produtivas e no comportamento de consumo, o que leva a revisões constantes.
Inflação alta afeta consumo
Das oito atividades pesquisadas, cinco registraram recuo em janeiro. Apesar da maior disseminação de taxas negativas, o varejo puxado pelo avanço das atividades de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,8%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (9,4%).
O gerente da pesquisa, Cristiano Santos, explica que o melhor desempenho do segmento de artigos de uso pessoal e doméstico se deve não só a um efeito base - já que no mês de dezembro houve queda de 4,9% -, como também ao fato de que o período de janeiro concentrou promoções no setor. O mesmo fenômeno de ofertas foi visto no segmento de artigos farmacêuticos, que tem registrado bom desempenho nos últimos meses.
Santos sinaliza, por outro lado, que o bom resultado de janeiro foi concentrado nessas duas atividades. O setor de hiper e supermercados, que tem um peso grande na pesquisa, apresentou alta de 0,7% quando observada a receita, mas ficou no campo da estabilidade (-0,1%) em termos de volume.
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"Essa leitura [de queda no volume], assim como no segmento de combustíveis e lubrificantes, seguramente acontece pelo fenômeno de inflação, que segura a atividade", explica Santos.
Já o varejo ampliado caiu 0,3% em janeiro, influenciado, principalmente, pela atividade de veículos e motos, partes e peças, que caiu 1,9%. O setor de material de construção, embora permaneça acima do patamar pré-pandemia, recuou 0,3% em janeiro.
Andando de lado
O comércio tem buscado driblar uma série de desafios após o processo de reabertura econômica. O setor lida com a escalada dos juros - cuja taxa Selic deve chegar a 13%, segundo analistas - e encarece o crédito, além de uma inflação galopante ao consumidor.
Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC), mostra que o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso atingiu 27%. É o maior patamar em 12 anos.
O Índice de Confiança do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) subiu 2,1 pontos em fevereiro, passando de 84,9 para 87,0 pontos. Foi a primeira alta depois de três meses de quedas consecutivas.
Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre, explica que, embora o resultado seja positivo, ainda é necessário cautela.
"A melhora de fevereiro foi totalmente influenciada pelas expectativas, que tem se comportado de forma um pouco mais volátil nos últimos meses. (...) Para os próximos meses, a expectativa ainda não é muito positiva, em especial no curto prazo. Mesmo com controle da pandemia, o cenário macroeconômico negativo ainda deve dominar as expectativas mais fracas", avaliou Tobler, em comentário.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, não prevê boa performance para as vendas do varejo neste ano.
"As vendas do comércio devem continuar andando de lado no decorrer do ano, influenciadas pelo baixo crescimento da economia, inflação elevada e alta das taxas de juros. Esses elementos deterioram o poder de compra e inibem o consumo", sinalizou a economista, em comentário, após a divulgação do resultado.
Rodolfo Margato, economista da XP, avalia que as surpresas altistas com o resultado divulgado hoje foram concentradas em duas categorias que são voláteis na comparação mensal. Ele projeta alta de 1,2% para o varejo ampliado e 0,7% para o varejo restrito em 2022.
"A recuperação consistente da população empregada e medidas de estímulo fiscal devem prover alguma sustentação à demanda doméstica nos próximos meses. Em contrapartida, inflação bastante elevada, salários reais deprimidos, aumento das taxas de juros e ampliação do endividamento das famílias explicam o quadro prospectivo de arrefecimento do consumo", pontuou, em comentário.