Trigo
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A disparada do preço do trigo no mercado internacional - que atingiu esta semana seu nível mais alto em quase 14 anos em meio às sanções impostas à Rússia — começará a refletir nos preços do atacado no mercado doméstico nas próximas semanas e deverá ser repassado ao consumidor, apontam analistas econômicos.

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), do Esalq/USP, mostram que o preço médio do trigo no Paraná tem oscilado nos últimos cinco dias entre US$ 334 e US$ 336 por tonelada — patamar que não era alcançado desde o dia primeiro de julho de 2014, quando chegou a US$ 336,88.

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Lucilio Alves, professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), explica que os preços do trigo no país são dados pela paridade de importação, já que o Brasil importa cerca da metade do trigo que consome.

Ele lembra que a redução dos estoques nos últimos dois anos, junto com o aumento dos preços em dólar do trigo e do aumento da taxa de câmbio, ampliou a paridade e abriu espaço para altas no preço do trigo comprados pelos moinhos.

De acordo com Alves, a invasão da Ucrânia pela Rússia — cujos países respondem por quase um terço das exportações de trigo no mundo — devem trazer novos reflexos sobre os valores de negociação no Brasil e em países vizinhos ao longo das próximas semanas.

"Com a saída de países importantes, o preço internacional se eleva. Nos últimos dias o dólar também subiu. O vendedor vai pedir um valor ligeiramente maior. Demora alguns dias até os negócios começarem a acontecer a novos parâmetros e então impactar o mercado interno, mas o contexto de altas influencia [os preços]."

Confira o preço médio do trigo (À vista, em US$)

  • 01/07/2014 - 336,88
  • 22/02/2022 - 336,9
  • 23/02/2022 - 344,14
  • 24/02/2022 - 336,06
  • 25/02/2022 - 334,7
  • 02/03/2022 - 334,88

Fonte: CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

André Braz, coordenador do Índice de Preços do Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), explica que os preços de commodities agrícolas  como milho, soja e trigo, já vinham em trajetória de aceleração nos últimos meses, em função do aumento da cotação internacional e dos efeitos domésticos sobre as safras por conta da seca no Sul.

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Neste momento, com a eclosão do conflito geopolítico, a perspectiva é de que a alta dos preços nesses grãos apareça no Índice Geral de Preços (IGP-10) a ser divulgado em meados de março, dado que a pesquisa terá captado o momento inicial da crise no fim de fevereiro.

Braz, que já elevou sua estimativa de inflação de 5,8% para 6,2% em 2022 por conta de um esperado aumento nos preços dos combustíveis, sinaliza que os efeitos resultantes dos embargos sustentarão as cotações de commodities em patamar alto, contaminando a inflação e pressionando o bolso do consumidor.

"Com certeza [as estimativas de inflação vão subir], porque as sanções vão durar mais tempo que a própria guerra. E a duração desses efeitos é o que vai prejudicar as cadeias produtivas e forçar o aumento dos preços. É bem provável que esse efeito perdure por muitos meses."

J.P.Morgan revisa projeção da inflação

O J.P. Morgan anunciou nesta quinta-feira que revisou novamente sua projeção para o IPCA de 2022, considerando que os preços mais elevados das commodities devem manter a inflação alta:

“Na semana passada, quando o conflito na Ucrânia começou, ajustamos nossas projeções do IPCA para 5,6%. Hoje, reavaliamos esse cenário considerando toda a extensão dos eventos recentes – o impacto direto nos canais de comércio entre Brasil, Rússia e Ucrânia são escassos, portanto, os preços das commodities e possíveis interrupções na cadeia de suprimentos global são os principais fatores a serem considerados. Em resumo, estamos revisando para cima a inflação de 2022 para 6%, e a previsão do IPCA de 2023 de 3,25% para 3,5%”.

O banco americano destaca que os preços das commodities já estavam em tendência altista quando o conflito na Ucrânia começou, e, apesar da recente valorização do real, os preços mais altos das commodities devem continuar afetando a inflação no Brasil nos próximos trimestres.

“O setor agrícola brasileiro pode enfrentar preços de insumos mais altos, e quem sabe até restringir a produção, já que o país é o maior importador de fertilizantes da Rússia (...)", disse o banco. 

"A incerteza permanece bastante elevada e a duração e a extensão da crise ainda não é clara, portanto, movimentos adicionais nos preços do petróleo podem ter impactos significativos e rápidos sobre a inflação do Brasil”, complementou o banco, em relatório.


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