Ainda sem refletir impactos econômicos da invasão da Ucrânia pela Rússia, como sanções e a alta do petróleo, o relatório Focus mostra uma manutenção das expectativas do mercado para juros, câmbio e inflação em 2022. As expectativas foram coletadas até a última sexta-feira (26).
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O Focus foi divulgado nesta quarta (2) e é uma publicação semanal do Banco Central que reúne as expectativas do mercado sobre os principais indicadores econômicos do país.
O conflito em si começou na última quinta, mas as tensões entre os dois países já estavam acontecendo há algumas semanas. Na sexta-feira, o dólar fechou em alta por conta da busca por ativos mais seguros em um ambiente de incerteza por conta da guerra.
No entanto, as principais sanções econômicas começaram a ser anunciadas durante o fim de semana, sem tempo para que os analistas de mercado atualizassem suas expectativas.
Felipe Sichel, estrategista-chefe do Modalmais, disse que o Focus ainda não reagiu às mudanças no cenário geopolítico e espera que essas alterações demorem um pouco mais para refletir nas expectativas.
"Talvez a incorporação de todas essas novidades pode ser um pouco mais lenta, porque em parte muitos analistas vão aguardar para ver o que é mais definitivo em termos de choque de preços de commodities, de atividade, de câmbio, antes de começar a rever as projeções", disse.
De acordo com o economista, é esperado uma inflação para cima e um impacto nas commodities. A Ucrânia é grande produtora de grãos e a Rússia, um grande ator global no mercado de combustíveis.
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"A Rússia pode ter muita dificuldade para exportar e esse movimento possivelmente gera um impacto em termos de oferta, apesar da oferta existir, é menor. Vai depender muito do formato definitivo das sanções", apontou.
O Focus divulgado nesta quarta-feira mostra alta na expectativa de inflação em 2022 de 5,56% para 5,6%, acima do teto da meta deste ano, de 5%. Para 2023, a projeção é de 3,51%.
Os preços no mercado do petróleo, por exemplo, já começaram a subir e superaram os US$ 100 pela primeira vez desde 2014. A inflação de energia é um dos principais fatores para a inflação elevada no ano passado e este ano no Brasil.
Para o mercado, a taxa básica de juros, a Selic, a principal ferramenta do Banco Central para controle de inflação, deve ficar em 12,25% no fim do ano, a mesma projeção da semana anterior.
Já a projeção para a atividade é de crescimento de 0,3% este ano nas últimas quatro semanas. Para 2023, a projeção é um pouco maior, de 1,5%.
A expectativa do câmbio, que fechou a semana passada em alta e continua subindo nesta segunda-feira, foi mantida em R$ 5,50 pelo mercado.
Como a situação desta quarta-feira é muito diferente da vista na última sexta, com fortes sanções econômicas contra a Rússia e uma guerra mais prolongada do que se esperava, os mercados ainda devem viver momentos de incerteza e volatilidade.
Na abertura da bolsa após o feriado, tanto a bolsa quanto o dólar subiram com os investidores de olho nos impactos do conflito na Europa. As ações foram auxiliadas pelo bom desempenho de empresas ligadas a commodities, como Vale e Petrobras, além dos bancos.