Em baixa nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro apela cada vez mais à Economia para salvar seu projeto de reeleição. Além de culpar a pandemia pelo desastre econômico, o chefe do Executivo usa benefícios sociais para tentar aumentar suas chances até outubro, mas sofre com indicadores negativos e falta de credibilidade.
Bolsonaro deve entregar o governo ou assumir um segundo mandato com a taxa de desemprego estável ao redor de 12%, maior inflação desde o Plano Real, taxa de juros em 12,25% e câmbio acima de R$ 5,50.
Inflação é vilã do bolso e da popularidade
Segundo pesquisa Quaest/Genial, Bolsonaro aparece em segundo nas intenções de voto, com apenas 23% dos eleitores favoráveis a um segundo mandato. O mesmo levantamento mostra que 80% dos entrevistados reprova o governo pela maneira com que lida com a inflação.
Bolsonaro identificou o problema, e, como os combustíveis foram os principais vilões do IPCA em 2021, o presidente estuda formas para diminuir os preços, mas sem assustar o mercado financeiro, grande fiador das eleições de 2018.
O Congresso, no entanto, não chegou a consenso para votar os projetos que prometem subsidiar os derivados de petróleo, atrasando a mudança de percepção do eleitor. Enquanto nada sai do papel, o mercado segue projetando inflação acima do teto da meta em 2022.
Emprego
Com 12,4 milhões de desempregados, a criação de mais postos de trabalho voltará ao foco do debate eleitoral. Enquanto o ex-presidente Lula, líder das pesquisas, fala em reverter a reforma trabalhista, Bolsonaro defende a manutenção da proposta e culpa a pandemia pelo aumento da desocupação.
Para Bolsonaro, as medidas sanitárias e o "fica em casa" provocaram o desastre econômico. Esse discurso, no entanto, não supera a importância das medidas emergenciais na cabeça do eleitor.
"Uma epidemia é bastante democrática na sua incidência. Várias classes foram afetadas por ela", comenta Alexandre Pires, Professor de Economia e Relações Internacionais do Ibmec-SP. "Quem sofreu mais os impactos foi o setor informal, que compõe o grosso do eleitorado. Por outro lado, eles também foram agraciados pelo 'colchão emergencial' de benefícios, o que amenizou um pouco a situação".
Para Pires, o candidato que terá o maior destaque eleitoral será aquele que conseguir vender melhor suas propostas para aumentar os índices de emprego e renda.
Auxílio Brasil terá impacto positivo, mas não deve ser suficiente
Criado em novembro de 2021, o Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família, já demonstrou surtir efeito na popularidade de Bolsonaro, mas parece ter chegado ao limite.
Do fim de 2021 até hoje, o percentual de pessoas com uma avaliação negativa do governo caiu de 63% para 53% entre eleitores com renda de até dois salários mínimos que tem na família alguém recebendo o benefício social. A expectativa, no entanto, é que não ultrapasse essa porcentagem.
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"O benefício quando 'bem carimbado' com a imagem de um candidato traz vantagens eleitorais, porém, o Auxílio Brasil tem uma sensação de continuidade, já que mesmo durante o período de pagamentos do auxílio emergencial, continuava existindo o Bolsa Família", explica o professor do Ibmec-SP.
"Em 2020, quando o governo pagava R$ 600 para 68 milhões de pessoas, se houvesse eleição, o impacto seria muito alto, porque houve aumento no valor e na base que recebia [em relação ao Bolsa Família]. Na situação atual, no entanto, os beneficiários já estão acostumados a receber e não devem levar isso em consideração nas urnas", adiciona.
Guedes, que pode nem permanecer, se tornou irrelevante
O filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro , e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira , disseram que a manutenção do ministro da Economia, Paulo Guedes, em um eventual segundo mandato ainda é incerta, ainda assim, o "Posto Ipiranga" segue na luta para proporcionar a reeleição de Bolsonaro e se manter na posição.
Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, Paulo Guedes não tem mais a credibilidade do mercado e é um coadjuvantemente na eleição. "O eleitorado olha para Bolsonaro e escolhe dar, ou não, continuidade ao seu governo".
"O mercado não acredita mais em Guedes e sabe que ele se apegou ao cargo. O ministro cedeu a tudo que Bolsonaro obrigou, além de abandonar seu ideário liberal para manter o cargo até o final do governo."
Promessas não cumpridas afetam credibilidade
Quando era apenas um deputado do "baixo clero" disputando a Presidência pelo PSL em 2018, Bolsonaro prometeu atualizar a tabela do Imposto de Renda (IR), corrigindo a faixa de isenção para cinco salários mínimos (hoje, R$ 6.060). Também disse que faria "uma reforma administrativa para reduzir gastos", diminuiria o preço do gás "com seriedade" e privatizaria ou extinguiria estatais.
Perto do fim do mandato, nada disso se concretizou. A "reforma do IR" naufragou no Senado por falta de consenso. A reforma administrativa não contou com o apoio do próprio presidente Jair Bolsonaro, que justificou dizendo que "não se faz reforma em ano eleitoral". Nos outros anos, no entanto, a pauta sempre foi escanteada, por ser entendida como impopular.
Já quanto ao preço do botijão de gás, Bolsonaro não conseguiu reduzir o valor, mas lançou o auxílio-gás no fim do ano passado para famílias de baixa renda inscritas no CadÚnico.
O cientista político Alberto Carlos Almeida diz que o não cumprimento das promessas só será lembrada se o eleitorado estiver insatisfeito com o presidente.
"Tem o eleitorado que votou nele e se arrependeu, que tinha uma expectativa, mas não foi cumprida, o que leva a votar na oposição. Esse eleitor não acredita mais em nenhuma proposta que for apresentada".