Após uma propaganda sobre consumo sustentável, que circulou nas redes sociais na última semana, o Bradesco escreveu uma carta aberta se retratando com o agronegócio. Na campanha, sobre um aplicativo do banco que permite que os consumidores calculem a sua pegada de carbono, três influenciadoras dão dicas para reduzir os impactos ao meio ambiente. Em uma dessas dicas, elas recomendam que os espectadores reduzam o consumo de carne pelo menos uma vez na semana, em um movimento que ficou conhecido como "Segunda Sem Carne".
"A criação de gado contribui para a emissão dos gases de efeito estufa, então, que tal se a gente reduzir o nosso consumo de carne e escolher um prato vegetariano na segunda-feira?", sugerem.
A peça publicitária repercutiu negativamente entre entidades e políticos ligados ao agronegócio. Depois da reação, o banco divulgou uma carta dizendo que "acredita e promove direta e indiretamente a pecuária brasileira e, por conseguinte, o consumo de carne bovina". (leia o texto completo mais abaixo)
Veja a repercussão
O Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), por exemplo, criticou o conteúdo, dizendo que, em um contexto mundial, a pecuária brasileira é a menos impactante na produção de carbono.
"No Brasil, a nossa pecuária é realizada de forma natural, utilizando-se da pastagem como o principal insumo alimentar para a produção de carne bovina. Todos os modelos de produção que utilizam pastagens produtivas para a criação de bovinos contribuem positivamente para o balanço de carbono, sequestrando esse gás que a produção pecuária emite", afirmou.
"Dessa maneira, não é aceitável associar a responsabilidade integral pela emissão de gases de efeito estufa com a pecuária brasileira, tão pouco faz sentido ou possui respaldo científico a sugestão de reduzir o consumo de carne bovina no Brasil", continuou.
Já a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) publicou uma nota de repúdio contra o Bradesco e considerou "inacreditável que uma instituição financeira reconhecida preste um desserviço social como este, desaconselhando o consumo desta excelente fonte de proteína, cujos benefícios já foram cientificamente comprovados".
"Divulgar qualquer informação na contramão desses dados representa extrema ignorância por parte do interlocutor", completou a ABCZ.
O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também resolveu se pronunciar sobre o assunto nas suas redes sociais. Pelo Twitter, Salles escreveu: "Que propagandazinha mais ridícula hein @Bradesco! Não tem cabimento trabalhar contra a pecuária brasileira! Viraram a ONU agora?!??! Adotar um Parque da Amazônia no programa #adoteumparque que é bom… até agora nada…!".
Banco se retrata com o agronegócio
Em resposta, o Bradesco removeu o conteúdo de suas plataformas e divulgou no último dia 24 uma carta aberta reafirmando o seu apoio ao agronegócio brasileiro e lamentando o ocorrido. Veja abaixo:
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CARTA ABERTA AO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
Ao longo de seus quase 79 anos de história o Bradesco apoiou de forma plena o segmento do agronegócio brasileiro, estabelecendo parcerias sólidas e produtivas. Tal opção é baseada em sua crença indelével nesse segmento enquanto vetor de desenvolvimento social e econômico do país.
Contudo, nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca.
Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina.
Pelo contrário.
O Bradesco acredita e promove direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina.
Diante do ocorrido, medidas foram imediatamente tomadas incluindo a remoção do conteúdo de ambiente público, e, além disso, ações administrativas internas severas.
Dessa forma, reiteramos nossa lamenta pelo ocorrido e reforçamos mais uma vez nossa crença irrestrita na pecuária brasileira.