As festas de fim de ano são conhecidas como o período de maior expectativa do mercado de varejo. Após mais de um ano e meio de pandemia de Covid-19 e com grande progresso da campanha de vacinação no país, os brasileiros poderão comemorar com maior segurança. Segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes e Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), divulgada no início de novembro, cerca de R$68 bilhões deverão ser injetados na economia durante o período. Entretanto, especialistas explicam que, apesar das altas expectativas, a inflação será prejudicial ao bolso dos brasileiros.
O mesmo estudo também mostra que há a expectativa que 77% dos brasileiros irão às compras neste ano. O que confirma o cenário de crise econômica diante de 82% que consumiram no período de festas do ano anterior, no ápice da segunda onda de contágio do novo coronavírus no país, segundo mostra levantamento da Teads. Para Fábio Tadeu Araújo, economista especialista em Economia Empresarial e Internacional, em um período onde o IPCA acumula mais de 10,5% nos últimos 12 meses, a tendência é que, no natal e ano novo, os produtos tenham um crescimento de preço muito maior, principalmente os alimentos para as ceias.
Os valores das carnes e itens de panificação já sofreram grande variação e, em um país onde quase 50% da população vive com até um salário mínimo, muitas famílias precisarão se adaptar para os jantares e almoços comemorativos, trocando itens por opções mais em conta. “É claro que, com a inflação em alta, os impactos na ceia de natal deste ano serão evidentes. Serão necessárias cautela e buscas pelo melhor preço. Muita gente passará por dificuldades no período e as comidas não serão as mesmas do ano anterior”, explica Wagner S. de Moraes, sócio-fundador da A&S Partners.
Enquanto o setor de alimentação sofre com os valores, o de bebidas possui grandes expectativas para o período de fim de ano. Entretanto, Arthur Guimil, co-fundador e CEO da One More, marca de bebidas, acredita que a alta demanda do produto irá gerar muitos desafios de logística, por conta do preço dos combustíveis. Já quanto ao setor de vestuário, Tiago Peixoto, diretor comercial da Companhia Industrial Cataguases, especializada na área têxtil, explica que a visão da retomada para as festas é positiva, porém deve ser cautelosa, também por conta dos custos e inflação na cadeia de fornecimento do mercado têxtil, tornando os preços maiores.
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Inflação e varejo
A crise hídrica e energética que o país vem enfrentando teve papel importante na alta inflação. Segundo Henrique Costa, CEO da Accell Solutions, empresa de distribuição de medidores de água, energia e gás, a falta de água impactou na cadeia de produção como um todo, colaborando, inclusive, para a alta do preço da gasolina que, por sua vez, afetou os demais setores da economia.
Segundo Fernando Zilveti, advogado tributarista, o varejo é o setor mais afetado pela inflação por conta de dois pontos: primeiro, a perda de poder aquisitivo da população, e segundo por conta da taxa de juros Selic determinada pelo Banco Central, que torna os parcelamentos e juros de cartão de crédito ainda mais caros.
“Esses dois fatores freiam o consumo e fazem com que o efeito inflacionário gere consequências no varejo a médio prazo. Outro fator muito grave para o setor é o aumento do dólar. Essa depreciação da moeda brasileira encarece produtos importados, os quais são consumidos em maior parte pelo varejo”, explica o especialista.