Com falta de componentes, as fábricas de veículos instaladas no Brasil deixarão de produzir cerca de 300 mil unidades este ano em relação ao que foi estimado no início do ano. A expectativa é da Anfavea, entidade que reúne as montadoras, que prevê que 2021 termine com uma produção de 2,219 milhões de unidades. Se a previsão se confirmar, o crescimento será de 10% em relação a 2020, quando foram fabricados dois milhões de veículos.
As montadoras alertam para o risco de carros inacabados ficarem parados nos páteos por falta de peças, já que a indústria automobilística vive uma transição das fases L6 para L7 no Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). Essa mudança deverá ocorrer a partir de 1º de janeiro no segmento de automóveis e comerciais leves.
Segundo o programa, após esta data as montadoras devem produzir apenas modelos que já atendam às exigências da fase L7. Ou seja, se não receberem as peças para acabarem a produção de veículos L6 as fábricas podem até ter prejuízo. Pelo menos metade das montadoras do país estão com esse problema, embora a Anfavea não estime quantos veículos podem ficar inacabados.
"Já agendamos uma reunião com o governo para levar o problema. Cada montadora deverá levar seus detalhes e se não fora dada uma autorização especial corre-se o risco de perder esses veículos", disse Moraes.
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Para 2022, a expectativa é que a crise de oferta de componentes continue e o fornecimento seja restabelecido apenas em 2023. Pelas estimativas da consultoria BCG, no mundo, as montadoras deverão deixar de fabricar, este ano, entre 10 milhões a 12 milhões de unidades.
"Começamos o ano com uma expectativa de produção de 25% maior do que em 2020, com 2,5 milhões de unidades produzidas. Mas o ano foi de crise de oferta, então ela deve crescer cerca de 10%, chegando a 2,219 milhões", disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, lembrando que existe um previsão mais pessimista, que depende do desempenho das fábricas em dezembro. Nesse cenário, a produção cresceria apenas 6% chegando a 2,129 milhões.
Para 2022, os problemas de logística, como falta de contêineres e de navios, além de componentes, especialmente semicondutores, devem continuar. Especialistas avaliam que a cadeia de produção só seja restabelecida em 2023. Além desses obstáculos, também há pressão de custos, com reajuste de preços de materiais como aço (que subiu 100%) m além de borracha, resinas plásticas, diz o presidente da Anfavea.
"E como nossa indústria participa da indústria global, importando muitos componentes, ainda há a pressão do dólar. Há aumento de inflação em todo o mundo, mas no Brasil os reajustes foram muito fortes", completou.
Como em anos anteriores, as montadoras planejam ter férias coletivas no início de 2022, mas ainda estão planejando o período levando em consideração se vão receber componentes. Moraes disse que cada montadora tem uma situação diferente.
"Nunca vimos uma limitação de oferta dessa dimensão", afirmou o dirigente da Anfavea.