O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, alertou nesta terça-feira (9) para o risco de desabastecimento de combustíveis, ao defender a política de preços da Petrobras, que prevê paridade com os valores do barril de petróleo no mercado internacional e o dólar.
"Temos de ter preocupação grande com desabastecimento. Porque a importação leva no mínimo 90 dias. Temos uma parcela do mercado, cerca de 20%, que não é da Petrobras. Mudar qualquer coisa, tem que ser com critério, transparência e governança", disse o ministro, em audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, acrescentando:
"Todos estamos trabalhando nisso para que a gente possa dar uma resposta à sociedade, e tenho certeza que vai ocorrer."
Albuquerque falava sobre o período em que a estatal segurou o preço da gasolina, do diesel, e do gás de cozinha, o que ocorreu principalmente durante o governo Dilma Rousseff. Para o ministro, a lei não pemite situações como essa.
"A política de controle de preços levou a Petrobras a pagar multas bilionárias e a ser a empresa de petróleo e gás mais endividada do mundo", disse.
Em entrevista ao EXTRA, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, também citou recentemente a possibilidade de desabastecimento de combustíveis causado por uma eventual mudança na política de preços da estatal.
Albuquerque revelou que o governo avalia criar o que chamou de “colchão tributário” e também uma “reserva estabilizadora” para conter a volatilidade do preço dos combustíveis. Ele também afirmou que está em avaliação reduzir impostos federais, mas ressaltando que para isso é preciso uma compensação.
"O colchão tributário é uma medida que possa permitir que, ao longo do tempo, que essas variações dos preços do petróleo e também dos combustíveis possa ser compensada de alguma forma. E uma reserva estabilizadora de preço, que seria de capital, que seria aplicada quando houvesse uma volatilidade muito grande", disse o ministro.
Albuquerque não disse qual a previsão das medidas serem anunciadas oficialmente, nem o eventual impacto das ações.
Os preços da gasolina, do diesel e do gás de botijão voltaram a subir na última semana, de acordo com o levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O litro da gasolina já é vendido por até R$ 7,99 no país.
Segundo a ANP, o preço do litro médio da gasolina passou de R$ 6,562 há duas semanas para R$ 6,710 na última semana. É uma alta de 2,25%, sendo a quinta semana seguida de aumento nos preços. No ano, o valor da gasolina acumula avanço de 49,6%.
O ministro culpou a alta do petróleo no mercado internacional e também a disparada do dólar como justificativa para o aumento dos preços no Brasil.
"Por que houve aumento nesses valores? Principalmente pela alta do petróleo, que só em 2021, (subiu) 60%. E com tendência agora, com a chegada do inverno no Hemisfério Norte, do preço do petróleo subir um pouco mais", afirmou.
Albuquerque disse também há uma crise de oferta e demanda de petróleo no mercado internacional que explica o aumento.
"O preço do barril do petróleo em abril de 2020 chegou a 17 dólares. Aí veio o aumento da demanda e o valor subiram para 83 dólares", afirmou.
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O ministro também culpou a desvalorização do real frente ao dólar:
"O nosso câmbio (dólar) saiu, em janeiro de 2020, de R$ 4 e hoje está na ordem de R$ 5,55. Isso tudo leva a esse aumento no preço dos combustíveis."
A política de preços da Petrobras, principal fornecedora do produto no Brasil, prevê repasses automáticos aos preços das variações do petróleo e do dólar. O ministro citou a Lei do Petróleo, a Lei das Sociedades por Ações e a Lei das Estatais para dizer que não é possível interferir na Petrobras e defender as medidas da estatal.
"Não pode haver interferência na Petrobras, não há e nunca houve", afirmou, acrescentando:
"A lei das estatais diz que as ações do órgão de controle não podem implicar interferência na gestão de empresas públicas. O estatuto da Petrobras diz que, quando orientada pela União a contribuir para o interesse público, a companhia somente assumirá obrigações ou responsabilidade que respeitem as condições de mercado e que a União compensará a companhia pela diferença entre as condições de mercado e a obrigação assumida."
O ministro citou ainda que o Brasil importa cerca de 30% do consumo de GLP (gás de cozinha), 25% do diesel e 6% a 8% da gasolina.
"Só lembrando que somos o quarto maior consumidor de combustíveis automotivos do mundo."
Medidas tributárias
O ministro de Minas e Energia também citou que existe a "questão tributária" como causa da alta dos preços, com os governos estaduais cobrando ICMS por fora do preço do litro, sistema chamado "ad valorem".
A Câmara dos Deputados aprovou em outubro um projeto que muda esse cálculo da tributação dos combustíveis para tentar baixar o preço cobrado ao consumidor final. Para ter validade, o texto ainda precisa passar pelo Senado.
Ele lembrou, também, a decisão do governo e estados de congelar por 90 dias do chamado "preço médio ponderado ao consumidor final" para aliviar os repasses das altas aos consumidores. É sobre esse preço médio que incide o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) estadual cobrado nas vendas de combustíveis.
Sem racionamento e apagão
Durante a audiência pública no Senado, o ministro também reafirmou que não há nenhuma indicação de "qualquer problema em termos de racionamento ou apagão" neste ano. Ele avaliou que, com as medidas adotadas pelo governo, o país segue com segurança energética e fornecimento estável aos consumidores.
"E para 2022, que é a grande questão? Como eu falei, as medidas começaram a ser adotadas em outubro de 2020 e visavam não só 2021, mas os anos vindouros. Se tivermos a mesma escassez hídrica, que foi a pior em 90 anos, vamos chegar a 42,6% em maio de 2022 (nível de reservatórios), o que nos permite a governança com certa tranquilidade em relação ao ano de 2022. E se as condições forem iguais à média histórica, chegaremos em 51% em maio de 2022", afirmou.
O ministro disse, porém, que sem medidas, o país teria enfrentado um racionamento neste ano.
"Com crise hídrica, prevíamos perda de governança, com racionamento e apagão. Mas as medidas adotadas pelo governo surtiram efeito. Agora, não há nenhuma indicação de que possamos ter algum desses problemas", concluiu.