O ritmo de recuperação da economia global ainda é prejudicado pela pandemia e pela desigualdade no acesso às vacinas entre os países. Esta é a avaliação feita pela economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, durante entrevista coletiva para comentar o último relatório “Panorama Econômico Mundial”, divulgado nesta terça-feira.
O relatório mostrou que o Fundo reduziu em 0,1 ponto percentual, em comparação com a previsão de julho, a sua projeção para o crescimento global ao final deste ano. Agora, a expectativa de crescimento é de 5,9%, enquanto para o final de 2022, a taxa permaneceu em 4,9%.
O FMI alertou que as ameaças de crescimento aumentaram, destacando obstáculos como a variante Delta, problemas nas cadeias de abastecimento, inflação acelerada e custos crescentes de alimentos e combustível.
E que o número agregado também mascarou grandes reduções para alguns países, especialmente nações de baixa renda, onde o acesso às vacinas continua limitado.
'Grande divisão vacinal'
A economista-chefe ressaltou que o órgão está preocupado com a divergência de acesso aos imunizantes, especialmente em países de baixa renda. Segundo Gopinath, cerca de 96% da população em países de baixa renda permanece não vacinada, enquanto mais de 60% das economias avançadas estão totalmente vacinadas e algumas começaram a dar injeções de reforço.
"Existe o que chamamos de grande divisão vacinal, e essa é uma questão importante que precisa ser tratada. Mesmo durante o pico da pandemia no ano passado e neste ano, as economias avançadas foram capazes de fornecer muito mais em termos de apoio a gastos e receitas para seu povo, enquanto que para os mercados emergentes e economias em desenvolvimento esse apoio foi muito mais restrito porque eles têm apenas menos espaço fiscal."
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Além desse apoio menor, as economias emergentes e em desenvolvimento estão precisando retirar de forma mais rápida suas medidas de estímulo à economia, seja pela elevação de taxas de juros seja pelo corte de despesas.
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Segundo o Fundo, as projeções de crescimento de alguns países emergentes foram revisadas para cima devido ao aumento dos preços de commodities, o que não foi o caso brasileiro.
Doação de imunizantes
Os números divulgados pelo Fundo destacam a influência dessa discrepância vacinal mencionada pela economista-chefe durante a coletiva nas projeções de crescimento dos países.
Para o FMI, o PIB para as economias avançadas recuperará seu nível pré-pandêmico em 2022 e até mesmo o excederá em 0,9% em 2024.
Em contraste, o Fundo avaliou que os mercados emergentes e em desenvolvimento ainda estariam abaixo de sua previsão pré-pandemia em 5,5% em 2024.
"Em primeiro lugar, é necessária muito mais ação multilateral para acabar com essa divisão da vacina. É importante vacinar pelo menos 40% da população de todos os países até o final deste ano e 70% até meados do ano que vem. Também é importante remover as restrições ao comércio que estão impedindo o fluxo livre de vacinas prontas e insumos."
A economista-chefe também destacou que a atual situação exigirá que os fabricantes de vacinas e as nações de alta renda coordenem e garantam que mais entregas vão para a Covax Facilit, que é a organização que fornece vacinas para muitos países de baixa renda.