Duas das principais tendências do mercado financeiro para os próximos anos, as criptomoedas e os fundos de investimento sustentáveis enfrentam o mesmo problema: a falta de uma regulamentação adequada. Isso é o que aponta o Relatório de Estabilidade Financeira Global, do Fundo Monetário Internacional (FMI), apresentado nesta terça-feira em Washington.
A reunião semestral conjunta de FMI e Banco Mundial apresentou ainda as revisões para o crescimento global.
A instituição ressalta que o ecossistema dos criptoativos cresce de forma acelerada e em meio a grande volatilidade, o que traz tanto oportunidades quanto desafios. Entre eles, a necessidade de uma regulamentação global.
"Os riscos para a estabilidade financeira ainda não são sistêmicos, mas devem ser monitorados de perto, dadas as implicações para o cenário global e as estruturas operacionais e regulatórias inadequadas na maioria das jurisdições", aponta o relatório.
Neste ano, até meados de maio, a capitalização de mercado dos criptoativos quase triplicou para um recorde histórico de US$ 2,5 trilhões, de acordo com o FMI. Em maio, houve uma queda de quase 40% com preocupações dos investidores institucionais acerca dos impactos ambientais da mineração desses ativos.
Desde então, porém, o valor de mercado dos criptoativos aumentou novamente cerca de 170%, para mais de US$ 2 trilhões.
"Com supervisão limitada ou inadequada, o ecossistema cripto é exposto a fraudes e riscos à integridade do mercado. A maioria dos criptoativos é altamente volátil e especulativa. Os riscos podem ser ainda mais amplificados pelo uso de alavancagem oferecida em algumas operações de criptografia, que chega a 125 vezes o valor do investimento inicial", acrescenta o FMI.
Emergentes poderiam ter suas próprias moedas
Outro problema destacado pelo Fundo é o anonimato desse tipo de operação, o que cria lacunas de dados e dificulta o rastreio das transações.
No caso de países emergentes, como o Brasil, o organismo ressalta que o aumento das transações desses ativos pode levar a uma desestabilização dos fluxos de capital.
Para minimizar os riscos, o FMI recomenda que esses países fortaleçam suas políticas macroeconômicas e que seus bancos centrais criem suas próprias moedas digitais.
A criação do Real Digital, inclusive, já está nos planos do Banco Central do Brasil. Trata-se de uma CBDC (Central Bank Digital Currency), que o BC pretende lançar até 2024.
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"Moedas digitais dos bancos centrais podem ajudar a reduzir a dolarização e ajudar a satisfazer a necessidade por melhores tecnologias de pagamento", avalia o FMI.
Fundos ESG e o risco de greenwashing
Já em relação aos fundos de investimentos alinhados às práticas ESG (sigla para governança ambiental, social e corporativa), o FMI ressalta que uma regulamentação mais precisa é necessária para evitar o greenwashing. Isto é, a apropriação do discurso de sustentabilidade para maquiar práticas que, na verdade, não estão de acordo com esses princípios.
"O setor de fundos de investimento sustentável pode ser um importante impulsionador da transição global para uma economia verde, mas, na conjuntura atual, é muito limitado em tamanho e escopo para ter um grande impacto e enfrenta desafios relacionados ao greenwashing", aponta o relatório.
O total de ativos sob gestão em fundos de investimento sustentáveis mais que dobrou nos últimos quatro anos, chegando a US$ 3,6 trilhões em 2020. No entanto, os fundos orientados para o clima foram responsáveis por apenas US$ 130 bilhões desse total.
Apesar da tendência de crescimento, os fundos ESG ainda representam uma parcela pequena do universo de fundos de investimentos.
Em uma amostra de mais de 36,5 mil fundos ativos no final de 2020 analisada pelo relatório, cerca de 4 mil tinham algum selo de sustentabilidade.
Entre esses, 1 mil eram relacionados ao tema do meio ambiente e pouco mais de 200 faziam referência ao tema específico do clima.
Para que os fundos ESG se tornem, de fato, ativos no processo de transição para uma economia verde, o FMI recomenda que haja um fortalecimento da arquitetura de informações climáticas globais, além de uma regulação apropriada para evitar o greenwashing.
"Um esforço nessa direção é Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis da União Europeia, que entrou em vigor em março de 2021 e exige divulgações ambientais, sociais e de governança de determinados participantes do mercado financeiro", cita o relatório.