Não faz muito tempo que as opções na hora de pagar por um produto numa loja se concentravam nos palpáveis cédulas, boletos, carnês e até cheques — lembra-se deles? Mas a revolução tecnológica nos meios de pagamento se encaixou tão rapidamente no cotidiano dos brasileiros que as opções de papel parecem coisa de um passado distante. Não faltam modalidades no celular e nas onipresentes maquininhas de lojistas e autônomos, tornando comum sair por aí sem um real no bolso.
A pandemia acelerou o desenvolvimento de meios de pagamento mais ágeis e seguros, como cartões digitais para transações únicas, QR Codes e o Pix, sistema de transferências instantâneas criado pelo Banco Central no fim de 2020 que caiu no gosto dos brasileiros. Também foram popularizadas as transações NFC (Near Field Communication), que permitem pagamento com cartões por aproximação e já representam 10% de todo o volume no crédito. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o valor transacionado na modalidade cresceu 573,7% entre junho de 2020 e de 2021.
O volume de pagamentos em cartões de crédito, débito e pré-pago no geral subiu 30,5% entre o primeiro semestre deste ano e o de 2020. No estudo Mastercard New Payments Index, 51% dos entrevistados no Brasil disseram que estão fazendo menos pagamentos em dinheiro. Além disso, 77% disseram ter testado ao menos uma nova forma de pagar no último ano por causa das restrições do coronavírus. O professor e coordenador do Núcleo de E-commerce da FGV Direito Rio, Nicolo Zingales, observa que muita gente ficou com receio de cédulas serem veículos de contaminação e preferiu os cartões, mesmo para valores baixos. Apesar disso, ele diz que há um longo caminho para uma economia sem dinheiro vivo, dada a alta informalidade no comércio e o número grande de pessoas sem conta bancária no país.
Dados do BC indicam que 59% da população adulta já usaram o Pix, para pagar ou receber. Há 316,1 milhões de chaves cadastradas e já foram feitas mais de 4,8 bilhões de transações. Até o fim do ano estão previstas mais duas funções: o Pix Troco e o Pix Saque. Na primeira, ao comprar num estabelecimento, o consumidor transfere um valor superior ao preço cobrado e recebe o troco em dinheiro vivo. Na segunda, faz um Pix sem comprar e retira o valor total. Não precisa ir ao caixa eletrônico.
Emerson Menezes, gestor do box de crossfit Factory, localizado na Tijuca, Zona Norte do Rio, ainda analisa se valerá a pena aderir às novas modalidades. Teme assaltos. Hoje busca manter o mínimo possível de dinheiro vivo. Por isso, desde o início, incentivou o pagamento com Pix, que já é o preferido de 20% dos alunos. Os demais quitam as mensalidades no cartão de crédito.
"Quando abrimos, em 2019, aceitávamos cheque, mas geravam muitos transtornos e abolimos. Com o surgimento do Pix, houve demanda dos alunos porque, quando vence o plano, conseguem pagar à distância, mesmo no domingo, e ter a matrícula liberada imediatamente para participar da aula. É muito prático", diz Menezes.
Para incentivar o uso do Pix, o salão de beleza Bella Donna, também na Tijuca, chegou a oferecer 5% de desconto a quem usava o meio de pagamento, que elimina as tarifas da máquina de cartão e põe dinheiro mais rapidamente na conta da empresa. A sócia Dheisy Martins conta que, após os primeiros meses do Pix, o banco cortou a isenção de tarifa para pessoas jurídicas. A solução foi migrar para um banco digital com esse mimo.
"Por enquanto, 10% das clientes pagam com Pix, o que acredito que seja pela faixa etária que frequenta o salão, mais velha. Mas o uso vem aumentando, até pela facilidade de não precisar pegar o cartão na bolsa e digitar senha, correndo o risco de borrar a unha", conta Dheisy.
"O Pix também é o meio preferido das clientes que vêm no horário do almoço, pela agilidade. Elas pagam, mandam o comprovante pelo Whatsapp e vão embora."
Um levantamento feito na plataforma do Mercado Pago, do Mercado Livre, revela que os vendedores que aceitam Pix têm volume médio de vendas 10% superior aos de outros. E uma pesquisa do banco digital BS2 apontou que 78% dos empreendedores veem inovações como o Pix como um fator transformador dos negócios.
"A adesão das empresas é grande, principalmente a partir do Pix Cobrança, que substitui o boleto e permite o pagamento instantâneo", diz Breno Guelman, executivo do BS2.
"A digitalização é um caminho sem volta e traz benefícios para além de menores taxas e rapidez. Já estamos usando o histórico de transações para observar a agenda de recebíveis de empresas e poder oferecer a elas novas linhas de crédito."
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Cuidados ao usar instrumentos financeiros digitais
Soluções digitais são convenientes para lidar com dinheiro, mas também provocam insegurança. Thiago Bordini, líder da área de ameaças digitais da empresa de cibersegurança Axur, dá dicas de como se proteger.
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Canais oficiais
O consumidor deve sempre se certificar de que está usando sites e apps oficiais das instituições. Evite buscar o site do banco pelo Google. Golpistas podem comprar anúncios e posicionar o portal falso no alto da busca. Desconfie de sites que pedem mais dados que o necessário, como recadastramento de token e senha.
Aplicativos de bancos
Evite deixar senhas salvas no celular e mantenha poucos apps ativos. Se não usar diariamente o de investimentos, por exemplo, desinstale. Habilite um segundo fator de autenticação, como biometria, SMS ou app de autenticação. Anote os apps que você deve bloquear se o celular for roubado, além dos cartões do banco.
Pix e WhatsApp
Sempre confira os dados antes de confirmar operações e certifique-se de que a pessoa com quem está conversando é quem você pensa. Na dúvida, ligue para confirmar. Estabeleça limites baixos para transações instantâneas. Se seu celular for roubado, o risco de perda é menor até você conseguir bloquear o aparelho.
Compras na internet
Ao ver um anúncio atraente, informe-se antes sobre a loja, converse com pessoas que já compraram nela, busque referências no Procon. Há muitas lojas virtuais bonitas que são apenas um golpe. Se o desconto for muito grande, desconfie.
Engenharia social
Golpistas procuram as vítimas desavisadas como se fossem do banco e pedem acesso remoto ao smartphone para verificar se não há nenhum vírus no aparelho. É um tipo de golpe com engenharia social, na linha das mensagens falsas no WhatsApp que pedem dinheiro como se fossem um dos contatos da vítima. Se receber uma ligação suspeita, desligue e procure o seu banco pelo canal oficial. Se tiver o celular roubado, restrinja o acesso às redes sociais, que podem dar acesso aos seus contatos.