O Carrefour Brasil anunciou nesta sexta-feira (24) a abertura de um programa de aceleração de talentos negros. A multinacional francesa vai contratar 20 profissionais de nível superior pretos ou pardos para participarem de um programa de aceleração de competências que vai durar um ano e meio.
O objetivo, segundo o Carrefour, é formar pessoas para ocupar cargos de liderança e aumentar a diversidade nessas posições. Serão aceitas inscrições de todo o país sem exigência de formação em área específica ou pré-requisitos como fluência em inglês.
Os selecionados receberão um salário inicial de R$ 7.500 e benefícios. Após os 18 meses do programa, que terá um módulo na França, sede global do Carrefour, os profissionais assumirão posições de liderança na estrutura corporativa da fililal brasileira, informou a empresa.
O programa faz parte do conjunto de ações em prol da diversidade racial com o qual a companhia varejista se comprometeu após o assassinato do cidadão negro João Alberto Silveira Freitas nas dependências de uma loja do Carrefour em Porto Alegre em 19 de novembro do ano passado, na véspera do Dia da Consciência Negra.
Ele foi espancado até a morte por seguranças contratados pelo supermercado sob a supervisão de funcionários da empresa após um desentendimento no interior da loja. Seis pessoas ainda respondem pelo crime na Justiça.
Profissionais já no mercado de trabalho
Diferentemente de iniciativas recentes para promover a diversidade racial em empresas como os programas de trainees exclusivos para negros do Magazine Luiza e da Bayer ou a seleção de estagiários negros pela Ambev, o programa de talentos negros do Carrefour não é voltado para recém-formados.
O alvo do Carrefour são profissionais que já estão no mercado de trabalho e que podem ser formados para assumir funções executivas no Carrefour em pouco tempo. Por isso, a seleção não terá limites de idade ou de tempo de formado.
“Existe um número grande de profissionais que não encontram oportunidades de crescimento nas companhias que atuam. Como grupo, temos o papel de trabalhar para transformar essa realidade. Precisamos valorizar o potencial dos talentos negros e pensar no desenvolvimento desses profissionais”, afirmou Cristiane Lacerda, diretora de Recursos Humanos do Grupo Carrefour Brasil, em comunicado distribuído pela companhia.
“Para além de termos profissionais diversos no nosso quadro, precisamos que essa diversidade seja refletida nos cargos de liderança”, acrescentou a executiva.
Entre os temas da formação estão capacitação em liderança, metodologias ágeis, tecnologia e inovação. Haverá bolsas para formação em idiomas, se necessário, bem como auxílio financeiro para a mudança para São Paulo aos selecionados de outras cidades.
No fim do programa, os integrantes do grupo apresentarão um projeto com foco em responsabilidade social e inclusão que se somarão aos demais programas de combate ao racismo em curso na empresa.
A seleção será feita pela empresa de recrutamento Companhia de Talentos em cinco etapas, todas on-line. As inscrições poderão ser feitas aqui até 10 de novembro.
Ações antirracistas desencadeadas após crime
Desde o assassinato de João Alberto, o Carrefour celebrou acordos de indenização coletiva e à família de João Alberto. Anunciou mudanças em suas equipes de segurança, que deixaram de ser terceirizadas.
Na vertente de responsabilidade social, tenta dar visibilidade às ações no sentido de combate ao racismo. Contou com sugestões de um conselho consultivo independente criado com este objetivo.
No entanto, não afastou executivos como demandaram entidades do movimento negro que realizaram protestos em lojas da rede.
Acordos de reparação
No fim de maio, a viúva de João Alberto aceitou a proposta de indenização feita pelo Carrefour. Segundo o advogado de Milena Borges Alves, o valor pago pelo hipermercado é superior a R$ 1 milhão. Milena estava com o marido no supermercado.
A empresa pagou outras oito indenizações aos demais familiares, entre eles o pai, os filhos e a enteada de João Alberto.
Em junho, o Carrefour assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no valor de R$ 115 milhões, como uma forma de compensação coletiva pelo assassinato de João Alberto Silveira Freitas em sua loja de Porto Alegre.
O dinheiro deve ser destinado a políticas de enfrentamento ao racismo. O acordo foi firmado com Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (MPRS), Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Trabalho (MPT), Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul (DPE-RS), Defensoria Pública da União (DPU) e as entidades Educafro e Centro Santo Dias de Direitos Humanos.
A Justiça gaúcha determinou ainda que o Carrefour pague o valor de R$ 3,5 milhões referente aos honorários dos advogados de movimentos sociais, que participaram das negociações da indenização no caso João Alberto.