Cerca de 41% da população brasileira, ou 84,9 milhões de pessoas, convivem com fome ou algum grau de insegurança alimentar. Os números são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE, e compreendem o período entre 2017 e 2018. Para colocar em perspectiva, na Venezuela essa realidade assola um terço na população, segundo dados do Programa Mundial de Alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas).
Dessa parcela brasileira, 27% vivem com insegurança alimentar leve, quando há preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro, além de perda na qualidade dos alimentos a fim de não comprometer a quantidade de alimentação consumida.
Já a população residente em domicílios com insegurança alimentar moderada ou grave, onde a qualidade e a quantidade desejadas em relação aos alimentos já estavam comprometidas, o percentual é de 13,9%. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.
Como os dados são anteriores ao período da pandemia, a tendência é que a dificuldade para garantir alimentação de qualidade e quantidade (segurança alimentar) esteja ainda maior.
Isso porque o desemprego bateu recorde e o país se recupera lentamente da sua pior recessão. Apesar da manutenção do auxílio emergencial às famílias, o valor menor do programa neste ano frente ao avanço da inflação não reduz o difícil acesso à compra de itens básicos, como alimentos, sobretudo pelos mais pobres.
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Gasto aquém do necessário
A pesquisa também mostra que a despesa per capita mensal com alimentos pela população com acesso regular à alimentação básica (segurança alimentar) foi de R$ 247,46, enquanto o gasto por pessoa daqueles com algum grau de insegurança alimentar foi de R$ 153,49 no mesmo período.
Quando questionados sobre quanto seria o valor mínimo mensal necessário para cobrir os gastos com alimentação de toda família, entrevistados que viviam sob condição de insegurança alimentar apontaram um gasto de R$ 271,94, um valor 77% maior sobre o atual gasto médio disponível.
Negros e menos escolarizados em pior situação
A dificuldade para colocar comida na mesa é maior entre chefes de família pretos ou pardos. Dos 41% da população sem acesso regular à alimentação básica, 28,4% são integrantes de famílias chefiadas por negros ou pardos, enquanto 12,1% vivem em lares em que o responsável pela família é branco.
A desigualdade se repete na comparação por escolaridade: metade da população que vive em lares chefiados por pessoas com apenas o ensino fundamental incompleto está submetida às condições impostas pela insegurança alimentar.
Já para as famílias onde a pessoa de referência tinha o ensino superior completo, o risco de fome se reduz a 17,5%.