A troca de comando em fundos de pensão como a Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa) não significa ingerência política do governo sobre essas entidades. Embora esses fundos de pensão estejam perdendo quadros técnicos importantes, a substituição de José Maurício Coelho, que pediu demissão da Previ esta semana, e do diretor-presidente da Funcef, Renato Villela, deverá ser feita também por técnicos.
A avaliação é do diretor-presidente da Abrapp (associação que reúne os fundos de pensão), Luis Ricardo Martins.
"Hoje o sistema evoluiu e está blindado das ingerências políticas. Os requisitos estabelecidos para dirigir uma entidade desse tamanho, não deixam espaço para ingerência política. O que aconteceu no passado foram casos isolados e aprendemos com essa experiência", disse Martins, durante coletiva para apresentar os números do setor.
Na terça-feira, o presidente da Previ, José Maurício Coelho, renunciou à presidência da entidade , a pedido do presidente do BB, Fausto Ribeiro.
Há cerca de duas semanas, o mesmo aconteceu na Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa, quando o presidente e dois diretores entregaram seus cargos por pressão da patrocinadora.
Segundo fontes do mercado e ligadas ao governo, essas mudanças têm por objetivo abrir espaço para novas concessões ao Centrão, bloco político que apoia o governo de Jair Blsonaro no Congresso.
No caso da Previ, o maior fundo de pensão do país, a mudança abre caminho para que os partidos busquem uma vaga na diretoria do BB, além de indicar nomes para as diversas empresas nas quais a fundação investe e tem membros no Conselho de Administração e Fiscal. Só a Previ tem cerca de 85 conselheiros em empresas. Os ativos totais sob gestão da Previ chegam a R$ 230 bilhões.
Para Martins, da Abrapp, a troca de comando feita na Previ pode ser feita pela patrocinadora (no caso o Banco do Brasil) desde que se obedeça o lado técnico.
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"É uma pena perder quadros técnicos, mas estamos tranquilos com a troca", garantiu.
Uma possível saída de Coelho já era comentada no mercado após a troca do comando do Banco do Brasil. Seu mandato se encerraria daqui a um ano, em maio de 2022, com possibilidade de recondução.
13% do PIB em ativos
No ano passado, as entidades fechadas de previdência complementar, conhecidas como fundos de pensão, chegaram a R$ 1,05 trilhão em ativos, crescimento de 6,17% ante os R$ 986 bilhões do ano anterior.
São esses recursos, que equivalem a 13% do Produto Interno Bruto (PIB), que despertam o interesse de políticos pelos fundos de pensão, especialmente dos patrocinados por estatais.
O levantamento mostrou também que os fundos de pensão registraram no período 11,13% de rentabilidade, e um superávit líquido acumulado de R$7,6 bilhões.
O sistema encerrou o ano de 2020 com 2,7 milhões de participantes ativos, 3,9 milhões de dependentes e 837 mil assistidos.
Além disso, segundo a Abrapp, o sistema pagou R$ 68 bilhões em benefícios no ano.