O esquema de Bolsonaro para abastecer o Centrão
O Antagonista
O esquema de Bolsonaro para abastecer o Centrão

O apetite do Centrão para ocupar cargos em bancos e empresas públicas deve ir além do episódio de troca no comando da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BB). Para acomodar indicações políticas de aliados, o governo avalia uma lista de indicados por estatais para conselhos de administração de empresas. A relação tem cerca de 400 nomes , segundo dados do Sistema de Informações das Estatais (Siest) do Ministério da Economia.

E o total de cargos fica ainda maior quando se inclui na conta as indicações dos fundos de pensão para os colegiados de companhias nas quais investem. As vagas oferecem remuneração entre R$ 10 mil e R$ 15 mil .

Para justificar as novas indicações, o governo deve usar o argumento de que pretende fazer uma “ limpeza ”, retirando nomes que tenham algum vínculo com governos petistas . A remuneração de até R$ 15 mil funciona como uma isca ou chamariz para acomodações políticas e serve para complementar o salário de quem já exerce algum cargo no Executivo .

Na terça-feira, o presidente da Previ, José Maurício Coelho, renunciou à presidência da entidade, a pedido do presidente do BB, Fausto Ribeiro. Não foi um caso isolado. Há cerca de duas semanas, o mesmo aconteceu na Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, quando o presidente e dois diretores entregaram seus cargos por pressão da patrocinadora.

Essa dança de cadeiras, segundo fontes do mercado e ligadas ao governo, tem por objetivo abrir espaço para novas concessões ao Centrão. No caso da Previ, o maior fundo de pensão do país, por exemplo, a mudança abre caminho para que os partidos busquem uma vaga na diretoria do BB, além de indicar nomes para as diversas empresas nas quais a fundação investe. Os ativos totais sob gestão da Previ ultrapassam R$ 230 bilhões . E o fundo é um dos grandes investidores em empresas de capital aberto no país.

Ao todo, o Siest aponta 456 vagas ocupadas em conselhos por representantes de estatais, mas o levantamento do GLOBO desconsiderou nomes duplicados, já que uma mesma pessoa pode ocupar cargos em mais de um conselho. Esse número não inclui os fundos de pensão. Só a Previ e a Funcef têm juntas direito a mais de 30 indicações.

A Funcef informou que indicou nove conselheiros para as empresas Invepar, Grupo Multiner, Norte Energia, Serra Azul, Litel e Statkraft. Segundo a entidade, todos os conselheiros passaram por processo de seleção e têm mandato até dezembro deste ano.

Já a Previ fez 24 indicações para os conselhos das empresas nos quais a entidade tem participação. Entre elas, Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), além de gigantes como Vale, BRF, Ambev, dentre outras.

Os escolhidos passaram por processo seletivo, e seus mandatos vencem entre 2021 e 2024. A entidade informou que não tem controle sobre a remuneração de conselheiros.

Em nota, o presidente da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB), Augusto Carvalho, demonstrou preocupação com a mudança do comando da Previ:

“Esperamos que a troca no comando da Previ seja uma mera adaptação de estilo. A governança do fundo deve ser pautada fundamentalmente por uma gestão técnica. Já que para ser presidente da Previ é necessário ser um funcionário do Banco do Brasil, é difícil imaginar que um funcionário de carreira vista a camisa de determinado partido político”.




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