Filas em agências da Caixa foram muito comuns ao longo dos pagamentos do auxílio emergencial
Fenae
Filas em agências da Caixa foram muito comuns ao longo dos pagamentos do auxílio emergencial

Em uma pesquisa com gestores da Caixa Econômica Federal no Rio de Janeiro, 70% da categoria responderam que, durante a pandemia, trabalharam mais do que a jornada contratual. A sobrecarga, revelada pela Associação de Gestores da Caixa Econômica Federal do Rio de Janeiro (Agecef-Rio.) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) — que ouviu 900 respondentes— , é relacionada pelos analistas à responsabilidade exclusiva do banco pelo pagamento do auxílio emergencial , entre outros fatores.

"A gente não estava preparado para o que vinha. Os trabalhadores tiveram que lidar não só com filas gigantescas nas agências, mas ali tinha também um vírus mortal rondando a gente no dia a dia. Foi um período de muita sobrecarga , principalmente psicológica. Quem estava na linha de frente ficou muito tenso e ansioso. E, infelizmente, muitos não falam sobre isso, pois em uma função gerencial esses sentimentos não são bem vistos. Então as pessoas ficaram muito debilitadas", conta M., um gerente da Caixa que preferiu não se identificar.

A vivências dos trabalhadores do banco piorou mesmo durante o ano de 2020. Apenas 12% da categoria ouvida declararam não ter tido sentimentos negativos, como ansiedade, depressão, angústia e pânico. Do total, cerca de 30% afirmaram que nunca os tinham experimentado antes; e 38% já os tinham, mas consideram que foram agravados.

"Há casos de colegas que se demitiram para não comprometerem ainda mais a saúde, outros que ficam de licença meses a fio e não conseguem segurar o choro só de pensar em entrar numa agência", denuncia Rogério Campanate, presidente da Agecef-Rio.

Houve também, em menor índice, piora em problemas de saúde física , como dores nas costas, nas pernas ou no pescoço e a hérnias, segundo os bancários (veja abaixo).

Leia depoimento de C., gerente da Caixa

"Estou em home office desde o início da pandemia, sem suporte, tanto operacional quanto técnico. O volume de trabalho, que já não era pouco, mais que dobrou, pois, além de ter que bater as metas abusivas, quem está em home office acaba por absorver as demandas da agência, lotada. Costumo trabalhar de 1 a 2 horas a mais por dia, sem bater ponto e sem receber por elas. Tive inclusive que aumentar a dosagem do meu remédio de pressão", conta o profissional.

Defasagem de pessoal e metas absurdas

Para Rogério Campanate, presidente da Agecef-Rio, uma defasagem antiga no quadro de trabalhadores também contribuiu para as dificuldades durante 2020.

"Nos últimos cinco anos, a Caixa perdeu quase 20 mil empregados em sucessivos planos de demissão voluntária sem reposição, e isso vem prejudicando muito a qualidade do atendimento à sociedade. Com a pandemia, além dessas demissões, temos os trabalhadores que pertencem a grupos de risco e que, por isso, não podem atuar no trabalho presencial".

Além disso, 74% dos respondentes avaliaram na pesquisa que metas internas interferiram de forma negativa sobre sua saúde mental.

"A direção da empresa atribui metas absurdas de vendas de produtos bancários, ameaçando com a retirada da função de confiança os empregados que não atingirem tais metas, o que pode ensejar reduções salariais superiores a 50%. O empregado se vê encularrado entre o atendimento à população e o atingimento de metas em plena pandemia", comenta Laura Benevides, analista-tecnica do Dieese.

Banco diz que abriu contratação

Na pandemia, uma das novidades lançadas pelo banco foi o aplicativo Caixa Tem , que facilitou o acesso dos brasileiros a serviços e transações bancárias de sua conta Poupança Digital Social, pela qual recebiam os benefícios sociais criados para conter a crise econômica. Rogério Campanate, da Agecef-Rio, no entanto, alerta que as soluções tecnológicas não resolveram todos os problemas do público, nem do quadro de colaboradores:

"As longas esperas nas filas comprovam que as 'soluções tecnológicas' são uma verdadeira falácia, pois apenas suprem parte de uma demanda que já se encontrava acima da capacidade de atendimento da empresa. Atendemos todos os brasileiros, inclusive os que não têm acesso a celulares, portanto tais 'soluções' não podem ser aplicadas a todos. A empresa pode pagar mais empregados e os brasileiros anseiam por uma melhor qualidade no atendimento prestado pela empresa, o que falta é vontade política de quem está na direção da empresa e no governo federal".

Procurada, a Caixa lembrou que "liderou a maior operação de pagamentos de benefícios sociais da nossa história ", para 120 milhões de pessoas, durante a pandemia. O banco anunciou a ampliação do número de empregados e terceirizados para fortalecer a rede de atendimento do banco, com 7.704 postos em contratação . Segundo a instituição, foi adotada uma política pública de extrema importância neste cenário de pandemia, referência em prevenção à saúde no setor, com protocolos de prevenção e aquisição de Equipamentos de Proteção individual (EPI).

Durante a pandemia, quando é identificado caso de contaminação por coronavírus em agência da Caixa, o empregado é liberado e permanece em isolamento domiciliar, com acompanhamento médico.

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