A renda total dos brasileiros pode recuar R$ 157 bilhões em 2021 por causa da redução do auxílio emergencial e das incertezas que rondam a economia, principalmente a recuperação do mercado de trabalho diante da nova onda da Covid-19. A projeção está em relatório da Tendências Consultoria, obtido com exclusividade pelo jornal EXTRA.
"Diante do enxugamento das políticas sociais compensatórias e da perspectiva de recuperação moderada do mercado de trabalho neste ano, a massa de renda total domiciliar no Brasil deve apresentar retração de 3,5%, após alta de 5,2% em 2020", diz o documento, assinado pelo economista Lucas Assis.
A conta leva em consideração a chamada massa de rendimentos , que é o total recebido por todos os trabalhadores no país. No ano passado, esse montnate foi de R$ 4,460 trilhões. Neste ano, a projeção é de 4,303 trilhões. Os R$ 157 bilhões são a diferença entre esses dois valores.
As projeções da consultoria consideram todas as fontes de renda, como rendimento de trabalho , aluguel , benefícios previdenciários e programas sociais — como o Bolsa Família e o auxílio emergencial .
O maior recuo será sentido nas transferências aos vulneráveis, que vão diminuir 62,2%, depois de avanço de 221,7% em 2020.
Isso é reflexo direto da redução do valor do auxílio emergencial nesta reedição do programa. Em 2020, o auxílio teve cinco parcelas de R$ 600 e mais quatro de R$ 300. O governo desembolsou R$ 293,1 bilhões e alcançou quase 68 milhões de pessoas.
Neste ano, será pago em quatro parcelas de R$ 250. Mulheres chefes de família recebem cota de R$ 375 e quem mora sozinho, R$ 150. Só uma pessoa por domicílio pode receber os valores.
Ainda assim, a Tendências estima que para 73,7% dos beneficiários do Bolsa Família a parcela do novo auxílio será mais vantajosa.
A partir de agosto, a consultoria trabalha com a reformulação do programa, que já foi confirmada pelo ministro da Cidadania, João Roma.
"Ao ampliar a cobertura de proteção social entre os considerados “invisíveis”, o novo desenho do PBF (Bolsa Família) deve atender 17,0 milhões de famílias (2,5 milhões a mais ante março de 2021) por meio de um benefício médio nominal de R$ 250 — acima do creditado atualmente (R$ 186)", pontua Assis.
Para a Tendências, somente em janeiro de 2022 é que o benefício médio do Bolsa Família poderia ser reajustado para R$ 300.
Incerteza no mercado de trabalho e Covid-19
O desempenho da economia brasileira diante do recrudescimento da pandemia da Covid-19 também provoca efeitos adicionais que impactam a renda total.
"Como a economia está patinando, o mercado de trabalho não recupera o quanto poderia. Ou ainda, via ausência de reajuste do salário mínimo, uma vez que a crise fiscal impede valorização real dos benefícios previdenciários", explica Assis.
O rendimento de trabalho é o componente de maior peso na composição da massa de renda. A Tendências estima que esse conjunto avance 1% em 2021, ante queda de 3,6% no ano passado, principalmente por causa do agravamento da situação sanitária, diminuição de incentivos a famílias e empresas e incertezas em relação ao cenário fiscal.
"A piora do balanço de riscos para a atividade econômica deve restringir o ímpeto de contratações, sobretudo no segmento de serviços, cuja tendência de crescimento deve ser interrompida à vista do recrudescimento do isolamento social em diversas localidades do Brasil", diz o relatório.
A expectativa é de que a retomada de programas de auxílio, como o Pronampe e o programa de manutenção do emprego e renda (BEm), associados à vacinação em massa proporcionem ganho de tração para a atividade econômica no segundo semestre, com maior abertura de postos de trabalho formais e informais.
Auxílios retomados
O avanço da Covid-19, com aumento de casos e mortes em todo país e colapso simultâneo de sistemas de saúde em vários estados, obrigou o governo federal a reeditar ações de socorro que foram bem sucedidas no ano passado. Na última semana, foi publicada a medida provisória (MP) que autoriza a nova rodada do auxílio emergencial.
A reedição do benefício está limitada a um gasto de R$ 44 bilhões, mas o texto da Medida Provisória destaca que há possibilidade de extensão dos pagamentos, condicionada à disponibilidade de recursos.
Ainda em março, o Senado aprovou projeto que torna o Pronampe uma política de crédito para micro e pequenas empresas, e estabelece as condições dos financiamentos do programa. O texto será analisado na Câmara dos Deputados.
O governo ainda vai reeditar o programa de manutenção de emprego e renda (BEm), que vigorou no ano passado por meio da MP 936 e permitia a suspensão de contratos de trabalho e redução de salário e jornada.