As mulheres dedicam quase o dobro do tempo que os homens a afazeres domésticos e cuidados de pessoas na casa. Enquanto elas levam, em média, 21 horas por semana cozinhando, limpando, lavando roupa, cuidando dos filhos, entre outras atividades, o tempo gasto por homens com essas tarefas é em torno de 11 horas.
A constatação é da segunda edição da pesquisa "Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil", divulgada nesta quinta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geofrafia e Estatística ( IBGE ). Os dados são de anos anteriores até 2019 e reúne informações de vários estudos do instituto.
A diferença na participação das tarefas da casa é observada nos últimos anos e aumenta conforme as mulheres ficam mais velhas. Os próximos estudos sobre o tema, porém, devem apresentar uma disparidade ainda mais gritante devido à pandemia, quando a sobrecarga de dupla ou tripla jornada ficou escancarada e mais difícil de ser mantida.
Segundo especialistas, os impactos da pandemia estão sendo mais agressivos para as mulheres, que sofrem ainda mais com problemas que vão desde o aumento da violência doméstica à falta de trabalho , uma vez foram cortados muitos cargos que exigem pouca qualificação ou no comércio e serviço, onde elas têm mais presença.
O estresse de conciliar carreira, muitas vezes sendo chefe da casa, com a rotina dos filhos sem escola ou com aulas online e o confinamento fez também ajudaram a aumentar os casos de estafa mental, emocional e física.
Nível de ocupação menor com filhos de até três anos
Um outro dado da pesquisa do IBGE que reforça o quanto as tarefas da casa impactam no trabalho é que o nível de ocupação delas cai de 67,2% para 54,6% quando há crianças com menos de três anos em casa.
Já para os homens é o contrário e passa de 83,4% quando não há filhos nessa faixa etária para 89,2% quando tem. Os pesquisadores do IBGE destacam que isso não significa que a presença da criança é negativa, mas que há uma necessidade de políticas públicas, creches e compartilhamento de tarefas em casa para mudar este cenário.
A sobrecarga para as atividades em casa é um fator relevante entre as barreiras que dificultam a entrada e a volta delas ao mercado de trabalho . Isso também contribui para que as mulheres busquem vagas com carga horária parcial, as quais costumam ser mais informais , vulneráveis e com menos direitos previdenciários e trabalhistas .
O estudo mostra ainda que, em 2019, cerca de 1/3 das mulheres ocupadas estavam em vagas parciais, consideradas aquelas de até 30 horas. É quase o dobro do verificado entre os homens ocupados na época. A situação é pior no Norte de Nordeste e para as mulheres pretas e pardas que chegam a ter 32,7% de mulheres em empregos assim.
Perigos da obesidade e violência
De acordo com a pesquisa, houve redução da taxa de mortalidade para meninos e meninas de 2011 para 2019, o que sugere melhora na primeira infância. Na vida adulta, as mulheres estão mais expostas ao sobrepeso e obesidade .
Já a expectativa de vida aumentou em geral, mas há diferenças regionais. Uma mulher de 60 anos na Região Sul, por exemplo, tinha quase três anos a mais de expectativa de vida que uma mulher da mesma idade na Região Norte, em 2019.
O IBGE fez ainda um levantamento sobre a violência doméstica a partir de dados do local do homicídio. Em 2018, enquanto 30,4 % dos homicídios de mulheres ocorreram no domicílio, para os homens essa proporção foi de 11,2%. Em casa, a taxa de homicídio para as mulheres pretas ou pardas é pior: 34,8% maior que para as mulheres brancas.
Os números, no entanto, podem estar subnotificados, pois, em 2019, apenas 7,5% dos municípios tinham delegacias especializadas para atender mulheres.