Livraria possui apenas seis unidades em funcionamento
Divulgação/Livraria Cultura
Livraria possui apenas seis unidades em funcionamento

A rede de livrarias Cultura , em recuperação judicial desde 2018, fechou na última semana ao menos três de suas unidades.

A livraria, que teve a crise em seu negócio baseado em pontos de venda físicos aprofundada pela pandemia, encerrou a atividade de suas lojas nos shoppings Bourbon e Villa-Lobos, em São Paulo , e sua única unidade em Curitiba .

Hoje, das 13 livrarias que tinha em 2020, o site da Cultura diz que apenas 6 estão em pleno funcionamento. As lojas de Brasília (no shopping CasaPark) e do shopping Market Place, em São Paulo, estão fechadas para reformas e devem ser reinauguradas, segundo a empresa.

A Cultura tenta desde setembro do ano passado aprovar um novo plano de reestruturação em que propõe a seus credores descontos de até 80% no pagamento das dívidas. À época do pedido de recuperação judicial, os débitos da empresa somavam R$ 285 milhões.

Em outubro, o GLOBO revelou que a Cultura não pagava nem seus credores chamados de incentivadores, que toparam continuar fornecendo produtos e serviços à empresa depois de seu pedido de proteção contra a falência, em 2018.

Era o caso do grupo gaúcho Zaffari , que em setembro afirmou à Justiça que a Cultura não havia pago a primeira parcela trimestral referente aos aluguéis e encargos de suas livrarias nos shoppings Bourbon, em São Paulo, e Country, em Porto Alegre. A dona do imóvel não quis comentar o caso à época.

A Cultura afirma em nota que a pandemia impôs novos hábitos de consumo ao setor, como a digitalização.

"Hoje as vendas de livros online representam algo como 80% da receita total do mercado. Esses fatores trazem desafios adicionais para o modelo tradicional das livrarias no médio e longo prazo. Parte importante do faturamento das lojas vinha de eventos, noites de autógrafos, atividades culturais, gastronômicas e obviamente de contato social. Infelizmente não acreditamos que tais atividades voltarão com força ainda em 2021", diz o documento.

A livraria afirma que tem planos de voltar a gerar lucro neste ano e que deverá lançar em março serviços inéditos no mercado com o foco na integração dos meios de venda digitais com os pontos de venda físicos. Diz, também, quer sair da recuperação judicial "o mais breve possível".

"Infelizmente, lojas que teriam um retorno previsto para acima de seis meses foram descontinuadas. O foco hoje é preservação de caixa e a saúde da empresa. O início da vacinação é um primeiro passo para voltarmos a normalidade", diz a nota.

Segundo Sérgio Herz, presidente da Cultura, a unidade do shopping Market Place está em reforma e vai reabrir em abril em um novo formato. A de Brasília, localizada no Casa Park, reabrirá no segundo semestre deste ano.

"Fechar lojas que no momento não estavam dando resultado não é sinônimo de piora na crise. Estamos somente nos adequando a uma nova realidade, com uma dose de conservadorismo e entendendo que ainda há um cenário desafiador. A Cultura terá um bom resultado em 2021", afirmou ele à reportagem, por escrito.

O executivo diz que o modelo de negócio das livrarias "está em xeque no mundo todo" e que as mudanças de estratégia são imperativas.

A Cultura diz em nota que as lojas físicas "continuarão a desempenhar um papel muito relevante no mercado", mas que tem revisado o portfólio de lojas e serviços para adequá-lo à nova realidade do mercado. "Já iniciamos negociações para implementação de novos modelos de lojas em diversas cidades do Brasil, porém isso só acontecerá quando as coisas ficarem mais claras", diz o documento.

Imbróglio judicial

A proposta de novo plano de recuperação judicial da Cultura foi rejeitada por um placar apertado em assembleia de credores da empresa em setembro de 2020.

A Cultura recorreu ao Judiciário para aprovar o plano, pedido que foi rejeitado em primeira instância pelo juiz Marcelo Sacramone, ainda em setembro. O magistrado à época negou a solicitação e deu prazo de cinco dias para que a empresa provasse que cumpria seus compromissos, sob pena de decretar a falência da livraria.

A empresa, então, recorreu da sentença e conseguiu uma liminar (decisão provisória) do Tribunal de Justiça de São Paulo que suspendia o prazo dado por Sacramone até que houvesse uma decisão do tribunal sobre a possibilidade de aprovar ou não o novo plano.

O julgamento, que pode dar fôlego à livraria ou decretar sua falência, ainda não ocorreu.

Caso a Cultura encerre suas atividades, há poucas chances de os credores conseguirem recuperar os créditos. Os imóveis das livrarias são alugados e os estoques, em sua maioria, são de propriedade das editoras. A empresa em si praticamente não possui ativos para liquidar as dívidas.

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