Jair Bolsonaro e Paulo Guedes com André Brandão, substituto de Rubem Novaes na presidência do Banco do Brasil
Agência O Globo
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes com André Brandão, substituto de Rubem Novaes na presidência do Banco do Brasil

Após o presidente Jair Bolsonaro demonstrar insatisfação com as  medidas de cortes de gastos anunciadas pelo Banco do Brasil (BB) e ameaçar demitir o presidente da instituição financeira, André Brandão , fontes ligadas à estatal já admitem que o plano de enxugamento pode ser revisto.

A condição seria que a economia prevista na versão original do programa seja mantida, segundo fontes do banco. No fim do dia, o colunista do GLOBO Lauro Jardim informou que Bolsonaro decidiu pela permanência do executivo no posto.

A diminuição da pressão ocorreu após o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entrarem em campo para evitar a demissão de Brandão, no comando do Banco do Brasil desde setembro. O objetivo era evitar passar a mensagem de ingerência política sobre a instituição.

Até a eleição na Câmara

A mudança no plano de enxugamento foi cogitada por fontes da equipe econômica e do banco, após questionamentos a respeito da negociação para conter a crise.

Fontes próximas ao executivo admitiram que a revisão das medidas, que incluem fechamento de agências e um plano de demissão voluntária (PDV) para 5 mil funcionários, poderia compor uma "fatura" a ser paga pela manutenção de Brandão no posto.

A equipe econômica foi cobrada a pelo menos adiar parte do plano para depois das eleições para presidentes da Câmara e do Senado .

O anúncio feito às vésperas do pleito foi o principal motivo de críticas por parte do Palácio do Planalto, que teme que medidas impopulares sejam usadas contra aliados do governo nas disputas pelo comando do Congresso.

Membros do banco admitem negociar mudanças no plano, mas afirmam que eventuais ajustes precisam ser compensados com corte de outras despesas. A economia líquida anual estimada é de R$ 353 milhões este ano e R$ 2,7 bilhões até 2025.

As medidas anunciadas no início da semana incluem o fechamento de 361 unidades do banco, sendo 112 agências, além do programa de demissão voluntária .

Uma das possibilidades de compensação seria substituir o fechamento de algumas agências por outras medidas administrativas de cortes de despesas, como redução no custo com aluguel de imóveis.

Fontes do banco defendem, no entanto, que o plano segue o que outras instituições financeiras estão fazendo e que o enxugamento é necessário.

Falta de traquejo político

Alterar o plano de demissão seria mais complexo, mas não seria impossível mudar prazos, por exemplo, disse a fonte. Essa manobra evitaria que os desligamentos ocorressem no período eleitoral do Congresso.

O argumento em defesa da medida é que ele seria voltado a funcionários que já querem se aposentar. E os benefícios para os funcionários que aderirem podem chegar a R$ 450 mil.

Segundo uma fonte do banco, o movimento anunciado esta semana faz parte de uma estratégia do banco de investir em setores mais rentáveis, como o agronegócio .

O BB, diferentemente da Caixa Econômica Federal, tem capital aberto na Bolsa de Valores e precisa dar retorno aos acionistas.

Apesar de verem como necessárias as medidas, membros do Ministério da Economia consideram que faltou traquejo político a Brandão, que antes de se mudar para Brasília comandava uma área do HSBC em Nova York. Ele despacha de São Paulo desde quarta-feira, mas voltou a Brasília nesta quinta.

No banco, a reação às medidas já era esperada, especialmente a insatisfação de prefeitos e deputados com o fechamento de agências.

Executivos da instituição, inclusive, costumam receber parlamentares para explicar movimentos como esse, quando há medida similar. O que foi estranho, dessa vez, foi a reação do presidente, disse uma fonte.

Dentro do BB, Brandão é visto como um executivo tranquilo e obstinado. Ele tem dito a interlocutores que fez a coisa certa ao anunciar o plano de enxugamento e que, por isso, estaria tranquilo.

Brandão chegou ao cargo por indicação de Campos Neto , mas nunca foi próximo a Bolsonaro. Uma dança de cadeiras patrocinada por Brandão na cúpula da instituição desagradou a integrantes do governo pouco mais de dois meses após sua posse no BB.

O executivo deixou o cargo de diretor de Global Banking e Markets para as Américas do HSBC, baseado em Nova York, e se mudou com a família para Brasília.

Ao longo do dia, mesmo com os apelos da equipe econômica, Bolsonaro chegou a buscar um nome para o lugar de Brandão. Um dos cotados foi Mauro Ribeiro Neto , atual vice-presidente corporativo da instituição financeira.

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