Cerca de 350 operários da fábrica da Ford em Taubaté (SP) participaram da assembleia convocada pelo Sindicato dos Metalúrgicos (Sindimetau) na manhã desta terça-feira (12). Eles decidiram manter vigílias nas portas da planta até que a montadora decida negociar com a entidade uma eventual reversão das demissões. A entidade também vai se reunir com o governo Doria para pedir pressão sobre a multinacional.
A Ford anunciou na segunda-feira o encerramento da produção de veículos no país. A empresa está presente no Brasil há 103 anos e mantinha três fábricas: em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE). A reestruturação dos negócios da multinacional na América do Sul deve resultar de imediato em 5.000 demissões, a maioria no Brasil.
Também na manhã desta terça-feira, trabalhadores protestaram contra o fechamento da unidade da Ford em Camaçari, na Bahia .
A decisão pegou de surpresa os trabalhadores, que ficaram sabendo do fato pela imprensa e por grupos de whatsapp, segundo o presidente do sindicato de Taubaté, Claudio Batista da Silva Júnior.
A planta, que fabricava motores e transmissões, tem 830 funcionários, mas já chegou a empregar diretamente 2.700 nos anos 2000. Cerca de 600 terceirizados prestam serviços à fábrica e a estimativa é que o fechamento da fábrica afete 10 mil pessoas.
Júnior e o prefeito de recém-empossado da cidade, José Saud (MDB), vão se reunir na tarde desta terça com a secretária de Desenvolvimento Econômico do governo Doria , Patrícia Ellen, para discutir como mitigar os efeitos da demissão em massa.
"O governo federal só desejou os pêsames aos trabalhadores, mas a Ford teve mais de R$ 20 bilhões em subsídios ao longo da sua história. No último ano, foram R$ 335 milhões em financiamentos do BNDES, e agora fecha e vai manter na Argentina, isso não é possível", afirma Júnior.
Nos últimos dois anos, os empregados aceitaram acordos coletivos de redução de jornada e salários, congelamento de remunerações e do pagamento da PLR (participação nos lucros) para que a fábrica pudesse manter suas atividades, segundo operários.
"A Ford vem perdendo espaço no mercado há anos e a produção foi sendo afetado, mas não acreditávamos que fosse fechar a fábrica, que tem 53 anos aqui. O pessoal sempre teve a ideia de que era uma empresa família", diz Mário Santana, 33 anos, há 11 operário de linha de produção de motores.
Clima de pessimismo
Entre os operários, o clima é de pessimismo, especialmente entre os que têm mais tempo de casa.
Ricardo de Paula, 45 anos, trabalha há nove na área de usinagem da fábrica de motores. Pai de três filhos e técnico em elétrica, ele pretende comprar um carro com a rescisão para voltar a trabalhar como eletricista autônomo.
"Meu pai passou 35 anos aqui e eu vinha quando criança para cá. Tenho um filho de 24 anos e ele se pudesse teria entrado aqui também, o salário é bom, até R$ 6.500 e PLR de R$ 14.000 a depender do tempo de casa. Agora, vai ser quase impossível manter o padrão de vida, ainda mais na minha idade", afirma.
Jennifer Chiavegati, 25 anos, entrou na Ford aos 15 como jovem aprendiz. O irmão, de 32 anos, também é operário da fábrica e o pai trabalhou na montadora por 25 anos até se aposentar, em 2018. Ela diz não acreditar em reversão de demissões .
"Conheci meu namorado aqui, a maioria dos meus amigos também, além da minha família. Agora eu pretendo empreender porque não quero mais dedicar a minha vida a uma empresa. Quero trabalhar como engenheira civil autônoma e não estou tão preocupada, mas muita gente aqui perdeu o emprego prestes a se aposentar", conta.