O Banco Central (BC) avalia que os últimos registros de inflação vieram acima do esperado, mas o choque deve ser temporário. A informação consta na Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 2% na última semana .
De acordo com a Ata, o BC espera que a inflação continue elevada em dezembro, mesmo com o arrefecimento no preço dos alimentos. A autarquia cita dois itens que devem contribuir para o aumento dos preços, a coleta extraordinária dos preços de mensalidades escolares e a bandeira vermelha nas contas de luz.
"Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente".
Na avaliação do BC , um dos principais riscos para a alta da inflação é o fiscal. Em um cenário de continuidade dos gastos extraordinários que piorem a trajetória fiscal do país ou "frustrações" na agenda de reformas da economia, o Copom alerta que os juros poderiam subir para controlar a inflação.
"O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária".
A Selic é a principal ferramenta do Banco Central para atingir a meta da inflação. Quando está abaixo da meta, o BC corta os juros, estimulando o crédito, aumentando o consumo e a inflação. Quando a inflação parece caminhar para acima da meta, o BC eleva os juros, encarecendo o crédito, que por sua vez freia o consumo, reduzindo a inflação.
Como o efeito de uma alteração da taxa Selic demora de seis a nove meses para chegar na economia real, o "horizonte relevante" para o Banco Central já é 2021 e 2022, que têm metas de 3,75% e 3,5%, respectivamente.
Atualmente, as projeções do mercado, reunidas no Boletim Focus, para a inflação estão muito próximas das metas, com 3,3% em 2021 e 3,5% no ano seguinte.
Forward guidance
Possíveis alterações nessa trajetória fiscal nem precisariam derrubar o teto de gastos para soar um alerta no Banco Central e afetar o forward guidance, instrumento do BC que consiste em utilizar a própria comunicação como uma forma de influenciar as taxas de juros. Neste caso, o BC acena que os juros continuarão baixos.
Na Ata, o BC ressalta que mudanças na política fiscal que acelerem o crescimento da dívida pública ou comprometam as âncoras fiscais já seriam suficientes para derrubar o "forward guidance".
Apesar dos alertas, o Copom avalia que as condições fiscais para o uso do forward guidance continuam de pé.
"O Copom avaliou que essas condições seguem satisfeitas: as expectativas de inflação assim como as projeções de inflação de seu cenário básico permanecem abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas".
Para o futuro, no entanto, o BC sinalizou que pode abrir mão dessa ferramenta. Nessa avaliação, a autarquia vê que com a perda da relevância do ano de 2021, cuja as projeções de inflação ainda estão abaixo da meta, e o ganho de importância de 2022, a convergência entre as projeções e a inflação pode fazer com que o forward guidance não seja mais necessário.
Na ata, o Copom fez questão de ressaltar que uma futura queda do forward guidance não significa um aumento mecânico na Selic.
"No cenário de retirada do forward guidance, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos".
Recuperação desigual
Assim como fez nas Atas anteriores, o Banco Central ressaltou que a recuperação da economia brasileira é desigual entre os setores e cheia de incertezas. Na avaliação do BC, programas de recomposição de renda como o auxílio emergencial possibilitaram uma retomada forte no consumo de bens duráveis e investimentos.
Esse cenário, na avaliação do BC, poderia fazer com que a retomada econômica seja "ainda mais gradual".
"Prospectivamente, a pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021 aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica".
No cenário internacional, o aumento dos casos de Covid-19 e a necessidade de um distanciamento social mais intenso afetam as economias no curto prazo. No entanto, no médio prazo a perspectiva é mais positiva, com os bons resultados dos testes das vacinas e os estímulos monetários e fiscais que ainda estão em funcionamento.
"A presença de ociosidade econômica por um período prolongado, associada à comunicação dos bancos centrais das principais economias, cria um ambiente de liquidez e de retorno do fluxo de capitais, favorável a economias emergentes".