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Dólar fechou semana em alta e especialista não enxergam valo abaixo de R$ 5,00 tão cedo
Arquivo/Agência Brasil
Dólar fechou semana em alta e especialista não enxergam valo abaixo de R$ 5,00 tão cedo

O ano de 2020 está sendo marcado por uma crise global. Com a pandemia do novo coronavírus , o mercado mundial foi afetado negativamente, com menos importações, investimentos e mais dinheiro gasto no combate à doença. Entretanto, algumas moedas sofreram uma depreciação ainda maior que o resto. Dentre as três mais desvalorizadas está o Real . Como resultado, temos um dólar ainda mais caro , impactando diretamente na vida de muitos, muitos brasileiros.

Apenas atrás da Zâmbia e da Venezuela , o Brasil teve sua moeda como a terceira que mais caiu de valor em 2020.  Em levantamento da agência brasileira de riscos Austin Rating, o Real foi a moeda com maior queda no período entre janeiro e setembro. A desvalorização é de, no total, 28,5% .

A pandemia da Covid-19 e a instabilidade interna são dois grandes fatores para que o Real esteja mais barato perante o dólar. O Brasil ainda tenta aprovar reformas econômicas, mas, com a incerteza sobre a aprovação dessas, os investidores estrangeiros seguem desconfiantes em aplicar seus recursos na economia brasileira.

O dólar fechou a última sexta-feira (16), no valor de R$ 5,64 e, segundo projeções não deve sair da casa dos R$ 5 tão cedo. Em entrevista ao site Uol, o professor de Economia da Unicamp Francisco Lopreato comentou a respeito de um cenário sem mudança num futuro próximo. “Não vejo um câmbio muito abaixo de R$ 5 por dólar. Pode cair ou aumentar um pouco, mas é bom se acostumar com o câmbio a R$ 5", afirma Lopreato.

Impactos para os brasileiros

Embora o dólar caro pareça uma realidade distante para muitos brasileiros, ele tem influência em tudo o que é feito no Brasil. Não apenas o câmbio para viagens ou a compra de produtos importados sofrem com os efeitos de um dólar, mas praticamente todo mercado é impactado, devido a uma rede de produção e matérias-primas que fica mais cara com a moeda norte-americana em alta.

O professor de finanças da FGV EAESP, Fábio Gallo, comenta sobre os serviços encarecidos com a moeda estadunidense valorizada. “O impacto de dólar alto sempre pega toda a cadeia produtiva e, obviamente, pega o consumidor de forma geral, comentou o professor.

“Ele (Brasil) depende muito de importação de itens e produtos inteiros, mas principalmente itens de celular, peças importadas, diversas coisas que fazemos”, disse Gallo apontando a influência dos produtos estrangeiros na economia brasileira.

A única área beneficiada pela alta do dólar no Brasil é o agronegócio , que exporta a valores maiores. Entretanto, engana-se quem acha que os lucros desse setor, oriundos da moeda estadunidense valorizada, suavizam os bolsos dos consumidores nacionais.

O professor explica que maiores preços em produtos brasileiros exportados , implica numa equiparação dos preços no mercado interno. Segundo Gallo, “mesmo a gente ganhando mais e entrando mais, a referência de preço acaba sendo a referência de preço internacional”.

“Se o arroz fica mais caro no cenário internacional, como aconteceu recentemente, o vendedor nacional vai colocar o arroz primeiro aqui no Brasil num preço mais barato ou vai preferir colocar lá fora mais caro? Vai preferir colocar lá fora mais caro. E se aqui alguém quiser comprar no mercado interno, vai ter que pagar a referência de preço do mercado internacional ”, ilustra o docente.

É grande a influência do dólar, também, sobre outras etapas do processo até que o produto chegue no consumidor, como o transporte, que é afetado por um combustível cada vez mais caro conforme o encarecimento da moeda norte-americana. Isso tudo agrega no preço de todos os itens, inclusive os de produção nacional.

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Os pequenos negócios estremecem

O real desvalorizado não é ruim apenas no bolso de quem compra, mas para as vendas dos pequenos empreendedores . Como apontado pelo professor Fábio Gallo, matérias-primas importadas, combustíveis e outros bens envolvidos na produção aumentam os custos de pequenos proprietários, mesmo não vendendo produtos estrangeiros.

Um exemplo são as padarias , que são afetadas diretamente pelo custo maior de um produto crucial para fazer o pão, o trigo . Embora seja um grande produtor agrícola, o Brasil importa grande parte do trigo que utiliza. Segundo o Ranking das Importações de Produtos Básicos foi o 4º produto básico mais importado no país no ano de 2019.

O proprietário da panificadora Portugalia, no bairro Vila Andrade, em São Paulo, SP, Rui Gonçalves, 60, comenta o aumento do custo na produção do pão . “Mais de 50% do trigo é importado. Não preciso nem falar que o reflexo do dólar no trigo é muito grande”, comentou o empresário.

O custo no meu produto aumenta . É óbvio que o trigo não representa 100% do preço do pão francês. Mas é um custo signficante”. Entretanto, Rui ainda se equilibra para não aumentar o preço do pão, mas garante que têm “muitas padarias de São Paulo que não conseguem isso”.

“Eu não repasso (o preço de custo para o de venda), porque tenho muita concorrência. Mas é difícil”, afirma o proprietário da Portugalia.

No pão, o aumento do preço foi evitado pelo dono da padaria, mas outros produtos não puderam se manter na mesma precificação. De acordo com Rui Gonçalves, o preço do leite subiu cerca de 70% neste ano, enquanto o do queijo subiu mais de 100%, ou seja, mais do que  dobrou de valor para o consumidor. 

Esses valores em alta vêm de maiores custos para transporte e muitos itens utilizados na agropecuária , produção, embalagem e outros processos desses produtos citados.

O dono da padaria comenta, ainda, que há o risco de perder clientela caso os preços continuem altos, uma vez que, segundo ele “o cliente segue tendo o mesmo dinheiro, ou até menos na pandemia, mas os produtos estão mais caros, então, se a gente aumenta (o preço) hoje, a tendência é perder cliente. É aquela história, quem antes comprava cinco, agora vai comprar quatro”.

Já Carlos Eduardo Lins, 24, dono do Mercadinho da Vila, estabelecimento localizado no bairro Vila Rica, na cidade de São Paulo, SP, diz que sofreu os impactos da moeda americana mais cara, principalmente por possuir um pequeno negócio

“Muitos produtos daqui a gente não compra do distribuidor, compramos de um atacadista. Se lá já está alto o preço do produto, aqui a gente não tem como manter a margem que a gente costuma trabalhar”, disse o proprietário.

Carlos Eduardo também conta que esse aumento nos preços o faz perder clientela, porque se tentar aumentar o valor para manter seu lucro costumeiro, os clientes preferem se deslocar até mercados maiores , mesmo que mais distantes, para pagar preços menores. 

“Ao invés de trabalhar com a margem que a gente costuma, de cerca de 30%, a gente tem que abaixar pra 10 e aí já é prejuízo , porque minhas despesas não diminuem , ou ficam iguais, ou aumentam”, completa o comerciante.

Ruim para as importações, ruim para os negócios nacionais e ruim para o consumidor. Com o Real desvalorizado e a economia dos Estados Unidos em alta, o dólar segue sem perspectiva de diminuir da casa dos R$ 5. E os efeitos no comércio devem perdurar, com custos de produção elevados.

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