Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, defendeu em entrevista que o Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, defendeu em entrevista que o Brasil "precisa mostrar que tem disciplina fiscal"

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu nesta quarta-feira (7), em entrevista para a rádio Jovem Pan, que o teto de gastos foi essencial para que o país pudesse fazer as despesas extraordinárias da pandemia. De acordo com ele, a regra fiscal permitiu que o Brasil continuasse com a credibilidade junto a investidores, porque havia o compromisso de voltar a gastar menos assim que a pandemia acabasse.

"O teto [de gastos] foi exatamente a âncora que permitiu o país a gastar mais para enfrentar o desafio da pandemia porque depois os agentes entendiam que iam retornar o teto. Quando você começa a ter uma dúvida se de fato vai retornar ou não, você não só corre o risco do não retorno, mas de precificar uma trajetória de dívida com uma estabilidade que é questionável", afirmou Campos Neto à Jovem Pan.

Na visão do presidente do BC, um gasto maior que não respeite o teto pode afetar a credibilidade do país e causar um efeito negativo no crescimento de médio prazo. Ele explica que o custo desse gasto é muito maior do que o benefício que ele gera.

"É importante entender que não tem mágica, quando você tem uma situação fiscal mais frágil, o gasto que você pensa que vai beneficiar o curto prazo, ele pode ser o elemento inibidor do crescimento de médio prazo, que é o que importa para o país", pontuou.

A fala do presidente do Banco Central acontece em meio às discussões de como financiar o Renda Cidadã , projeto do governo para substituir o Bolsa Família. Entre as opções já apresentadas pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC) e pelo governo, estão o uso de recursos reservados para o pagamento de precatórios e do Fundeb , visto por alguns como uma forma de furar o teto. A última possibilidade estudada pelo governo foi de cortar os supersalários do funcionalismo para financiar o programa .

Na comunicação oficial, o Banco Central vem ressaltando a importância do fiscal para as taxas de juros. Na última decisão da taxa básica de juros, a Selic, o BC destacou que uma piora na trajetória fiscal do país de forma prolongada poderia elevar os juros.

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"A nossa trajetória de juros está muito ligada à percepção de estabilidade fiscal. As pessoas precisam entender e a sociedade, a gente precisa comunicar isso, não tem como ter inflação baixa e a juros baixos com o fiscal desorganizado".

Campos Neto defende que há investidores internacionais interessados em vir para o Brasil, mas ressalta que é necessário ter credibilidade e, para isso, ser fiscalmente responsável. O mercado consumidor grande e a agropecuária seriam os principais chamarizes para esses investidores.

"Nossa melhora de credibilidade, melhora de percepção em relação a investidores estrangeiros, está muito ligada ao fiscal. O Brasil precisa mostrar que tem disciplina fiscal".

Inflação

Segundo o presidente do BC, a autarquia continua "relativamente tranquila" com o cenário de inflação , mesmo com as recentes altas nos combustíveis e nos preços de alimentos. Campos Neto disse que para entender melhor o fenômeno, é preciso decifrar os componentes que formam o aumento de preços.

Ele explica, por exemplo, que a inflação no varejo está muito ligada ao aumento nos combustíveis. Já na inflação dos alimentos, Campos Neto disse que é algo que está acontecendo em vários países emergentes, e citou duas razões: com o distanciamento social, as pessoas deixam de gastar com alguns produtos, como viagens, e passam a gastar mais em casa, com alimentos, por exemplo. Essa alta na demanda faz com que o preços subam. Além disso, ele menciona o auxílio emergencial .

"Tem o efeito do auxílio emergencial que a gente consegue ver segmentação no preço de alimento. Os itens que eram mais direcionados a pessoas que recebiam auxílio emergencial tiveram alta mais expressiva", citou.

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